11 Mai 2019

Maomé e a violência do Islã

Para ler com calma: Maomé, o profeta fundador do Islã, morreu no ano 632 da era atual. Pouco mais de um século depois, seus seguidores controlavam um império que ia do sul da França à Índia, incluindo todo o Norte da África e o Oriente Médio. O furor expansionista do Império Árabe cristalizou na mente europeia a ideia de que a religião que impelia os invasores era inerentemente violenta e bárbara, independentemente de suas práticas de justiça social e relativa tolerância religiosa que não eram comuns na Europa. A “violência” do Islã era um contraponto ao discurso oficial de amor e paz da Cristandade, o que reforçava a ideia de inimigos além dos muros.

De que forma essa visão mudou? Para Philip Almond, professor emérito de História do Pensamento Religioso na Universidade de Queensland (Austrália), o Ocidente – termo que substituiu a Cristandade – vem assistindo, desde o século XIX, a uma inflexão no olhar sobre o Islã, culminando com o discurso do presidente George W. Bush, após os ataques que 11 de setembro de 2001, no qual ele afirmava que os terroristas não representavam a fé muçulmana, uma religião de paz.

Almond lembra que a imagem do Islã varia conforme a ideologia dominante. A crescente predominância militar europeia, especialmente a partir do século XVIII, tornou obsoleto medo de uma iminente invasão muçulmana. Com o colonialismo, a maré virou e os antes “ferozes muçulmanos” passavam a ser apresentados como indolentes, atrasados e degenerados, no ponto para o processo civilizatório dos civilizados ocidentais.

Quase vinte anos depois do discurso de Bush, o Islã volta, na avaliação de Almond, a inspirar medo, insuflado por discursos nacionalistas e pelo temor do terrorismo. Mais que uma ameaça militar, ele é pintado como um “risco cultural”, uma negação dos “valores ocidentais”, motivando reações que vão da promessa do então candidato Donald Trump, em 2015, de barrar a entrada de muçulmanos nos EUA ao massacre de Christchurch, na Nova Zelândia, onde 50 pessoas foram assassinadas numa mesquita por um supremacista cristão de extrema-direita.

Como é criar quadrigêmeos? “Amor e caos”, disse @jackiemolloy13, que tem documentado a família Larson nos últimos cinco anos. A galeria de imagens está mais pra amor…

BRASIL E ARMAS, UMA RELAÇÃO COMPLICADA

Até os anos 90, comprar arma no Brasil não era coisa de outro mundo. “É um prazer usar esse rifle Remington”, dizia um anúncio. “Eu não teria medo se possuísse um legítimo revólver da marca Smith & Wesson”, dizia outro, com a imagem de uma mulher assustada dentro de casa. “Passe as férias com segurança, venha até a Mesbla conhecer as últimas ofertas da Taurus”. Muitos locais públicos ofereciam, até, uma chapelaria exclusiva para guardar os revólveres ou pistolas dos clientes. O porte de armas era comum e o discurso de ‘combater a bandidagem’ o mesmo. Basta olhar os anúncios. Mas anos em que a população podia se armar foram também de crescente violência, segundo dados do Ministério da Saúde e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. De 1980 até 2003, as taxas de homicídios subiram em ritmo alarmante, com alta de aproximadamente 8% ao ano. Em 1983 o Brasil tinha 14 homicídios por 100.000 habitantes. Vinte anos depois este número mais do que dobrou: alcançando 36,1 assassinatos para cada 100.000. Atualmente a taxa está em 29,9 o que pressupõe que o desarmamento não reduziu drasticamente os homicídios, mas estancou seu crescimento.

Entre pesquisadores, é quase unânime o entendimento das armas como fator “criminogênico”. Em 2016, mais de 60 especialistas em violência assinaram manifesto reconhecendo que estudos suficientes evidenciaram a relação entre armas e mortes. Um deles, do economista Daniel Cerqueira, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), concluiu que 1% a mais de armas gera quase 2% a mais de assassinatos. “Quanto mais medo as pessoas sentem e mais homicídios ocorrem, mais elas se armam. Quanto mais se armam, mais mortes teremos”, afirma. Ele destaca que ao contrário do que frequentemente se diz, a maior parte dos crimes com morte não são praticados pelo ‘criminoso contumaz’, mas por pessoas que, em um momento de ira, perdem a cabeça. Estudiosos também concordam que o Estatuto do Desarmamento cumpriu o papel de reduzir homicídios, mas alguns entendem que a lei teve implementação falha em diversos estados, o que acabou alimentando o discurso que prega o seu fim.

