04 Set 2019

Johnson sofre derrota grande e futuro do Reino Unido é incerto

No momento mais dramático da votação na Câmara dos Comuns, ontem, o deputado conservador Phillip Lee levantou-se de onde estava enquanto o premiê Boris Johnson discursava. Atravessou então o tapete verde da Casa para encontrar assento do outro lado, entre os Liberais Democratas. Sinalizava ali, à moda britânica, estar mudando de partido. Naquele instante, Johnson gaguejou e assim perdeu sua maioria de um único voto. Foi um dia ruim para ele. Pela primeira vez como chefe de Governo testemunhou uma votação parlamentar. E, de cara, perdeu. Por 328 votos a 301, pois até alguns conservadores se voltaram contra, o Parlamento tirou do governo o direito de pautar a sessão. O plano é, talvez já amanhã, apresentar um projeto de lei que negue a Johnson o direito de deixar a União Europeia sem ter feito com Genebra um acordo para mitigar os efeitos. Johnson não quer que Irlanda e Irlanda do Norte mantenham uma fronteira aberta. Os irlandeses britânicos querem. No impasse, o premiê não abre qual seria a alternativa. “Não há consentimento desta Casa para que deixemos a União Europeia sem algum acordo”, afirmou o líder trabalhista, Jeremy Corbyn. “Quando o primeiro ministro tiver uma política para o Brexit, ele deve apresenta-la ao Parlamento para que tenhamos uma votação pública.” (New York Times)

Vídeo: O instante em que Lee mudou de partido.

Ironia do destino, ao deixar ontem o Parlamento, a ex-premiê derrotada por Johnson, Theresa May, sorria. (Guardian)

Um balanço das pesquisas recentes indica que 46% dos britânicos votariam, hoje, para se manter na UE. 41% querem sair. Há 14% que diz não saber.

Sem permissão, Johnson aposta que sua melhor saída é uma nova eleição, que recomponha o Parlamento, e lhe garanta uma maioria para fazer o Brexit. Corbyn é impopular, e o premiê conta com este aspecto no pleito. Mas, à direita, o Partido Brexit recém-formado pode tirar dos seus Conservadores votos. E, na direção do Centro, os Liberais Democratas podem crescer mesmo que os Trabalhistas diminuam em tamanho. Não é absurdo o cenário no qual o Parlamento rache ao meio ao fim da eleição. Até porque mesmo entre os brexiters há dissenso. Uns, ultraliberais, querem implantar o modelo de Cingapura — baixos impostos para empresas, sindicatos fracos, pouca regulamentação e muitos trabalhadores estrangeiros com vistos temporários. Outros, conservadores, defendem aumento de impostos para ricos, investimento em repressão ao crime, e mais rigor com a entrada de imigrantes. Johnson não deixa claro qual visão Reino Unido endossa pós-UE. (Atlantic)

George Parker, editor de Política: “Assessores do primeiro-ministro acreditam que os Conservadores esmagariam Corbyn numa eleição. Embora as pesquisas de opinião revelem que ele de fato conquistaria algumas cadeiras trabalhistas no interior, onde o voto para deixar a UE é forte, os Conservadores podem perder suas 13 cadeiras na Escócia, que é favorável à UE, assim como podem perder no Sul para os Liberais Democratas, enquanto os Trabalhistas seguem fortes em grandes centros urbanos, incluindo Londres. Uma eleição seria muito incerta.” (Financial Times)

O presidente Jair Bolsonaro não gostou de saber que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, está nomeando gente para cargos estratégicos, tirando de seu sucessor a habilidade de fazê-lo. Seu plano, agora, é indicar até amanhã o novo chefe da PGR. No último sábado, aliás, o presidente recebeu pela quinta vez o subprocurador-geral Augusto Aras, citado como um dos favoritos. Mas, de acordo com Tales Faria, Bolsonaro teme reação negativa do MP e da opinião pública por ignorar a lista tríplice dos procuradores. Tem um plano para abafar as queixas: divulgar, no mesmo dia, seus vetos à Lei do Abuso de Autoridades, atendendo a pedidos do ministro Sergio Moro e de entidades policiais. Se quem está preocupado com corrupção ficar insatisfeito com a nomeação na PGR, espera o presidente, talvez fique feliz com os vetos. (UOL)

