08 Jul 2019

Com João, morre um Brasil que passou

Um cantinho e um violão
Este amor, uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama
Muita calma pra pensar
E ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor que lindo
Quero a vida sempre assim com você perto de mim
Até o apagar da velha chama
E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade meu amor

Corcovado, letra e música de Antônio Carlos Jobim. … E a música mais tocada de João Gilberto no Spotify.

Era um jeito de tocar violão e também uma voz — um tom. João Gilberto morreu. E, com ele, se foi a memória de um Brasil — aquele de finais dos anos 1950, quando entre o futebol e a arquitetura, a música e o cinema, o país era de um cosmopolitismo só, emanava cultura e sofisticação, uma visão de futuro. João era baiano, e começou a carreira cantando sucessos no alto-falante da praça de sua Juazeiro natal. Foi crooner de vozeirão, no Rio. Fracassou. Quando voltou após um exílio transformador, em boa parte isolado na casa mineira de uma irmã, já tinha a voz e a batida, coisas novas. Tom Jobim trazia a música. E Vinicius de Moraes, a letra. A Bossa Nova começou no álbum Chega de Saudade com a música título. 1959, um ano antes de JK inaugurar sua Brasília. O show de 1962 no Carnegie Hall fez da explosão brasileira algo mundial. João se tornou folclórico, obcecado por qualidade, por silêncio. Toda geração seguinte foi por ele influenciada, incluindo o trio Caetano, Chico e Gil. Raríssimos artistas brasileiros tiveram reconhecimento como o seu — não na cultura brasileira, mas na do mundo. Passou a última década recluso, disputado em família. João morreu no Rio, aos 88 anos, e deixou três filhos — João Marcelo, Bebel e Luísa, ainda adolescente. O corpo de João Gilberto será velado hoje, entre 9h e 14h, no Theatro Municipal do Rio. O enterro será às 16h, no Parque da Colina, em Niterói. (Globo)

João Máximo: “Um dia, João Gilberto deixou o Rio para viver um misterioso exílio pelo Brasil. Cantava à maneira de Orlando Silva e voltou com outra voz, outro timbre, outro estilo. O mundo nos descobriu quando descobriu João Gilberto. A música brasileira realmente passou por uma entressafra nos anos 50. João fez parte dessa fase de transição. Viveu os últimos anos dos grupos vocais, dos vozeirões, dos crooners seduzidos pelos vibratos. E viveu, mais intensamente, como pensamento e ação, a Bossa Nova. Com esta, o surgimento (ou afirmação) de uma geração brilhante. E não uma, mas duas gerações, a de Caetano, Gil, Chico, todos tendo como guia estético João e seu violão. Bossa Nova, palavra mágica. Não foi uma reação ao samba-canção romântico, como querem alguns historiadores. Nem uma letra mais solar para as canções de amor, como dizem outros. Muito menos a adaptação de harmonias jazzísticas à moderna música brasileira, segundo os mais teóricos. A Bossa Nova foi, é e continua sendo João Gilberto.” (G1)

Ruy Castro: “Sua gravação do samba Chega de Saudade (Spotify), feita no Rio a 10 de julho de 1958 e distribuída sem alarde, tinha 1 minuto e 59 segundos de duração. Mas nunca tão pouco tempo de música significou tanto — dividiu a cultura brasileira em antes e depois. O canto a seco e sem ornamentos de João Gilberto não era propriamente novidade, mas, aliado ao violão que produzia um ritmo inesperado, à complexidade harmônica de Jobim e à sofisticação coloquial da letra de Vinicius, resultaram num todo revolucionário. A bossa nova não contou com a TV, ainda incipiente no país, enfrentou a resistência das emissoras de rádio, então poderosíssimas — mas até elas tiveram de se render. A imprensa, a publicidade, o comportamento, tudo de repente tornou-se ‘bossa nova’. Sua descoberta pelos músicos internacionais garantiu-lhe um culto que nunca mais parou. O LP Getz/Gilberto é até hoje o álbum de jazz mais vendido da história — o que é surpreendente, por ser, na verdade, um disco de bossa nova e cantado em português! De Peggy Lee e Doris Day, a Diana Krall e Stacey Kent, passando por Frank Sinatra, não houve um grande artista que não se deixasse influenciar. No Brasil dedicamo-nos a cobrá-lo — por faltar a compromissos, por não querer que o ar condicionado desafinasse seu violão, por pedir à plateia que o deixasse cantar baixinho. Assim como criou a batida de violão da bossa nova tocando sozinho no banheiro de sua irmã, em Diamantina, MG, em 1956, João Gilberto passou as últimas décadas tocando para as paredes de seu apartamento, entregue a uma missão, por definição, maluca e impossível — aperfeiçoar a perfeição.” (Folha)