Para Ilona Szabó e Melina Risso, especialistas em segurança pública, o assunto é sério demais para ser tratado como um tema polarizante. “Em primeiro lugar, é muito importante esclarecer o que a lei de controle de armas (lei n.10.826, de dezembro de 2003) diz, porque muita mentira sobre ela tem sido espalhada em diferentes meios”. Ao contrário do que seu nome fantasia sugere, o Estatuto do Desarmamento não desarma o cidadão. Ele ainda pode, isso mesmo antes do decreto de Jair Bolsonaro, ter uma arma de fogo. Aliás, se você tem mais de 25 anos, pode ter até seis armas. O Estatuto restringiu o direito ao porte, o que significa que cidadãos comuns não podem andar armados nas ruas. “Isso faz todo o sentido. A ideia de que armar civis torna as sociedades mais seguras é um mito”. E é exatamente este o ponto do decreto de Jair Bolsonaro. Agora, agentes de segurança e promotores, políticos de todas as esferas de poder que tenham mandato eletivo, jornalistas, agentes de trânsito, motoristas de veículos de carga, proprietários rurais e até conselheiros tutelares terão o direito de andar armados.

Outro ponto fundamental que deve ser considerado, sobretudo pensando em termos de país, é que a arma de fogo tem papel central nos assassinatos no Brasil; 72% deles acontecem com esse tipo de artefato, comparados a uma média mundial de 35%. Ou seja, no caso brasileiro, a arma de fogo é um importante fator de risco.

No capítulo ‘Armas sob controle – polêmica ou fato’ do livro Segurança pública para virar o jogo, Szabó e Risso são categóricas ao defender que precisamos regular de maneira sensata as armas de fogo e munições no Brasil. “Armas são instrumentos de ataque e raramente de defesa”. Luís Roberto Barroso, ministro do STF, assina o prefácio e ressalta a maneira aberta, respeitosa e estatisticamente documentada com que as autoras constroem seus argumentos ‘sem preconceitos, moralismos ou slogans populistas’.

Goiânia, 2017, Colégio Goyases. Um adolescente de 14 anos, filho de policiais militares, usou a arma da mãe, escondida na mochila, para supostamente matar um desafeto da escola. Depois, segundo relato do próprio atirador à polícia, ele perdeu o controle e sentiu vontade de matar mais, atingindo outros colegas. Matou dois, entre eles um amigo, e feriu outros quatro. Um ano depois, sobreviventes falaram em ‘trauma eterno’. Hoje, uma delas está paraplégica, outra precisou se mudar para os Estados Unidos, e apenas uma continuou na escola. Todos têm um ponto em comum: estudar, realizar sonhos e aprender a conviver com a dor.

Junho de 2016, Orlando, Flórida. Um atirador invade um clube gay no mais mortal atentado a tiros múltiplos da história americana. Ao discursar pela 13ª vez sobre um ataque a tiros em oito anos de governo, Barack Obama reforçou o apelo a respeito de uma das questões que mais gerou polêmica em seu governo: a legislação sobre armas.”O dia de hoje marca o tiroteio mais mortal que já tivemos na história dos Estados Unidos. Isso é também um lembrete sobre como é fácil para alguém colocar as mãos em uma arma e atirar em pessoas numa escola, numa igreja, num cinema ou em uma boate”, afirmou Obama.

Enquanto isso, na Nova Zelândia, o Parlamento aprovou um projeto de lei para restringir a posse de armas no país. A votação, que aconteceu em abril, um mês após ataques a mesquitas, teve apoio de 119 dos 120 congressistas, tanto liberais quanto conservadores.

É possível pensar, não do nosso ponto de vista, mas da perspectiva de tudo que vai embora em cada uma dessas tragédias? Palavras, sonhos, vozes; um mundo de coisas delicadas completamente opostas à brutalidade.

No poema Os ombros suportam o mundo, Carlos Drummond de Andrade descreve a dureza de observar tempos de crueldade tendo o narrador que se tornar insensível para suportar o sofrimento. “Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação”.

Por que voltar a versos publicados em 1940? Porque é esta a força atemporal da literatura. Ela ultrapassa diferenças entre regiões e países, entre o local e o universal. É também uma visão simultânea do mundo. Seja aqui, numa escola em Goiânia, seja nos Estados Unidos, numa boate em Orlando. Com efeito, seus versos ainda tem muito a nos dizer. “Esse é tempo de partido, tempo de homens partidos”. Este é nosso tempo. Um tempo em que a selvageria reduz arma a liqüidificador…

Ouça a voz de Drummond declamando o poema.

E COMO NÃO HÁ DE FALTAR, AS MAIS CLICADAS DA SEMANA:

1. Bored Panda: Nem Ruth, nem Raquel… os vencedores do Texas SandFest, maior concurso de esculturas de areia dos Estados Unidos.

2. Malaysia Tatler: Galeria: Os doze casamentos mais memoráveis da Ásia.

3. Folha: Um copo da Starbucks foi esquecido em uma cena de Game of Thrones.

4. BR18: E Weintraub levou a internet ao delírio ao confundir, diante dos senadores, o escritor tcheco Franz Kafka com “kafta”.

5. Folha: STF tem na pauta ações que somam R$ 147 bi de gastos extras para União

Fonte: @Meio

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