Até lá… Dodge tem, nas mãos, a avaliação do pedido de impeachment do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Recebeu encaminhada pelo ministro Edson Fachin e tem dez dias para se manifestar, diz Mônica Bergamo. (Folha)

Bolsonaro, aliás, anunciou uma campanha chamada Semana do Brasil. Seria uma espécie de Black Friday, com data fixa no calendário, em que lojas oferecerão descontos. “Parece que saudar a bandeira, cantar o hino nacional, até se levantar por ocasião do cântico passou a ser algo reprovável”, se queixou. Pediu então que as pessoas vistam as cores nacionais no próximo sábado, dia da Independência. “A gente apela para quem está nos ouvindo que compareça de verde e amarelo”, falou. “Lembro que lá atrás até um presidente falou isso e se deu mal. Não é nosso caso. Não é para me defender, ou defender quem quer que seja, é para mostrar para o mundo que aqui é o Brasil, que a Amazônia é nossa.” (Correio Braziliense)

Estudantes já convocam manifestações com todos vestindo preto, à moda dos caras-pintadas de 1992, conta o Painel. (Folha)

Bernardo Mello Franco: “Depois de 27 anos, Jair Bolsonaro repetiu Collor. Bolsonaro está com a popularidade em queda, mas ainda não é tão rejeitado quanto Collor em 1992. Mesmo assim, resolveu reciclar o populismo em verde e amarelo. O secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, apresentou uma campanha publicitária para exaltar ‘as cores da nossa bandeira’. Alegou que estaríamos vivendo ‘ataques à nossa soberania e à imagem do nosso país’. Com essa desculpa, o governo vai gastar mais dinheiro público para tentar recauchutar a imagem do chefe dele. Numa cerimônia esvaziada, ele disse que a ideia vai aquecer a economia, mas não apresentou nenhum número que justificasse a previsão. Também faltou explicar se o consumidor terá que cantar o hino com a mão no peito, à moda do presidente, para conseguir um desconto no balcão.” (Globo)

Míriam Leitão: “O Brasil é um país que gasta quase R$ 1,5 trilhão com suas despesas primárias e vai investir apenas R$ 19 bilhões. Terá em 2020 o sétimo ano de déficit primário, mas aumentou os salários dos funcionários nos últimos quatro anos e o próximo Orçamento veio com uma despesa de R$ 12 bilhões a mais com a folha, sendo R$ 4 bilhões de reajuste dos militares. O Brasil é o país que, depois de aprovar a PEC do teto de gastos, elevou sua despesa obrigatória em R$ 200 bilhões. Agora está diante do seguinte dilema: abandonar o teto, aumentar a carga tributária ou flexibilizar as despesas obrigatórias? Os últimos dias foram de susto nos ministérios. Todos eles olham para os dados do Orçamento de 2020 e não sabem como atravessarão o ano que vem com tantos cortes. Se a solução for apenas livrar-se do teto, então as despesas vão subir, a dívida aumentar, e o cenário é perigoso. Elevar a carga tributária ninguém quer, muito menos se a proposta for essa espécie de CPMF. A mudança no Orçamento para reduzir despesas obrigatórias é a ideia que o Ministério da Economia tem tentado propor, já sabendo que será muito difícil. Não há saída fácil.” (Globo)

O casal de ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Matheus, do Rio de Janeiro, foi preso ontem, ambos acusados de superfaturamento de contratos entre a Prefeitura de Campos, cidade que os dois governaram, e a construtora Odebrecht. O prejuízo pode chegar a R$ 60 milhões. Em nota, a Defesa do casal afirmou que a prisão “é absolutamente ilegal, infundada e a prefeitura de Campos pagou apenas pelas casas efetivamente prontas e entregues pela construtora.” (G1)