Caetano Veloso: “João Gilberto foi o maior artista com que minha alma entrou em contato. Com sua voz e seu violão, ele refez a função da fala e a história do instrumento. Pôs em perspectiva todos os livros que eu já tinha lido, todos os poemas, todos os quadros, todos os filmes que eu já tinha visto. E foi com essa lente, esse filtro, esse sistema sonoro que eu passei a ler, ver e ouvir. Orlando Silva, Ciro Monteiro, Jackson do Pandeiro, Ary, Caymmi, Wilson Batista e Geraldo Pereira não teriam sido o que são não fosse por João Gilberto. O mundo não existiria. Sobretudo não existiria para o Brasil. Que era uma região ensimesmada e descrente da vida real fora de suas fronteiras. João furou a casca.” (Facebook)

Maria Lúcia Rangel: “Em 1964, já cantando na noite parisiense, Miúcha foi avisada de que uma pessoa importante estaria presente na La Candelária. Meio escondido atrás de uma cortina, João Gilberto ouvia a jovem brasileira. Como naquela época as fotos eram raras, Miúcha acabou reconhecendo o ídolo pela voz, quando ele foi conversar com ela depois do show. Saíram em grupo, enfiaram-se todos num único automóvel, e ela recebeu a proposta de João, irrecusável: ‘Quando o carro parar num sinal, você sai por uma porta e eu pela outra. E vamos correr.’ Assim foi feito, e o namoro começou naquela mesma noite. Arranjaram um violão, e Miúcha pôde ouvir João Gilberto cantando só para ela.” (Facebook)

Uma playlist para celebrar João Gilberto.

Mais do mesmo de Stranger Things? Segundo crítica do El País, em boa parte, sim, mas funciona e diverte, que é o que pretende. Mais do mesmo, mas maior, com mais ação (uma das coisas que mais se destacam nesta temporada), novos cenários e bons novos personagens.“Os oito capítulos são uma maratona de férias muito divertida dirigida aos fãs da série.”

POLÍTICA

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, passou o fim de semana articulando com deputados. Quer votar o texto da reforma da Previdência ainda esta semana. São precisos pelo menos 308 votos dos 513 parlamentares em dois turnos. Ele decidirá se fará a segunda votação ainda antes do recesso dependendo de quantos votos tiver no primeiro. Se a margem lhe parecer confortável — não declarou qual seria —, aprova e envia para o Senado este semestre. (Poder 360)

Os números do Datafolha publicados hoje indicam que, em seu sexto mês de governo, se estabilizou a popularidade do presidente Jair Bolsonaro. 33% dos brasileiros consideram que faz um trabalho ótimo ou bom, 31% o veem regular e, 33%, ruim ou péssimo. Realizada entre 4 e 5 de julho, em 130 cidades, a pesquisa ouviu 2.860 pessoas e tem margem de erro de dois pontos percentuais. É o pior índice de aprovação em início de mandato desde a democratização, mas parece ter encontrado uma base de apoio fixa para Bolsonaro equivalente àquela com a qual o ex-presidente Lula conta. O Datafolha também perguntou sobre os vazamentos da Lava Jato. 58% dos ouvidos acreditam que a conduta do ex-juiz Sergio Moro foi inadequada; 31%, adequada. A avaliação de Moro como ministro, que era de 59% ótimo e bom em abril, caiu para 52%. Mas o número de brasileiros que considera a condenação de Lula injusta oscilou pouco. De 40%, em abril, subiu a 42%, em julho. (Folha)

