25 Mai 2019

Tempos de guerra comercial

Nestes tempos de guerra comercial se fala muito do impacto das tarifas nas grandes empresas, mas startups também são afetadas, e em alguns casos de forma até mais severa. Brad Feld é um dos mais reconhecidos investidores fora do Vale do Silício e escreveu essa semana sobre o assunto em seu blog.

Brad Feld: “Temos uma série de empresas de hardware em nosso portfólio, por conta disso tenho vivido nos últimos trimestres em um mundo de ‘como lidar com essas novas tarifas?’ No início, fantasiei que poderia ignorar e esperar que elas fossem embora. Então tentei descobrir uma forma de escapar delas. Agora percebemos que temos que encarar a realidade do aumento de custos. Ficou claro, já, que startups estão em desvantagem perante grandes empresas, que já possuem esforço de lobby junto ao governo. Tentamos abrir canais de relacionamento, mas o que ouvimos foi que somos pequenos demais e irrelevantes para termos atenção. Vamos precisar pagar essas tarifas. Começamos a observar como outras empresas, especialmente as grandes, estavam lidando com o assunto. O que descobrimos é que, claro, as grandes empresas estão todas repassando esses custos para seus clientes. Algumas incorporam no preço do produto, outras, principalmente as que operam em mercados B2B, estão lançando como um custo extra, junto dos impostos. Uma terceira prática é inserir as tarifas nos custos de envio. Quase ninguém está absorvendo este custo novo. Startups têm de fazer o mesmo.”

Enquanto isso… Dra. Leah Clark, que é professora de história da arte da Open University, no Reino Unido, explora pistas na pintura renascentista italiana para mostrar como a globalização do mundo era avançada em pleno século 16. Das porcelanas chinesas pintadas nos quadros de Bellini ao tapete oriental presente em um afresco de Ghirlandaio em uma igreja de Florença.

Não é comum uma personalidade política falar sobre sua própria imagem, especialmente, na presença dos fotógrafos que o acompanharam. Pelo menos, até virar ex-presidente da República – caso de François Hollande.“Os artigos passam, as imagens permanecem: elas fazem história”, filosofou para brincar depois.“Subi a Champs-Elysees de carro. A chuva se transformou em tempestade, a tempestade em granizo”. Sem o peso do cargo, Hollande participou na última segunda-feira do encontro L’instantané politique, em Paris. Com ele, estavam os fotojornalistas Sébastien Calvet, Marc Chaumeil, Raymond Depardon, que fez seu retrato oficial, Jean-Claude Coutausse e Laurence Geai; ambos colaboradores do Le Monde.Todos acompanharam, durante vários meses ou anos, sua trajetória. De presidente do conselho geral de Corrèze e prefeito de Tulle, a primeiro secretário do Partido Socialista e, finalmente, presidente da França em 2012.

No papel de presidente, sob lentes atentas, olhar para o céu ou para o chão, é também correr o risco de estar sujeito às mais diversas interpretações; não só um líder, mas um país inteiro. “O menor gesto e ouvia as máquinas. Claclaclac. Foi necessário controlar minhas atitudes”, descreveu o próprio. “A encarnação presidencial é a desencarnação humana”, profetizou ironicamente, à distância. À medida que os fotógrafos decifravam as ‘entrelinhas’ da fotografia política – falando sobre o desenrolar da história, o ângulo certo, sem esquecer o objetivo principal – François Hollande descrevia, cronologicamente, como sua ‘liberdade’ ficou comprometida por conta da responsabilidade do cargo. Liberdade que, até 22 de abril de 2012, permitia a Hollande saltar de uma plataforma em Tulle enquanto os membros de sua equipe gritavam: “François, não!”.

Do outro lado, os fotógrafos expressavam seus dilemas quando se trata de narrar o exercício do poder. “Devemos mostrar tudo? E esse tombo durante uma viagem ao Haiti? Essa imagem ‘íntima’ do presidente dormindo por alguns minutos no carro?”. Muitos debateram, ainda,  a privacidade no Eliseu – no caso das imagens publicadas após o mandato de cinco anos. François Hollande defendeu as fotos que mostram “um lugar que os franceses não conhecem” . Como seu escritório pessoal, esvaziado alguns dias antes da entrada de seu sucessor, Emmanuel Macron.