CULTURA

Enquanto isso, em Paris, um grafite do artista Banksy foi roubado no Centro Cultural Pompidou, meca da arte contemporânea da capital francesa. O trabalho roubado foi instalado na parte de trás do painel de entrada de um estacionamento, disse a instituição cultural, depois de registrar uma queixa “por roubo e degradação, dentro do seu perímetro”. O promotor público de Paris imediatamente abriu uma investigação. O britânico, um dos mais cotados em seu meio e popular também por manter sua identidade em segredo, fez barulho em junho de 2018 ao divulgar uma série de moldes para grafites com conotações políticas. Ele reivindicou a autoria de oito destas obras em sua conta no Instagram, incluindo sua versão para a pintura “Napoleão Cruzando os Alpes”, de Jacques-Louis David

As obras de Banksy são feitas na rua e para a rua. Como a maior parte das peças está em espaços públicos, o trabalho é sujeito a perenidade do tempo e, também, ao vandalismo. Conheça algumas.

VIVER

Por que o sarampo voltou e já causou três mortes em São Paulo? Em setembro de 2016 o Brasil comemorava a eliminação do sarampo em seu território. Três anos depois, a enfermidade disparou alarmes na maior cidade brasileira. “Erradicado do território brasileiro por conta das boas taxas de vacinação do passado, o vírus pouco circulou no país nos últimos anos, deixando de entrar em contato com gerações inteiras. Sem o alarme que a doença provocava antes da década de 1980, quando a vacinação começou a ser aplicada, baixou-se a guarda. E as taxas de imunização caíram. O resultado é que o sarampo chegou ao Brasil e menos gente do que deveria estava protegida. O frágil equilíbrio epidemiológico foi rompido, uma história que se repete em vários outros países, conforme alertas da Organização Mundial da Saúde. A a OPAS já considera esta a pior onda mundial de surtos de sarampo desde 2006” (El País).

Vídeo: Leo Kuchwalek tem 102 anos, mas não pensa em parar de dar aulas de natação para crianças em Berlim: “Quero envelhecer ainda mais, afinal, ainda não sou tão velho”.

COTIDIANO DIGITAL

O Senado da Califórnia está para avaliar uma lei, já aprovada na Assembleia Legislativa, que obriga apps da gig economy — como a Uber — a tratar os prestadores de serviço como funcionários com direitos trabalhistas. Uber e Lyft, sua principal concorrente americana, partiram para uma ofensiva na tentativa de reverter o resultado. Ofereceu um ganho mínimo de US$ 21 a hora de transporte de passageiros, assentimento para que se sindicalizem, e indenização para os dias de falta de trabalho por doença. Os senadores não se sensibilizaram. E o governador Gavin Newsom já informou que, se aprovada, vai sancionar a lei. É uma mudança regulatória radical para as empresas de tecnologia, que ocorre justamente em casa — na Califórnia onde fica o Vale do Silício.

O Disney+, serviço de streaming da Disney, está em testes em televisores nacionais e chega ao Brasil em 2020.

Os usuários com algum dos modelos de celular Pixel, fabricado pelo próprio Google, puderam baixar, ontem, o Android 10 — a nova versão do sistema operacional. Como nos iPhones mais recentes, será possível navegar entre aplicativos com o deslizar do dedo passando páginas. Todos os apps Google terão versão com fundo preto, que poupa bateria. As notificações passarão a aparecer selecionadas por inteligência artificial, baseadas no uso no uso de cada um.

Veja a lista por fabricante para saber quando os outros modelos serão atualizados.

O FrontNet, site europeu especializado em tecnologia, listou as 25 piores senhas que se pode usar na internet. A lista começa com 123456. Em segundo, password — ou senha, em inglês.

Fonte: @Meio

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