Repórteres da Veja mergulharam no banco de dados com os diálogos vazados ao Intercept Brasil: analisaram 649.551 mensagens e descobriram vários outros momentos nos quais Moro auxilia o Ministério Público. E num, particular, o então juiz parece ter ocultado provas do Supremo — ou, ao menos, é o que se depreende da conversa entre um procurador e uma delegada. “Embora as conversas mostrem que Moro cometeu infrações”, afirma a revista, “os crimes punidos ao longo da Lava Jato gozam de vasta coleção de provas.” (Veja)

Em nova reportagem baseada nos vazamentos, a Folha informa que, em agosto de 2017, Moro sugeriu a Deltan Dallangol tornar públicas as informações da Odebrecht sobre propinas na Venezuela, interferindo na política local. “Haverá críticas”, respondeu Deltan, “mas vale pagar para contribuir com os venezuelanos”. (Folha)

Sai hoje o segundo lote de restituição do Imposto de Renda. Confira

VIVER

Com um a menos no 2º tempo, o Brasil venceu o Peru e conquistou sua nona Copa América, diminuindo a vantagem para os líderes Uruguai (15) e Argentina (14). Após a vitória por 3 a 1, Tite comemorou a conquista e aproveitou o momento para responder as acusações feitas por Messi, após expulsão contra o Chile, na Arena Corinthians, de que a competição estava armada para o Brasil. “Aquele que reputei como jogador extraordinário (Lionel Messi), extraterrestre, coloquei dessa forma, ele tem que ter um pouco mais de respeito e tem que entender e aceitar quando é vencido”. Assista aos melhores momentos de Brasil 3 x 1 Peru.

Galeria: as melhoras fotos da comemoração da seleção feminina dos EUA. A equipe venceu a Holanda e conquistou, ontem, o quarto título mundial. Capitãs de suas seleções, Megan Rapinoe e Van Veenendaal foram os principais nomes da final. Pelos resultados apresentados pelas emissoras de TV em todo o mundo, com recordes de audiência, a expectativa é de que o futebol feminino ganhe maior apoio da Fifa a partir desse mundial na França. A partida Brasil x França, por exemplo, foi assistida por mais de 35 milhões de espectadores no Brasil e outros 10,6 milhões na França, superando o jogo EUA x Japão da Copa de 2015, com público estimado de 25 milhões de pessoas nos Estados Unidos e recorde anterior. No Reino Unido, EUA x Inglaterra foi visto por 11,7 milhões de espectadores, a maior audiência da BBC no ano.

Saída para o aquecimento global é plantar 1 trilhão de árvores, dizem cientistas do Instituto de Tecnologia de Zurique, na Suíça. Elas ocupariam uma área de 900 milhões de hectares, o que equivale a todo o território dos EUA – e absorveriam 2/3 das emissões humanas de CO2, o que seria mais do que suficiente para frear o aquecimento global. De acordo com os pesquisadores, que fizeram os cálculos a partir de 78 mil imagens de satélite, há espaço para plantar todas essas árvores sem precisar desocupar áreas agrícolas e urbanas. Os países com maior potencial de reflorestamento são a Rússia (que poderia contribuir com 151 milhões de hectares), os EUA (103 milhões), o Canadá (78,4 milhões), a Austrália (58 milhões), o Brasil (49,7 milhões) e a China (40,2 milhões).

COTIDIANO DIGITAL

Um estudo de professores da Universidade Fullbright do Vietnã, baseado num conjunto de currículos vazados na China, revelou ter descoberto alguns funcionários da Huawei que são, simultaneamente, também funcionários do Ministério de Segurança do Estado. Questionada por repórteres do Financial Times, a companhia afirmou que todos os candidatos a emprego que têm afiliações militares no currículo têm de provar não estar mais a serviço do governo antes de serem contratados. O estudo já alimenta a polêmica acusação, por parte dos EUA, de que os equipamentos de infraestrutura 5G da Huawei servem à espionagem chinesa.

Fonte: @Meio

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