Um pequeno histórico. O socialista, durante sua posse, procurou sempre o público, mesmo sob chuva e frio. Chegou ao palácio em um Citroën DS5 híbrido (elétrico e a diesel) que, sem o habitual cortejo de segurança, até respeitava os semáforos. O próprio aparece ensopado em diversas fotos.

Brasília, janeiro de 2011. Lula e Dilma se olhando com cumplicidade durante a passagem da faixa presidencial foi o registro feito na ocasião pela maioria dos fotógrafos durante a posse. No corte do veterano Orlando Brito, porém, há um terceiro elemento que confere à cena outro sentido. É Michel Temer. Em pé, ao mesmo tempo próximo e distante de tudo. “Fotografia de política tem muito mais de futuro do que de passado”, disse Brito à revista Piauí.

Brasília, março de 2016. Naquela manhã, havia uma possível foto a ser feita e Orlando Brito, então com 66 anos, e 51 de profissão, estava ansioso para não perdê-la. O objetivo: flagrar a presidente Dilma Rousseff pedalando pela manhã. Dificilmente seria um grande furo, mas era um dia diferente. Na véspera, o PMDB, do vice Michel Temer, rompera oficialmente com o governo. “Eu não venho fotografá-la pedalando, já tenho um monte dessas fotos. Eu estou fazendo história, porra”. Brito estava com Lucia e Carol, duas câmeras alemãs da marca Leica, do modelo Typ 114. Oitenta anos antes, Henri Cartier-Bresson começou a usar a sua Leica 35mm, com lentes de 50 milímetros. “Eu venho quando tenho feeling. Feeling é importante no jornalismo”. O feeling do fotógrafo estava certo: Dilma apareceu pedalando sua bicicleta preta. Parecia um roteiro acordado previamente. Mas não. Depois de dias fazendo aquela pauta, Brito havia decifrado o trajeto escolhido pela então presidente. Era o único fotógrafo por ali naquela manhã.

Desde 1965, Orlando Brito fotografa a República de Brasília. Nenhum presidente desde então escapou de suas lentes. Aos 15, uma tia apareceu em sua casa com o marido, o fotógrafo Roberto Stuckert. O jovem passou a auxiliar o parente, carregando a bolsa com o equipamento fotográfico, e conseguiu um emprego no Última Hora. Um dia faltou fotógrafo para uma pauta, e a missão caiu em suas mãos. Sua primeira foto, um prenúncio do que viria pela frente na sua carreira, foi do general Castello Branco, o primeiro dos presidentes da ditadura militar. Não saiu na capa, mas foi publicada no corpo do jornal. De todos os poderosos que fotografou, Brito tem um predileto: Ulysses Guimarães. Aqui, a reportagem completa, publicada em maio de 2016 pela revista Piauí.

Por falar em fotografia política, mostramos em abril a foto da foto. No caso, a imagem de um grupo de jornalistas refletida pelos olhos de Donald Trump, durante uma coletiva. Um reflexo também sobre o atual contexto político? Quem sabe…Surpreendentemente, a imagem não foi planejada pelo fotojornalista.“Trump se movimentava muito enquanto respondia as perguntas e a luz do sol não estava favorável pra mim”, disse Pablo Martínez Monsiviáis, que cobre a Casa Branca desde o governo Clinton e trabalha há duas décadas com a Associated Press.

Galeria. A eleição na Índia. A fúria destrutiva de um tornado em Jefferson City, Missouri, EUA. Uma baleia morta numa praia da Califórnia. Um garfo gigante dentro do lago Genebra, na Suíça. Estas são as 21 fotos que marcaram a semana no mundo segundo os editores do Buzzfeed.

Uma playlist só para os fãs de Star Wars. E outra playlist, esta não necessariamente só para os fãs de Stranger Things. De Duran Duran à Dolly Parton.

A HISTÓRIA DA HUAWEI E DE SEU MISTERIOSO FUNDADOR

imagem é de um caça, um avião de guerra modelo anos 1940, que tem as asas e o rabo metralhados, danificados, mas segue voando. “Encontrei a fotografia no site Wukong Q&A”, explica o fundador da Huawei, Ren Zhengfei. “Sinto que esta é a situação da companhia, por isso decidi enviar para todos os funcionários, e eles próprios reencaminham para outras pessoas. Estamos nos preparando faz dez anos para isso. Nossa situação atual é essa: consertar o avião sem parar de voar.” A companhia que fundou, quase 200 mil funcionários pelo mundo, anda assim. Cheia de metáforas de guerra. Por esses dias, num site interno, um dos funcionários publicou o trecho de Braveheart onde o líder escocês William Wallace, interpretado por Mel Gibson, convence um grupo de soldados a enfrentar o batalhão aparentemente muito mais forte dos ingleses. É daquelas cenas de cinema com música sinfônica crescente, discurso inspirador, um tom geral de juntos somos fortes. “Tenho contado muito duas histórias, as da Alemanha e do Japão após a Segunda Guerra”, fala Ren. “O slogan japonês era ‘enquanto o povo ainda estiver aqui, ele pode reconstruir sua glória’. Isto é o mais importante. Tudo o que não podemos perder são nossas pessoas. Sua qualidade, suas habilidades, sua confiança são o mais importante.” Não são, as metáforas de guerra, talvez de todo inapropriadas. A Huawei, afinal, está sob ataque, pinçada como símbolo principal da China pela Casa Branca de Donald Trump.

Aos 74 anos, Ren Zhengfei é uma figura icônica na China de hoje. Fotografias suas circulam nas redes sociais — numa se equilibra em pé num ônibus, noutra aguarda um táxi na fila de saída do aeroporto. “Não havia qualquer assistente, nem um motorista esperando para ele”, comenta o fotógrafo. O bilionário recluso que criou a maior empresa de tecnologia do país é constantemente citado como exemplo de humildade. Trata-se de uma característica, dissimulada ou sincera, muito valorizada entre chineses. E sua vida, assim como a história da empresa que fundou, se misturam com os últimos três quartos de século no país.

Ren nasceu em 1944, no sul, uma das regiões mais pobres naqueles anos imediatamente anteriores à marcha de Mao Zedong que iniciou a revolução comunista. Seus pais eram professores, e foi com eles que fez os primeiros estudos — um menino maltrapilho com só duas roupas, constantemente remendadas. Não era miserável. O avô, que teve um pequeno negócio de defumar presuntos, havia conseguido mandar o filho para a universidade. Seu pai era o único da aldeia que estudara tanto. Ren sobreviveu à fome de finais dos anos 1950, formou-se engenheiro na Universidade Chongqing, e se juntou ao Exército no tempo da Revolução Cultural. Não era, porém, membro do Partido Comunista. Seu pai, que fora um devoto comunista no início e se tornou contador nas fábricas militares, era percebido como com suspeitas tendências capitalistas. Gente assim, cujo instinto parecia se voltar para o lucro, estava entre os vistos como párias na China de Mao. Ren podia ir crescendo lentamente entre militares, mas enquanto o grande timoneiro estivesse no comando, quem tivesse seu histórico familiar não poderia entrar para o partido, o que limitava ascensão.

Foi em 1978, quando Deng Xiaoping assumiu o poder, que ele pôde se afiliar. Havia desenvolvido um maquinário que aumentava a eficiência de uma fábrica de roupas que lhe mandaram montar. Como membro do pelotão de engenheiros do Exército de Libertação Popular, seu trabalho por aqueles tempos era esse: erguer fábricas pelo país. E foi o que fez até que, em 1983, decidiu-se desmobilizar o pelotão de engenharia. O processo de industrialização da China, a partir dali, seria tocado por civis. Casado, com duas filhas pequenas, o tenente-coronel da reserva Ren Zhengfei mudou-se para Shenzhen, não muito longe de onde havia se criado para padrões chineses.

“Naquela época”, ele contaria depois, “a China estava migrando de uma economia planejada para uma de mercado. Nem gente como eu, nem as pessoas do governo, tinham a mais vaga ideia de como funcionava uma economia de mercado. Parecia muito difícil sobreviver nela.” Foi com pouco mais de seis mil dólares que fundou a Huawei, em 1987. A palavra tem dois significados — ‘conquista esplêndida’, por um lado, ‘capacidade chinesa’, por outro. Sempre que podia e lhe caíam na mão, Ren lia livros sobre a Europa e sobre os EUA, sobre suas práticas de negócio e a história, sobre as leis. Era um estudante atento e esforçado. Vendia telefones na China rural, telefones de disco pesados, já obsoletos no ocidente. “Perdi muito dinheiro, me deram voltas, me enganaram. Mas acabei aprendendo.” Em pouco tempo, de revendedora a Huawei se tornou fabricante — e cresceu. Um contrato para fornecer equipamento de telecomunicações para o Exército lhe permitiu que, em 1995, faturasse já US$ 225 milhões por ano. Dentre aqueles pioneiros que iniciaram indústrias nos anos 1980, quem sobreviveu com fôlego foi então pinçado pelo governo. Em 1996, a Huawei foi designada ‘campeã nacional’ — fornecedora exclusiva, com o mercado fechado para estrangeiros. Em 2000, a empresa se tornou exportadora e, em 2005, as vendas internacionais já ultrapassavam as locais. “Não pense que a Huawei é o que é por conta de conexões com o governo”, diz o fundador. “Até companhias estatais quebraram neste período. Boas conexões não garantem sucesso. Nós trabalhamos duro.”

A Huawei, hoje, é a maior empresa de equipamento de telecomunicações do mundo. No negócio dos smartphones, é a segunda — a Samsung a vence. Agora, banida pelos EUA, proibida de ter relações com qualquer empresa americana, a Huawei está se mexendo. Um dos sinais é justamente a presença de Ren. Conhecido por ser recluso, nos últimos meses tem aparecido cada vez mais, dando entrevistas para a imprensa chinesa e para a americana. Sempre que fala da filha mais velha, a CFO Meng Wanzhou que foi presa no Canadá a pedido dos EUA, em dezembro, ele se emociona. “Sinto muitas saudades dela”, ele conta. “Não sabemos que informação o Departamento de Justiça dos EUA e o Departamento de Justiça do Canadá estão trocando. Talvez, no futuro, quando as provas vierem a público, entenderemos por que escolheram minha filha como alvo.”

Aparecer mais tem a ver com uma política de aumentar a transparência. Enquanto os americanos alimentam no mundo a desconfiança a respeito da companhia, que acusam sem provas de espionagem, Ren precisa agora aprender como tocar um negócio global. E o seu tem muitas peculiaridades. A Huawei tem o capital fechado, mas ele próprio detém apenas 1,42% das ações. O resto é distribuído entre os funcionários que atuam na China — a legislação proíbe que os papéis sejam também distribuídos fora. Não é, porém, como o compartilhamento de ações que startups do Vale do Silício promovem. As ações são geridas por uma espécie de sindicato dos trabalhadores, e a cada um é destinado um número de papeis quando da contratação. Ganham mais de acordo com seu crescimento, uma forma de bônus. Recebem, anualmente, dividendos. Mas não podem vender as ações e, quando deixam a Huawei, devem vende-las de volta para o sindicato. É um estímulo à produção e à permanência.

O campus atual (vídeo), dividido em doze ‘aldeias’, foi descrito certa vez por um jornalista da BBC como o Vale do Silício reimaginado por Walt Disney — cada um dos doze centros foi reerguido simulando uma cidade europeia. Tem Roma e Paris, um trem interno, um grande lago artificial e uma incrível vontade de ser Ocidente sem nunca deixar de ser chinês.

Nestes dias, se por um lado Ren Zhengfei se esforça para parecer mais um executivo global, por outro seus instintos militares estão atiçados. O discurso externo é de que a Huawei é uma empresa como outra qualquer, competitiva, preparada para disputar os mercados de alta-tecnologia. Para a qual, diz qualquer um, espionar seria a pior das ideias — se um único país provar que a Huawei ajuda a espionagem chinesa, seu negócio acaba instantaneamente. Por outro, as longas horas de trabalho chinesas e o espírito de quem se prepara para uma guerra está a toda.

Nesta última semana, o presidente americano Donald Trump afirmou que o mercado dos EUA pode voltar a se abrir para a Huawei. Dependerá da negociação com o governo, em Beijing. No último dezembro, enquanto Mei era presa no Canadá, o presidente Xi Jinping fez uma grande festa para os cem ‘pioneiros da reforma’, aqueles com contribuições extraordinárias para a China de hoje. Ren não estava na lista — um sinal, para quem lê os sinais no País do Centro, de que a proximidade entre CEO e presidente não anda em seus melhores momentos.

E FECHANDO A EDIÇÃO, O QUE MAIS AGUÇOU A CURIOSIDADE DE NOSSOS LEITORES ESSA SEMANA:

1. Twitter: “Porque para conversar com um doido, só outro doido” (deputado Pastor Sargento Izidoro, Avante/BA)

2. Época: Lula revela estar apaixonado.

3. Artnet: Identificado o desenho mais antigo de Michelangelo, quando tinha entre 12 e 13 anos.

4. Nova York & vcHudson Yards, o novo point de Manhattan.

5. Dezeen: Galeria – uma casa dentro de uma pedra.

Fonte: @Meio

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