30 de Abril de 2020

SOS ESTADOS

O acordo para enviar ajuda financeira a estados e municípios está quase concluído. O ministro da Fazenda, Paulo Guedes, declarou que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, compreendeu a necessidade de estabelecer contrapartidas para receber os recursos da União. Estão previstos cerca de R$ 130 bilhões. A exigência é que não haverá aumento de salários de servidores públicos por 18 meses. A informação foi repassada por Guedes em uma transmissão pela internet, organizada na terça feira (28.04), pelo setor varejista. A exceção à regra será apenas para “médicos, enfermeiros, policiais militares, todo mundo que está na rua ajudando a população a lutar contra o vírus”, disse o ministro.

FACT-CHECKING

O cerco contra as fakes news começa a apertar cada vez mais. A gigante YouTube informou que está expandindo sua ferramenta de verificação. Nos EUA, por exemplo, as pesquisas relevantes deverão vir acompanhadas de artigos de verificação dos fatos ou “fact-checking”. A medida já existe há um ano no Brasil e na Índia e conforme a empresa, está sendo ampliada para controlar a desinformação durante a pandemia da Covid-19.

CULTURA

Seria o isolamento?! De acordo com números da Alpha Data, o provedor de análise de dados do Rolling Stone Charts, algumas músicas estão ‘voltando’. Enquanto clássicos como Stand by Me, de Ben E. King, e With a Little Help From My Friends, dos Beatles, não saíram do topo, outras avançaram. A Rolling Stone examinou quais faixas tiveram os maiores picos. Destaque para o Joy Division, com Isolation que registrou aumento de 112% no streaming desde de 6 de março, a primeira semana do isolamento social. A lista.

COTIDIANO DIGITAL

Com o distanciamento social, o dinheiro físico tem perdido espaço. Mais da metade dos consumidores americanos disseram que agora usam alguma forma de pagamento digital, de acordo com a Mastercard. A tendência vem em parte por causa de preocupações com a saúde, para evitar tocar em maquininhas, por exemplo. Mas pode ter vindo para ficar: 56% disse que continuará utilizando pós-pandemia. Esses tipos de pagamentos poderiam solucionar problemas que países têm enfrentando com a crise. No Brasil, por exemplo, ao menos 5,7 milhões de informais não têm internet, segundo o IBGE, e 46 milhões são “invisíveis” para o governo, sem conta bancária e registros de identificação. Uma realidade que se tornou uma barreira para a distribuição do auxílio emergencial. Nos EUA, já existem algumas propostas para solucionar esse problema. O senador democrata Sherrod Brown propôs que o banco central americano crie contas e carteiras digitais para todos os cidadãos.

Por aqui, o cartão de crédito foi o método mais utilizado nos últimos três meses, seguido do papel moeda, segundo pesquisa da Rapyd. O vice-presidente da fintech, no entanto, acredita que o período atual tende a mudar o cenário: deve crescer o uso de meios digitais entre os brasileiros, acompanhando o avanço das compras online e a entrega em domicílio.

VIVER

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 78.162 casos do novo coronavírus. Foram 449 mortes registradas a mais nas últimas 24 horas. No total, 5466.

O número de mortes pela Covid-19 pode chegar a quase dez mil até o próximo domingo, segundo previsão do Imperial College de Londres divulgada ontem. O relatório semanal da instituição sobre a situação da pandemia revela que, neste momento, o país tem a pior situação do mundo com o número de casos “em provável crescimento”.

E segue a subnotificação. A prefeitura de São Paulo divulgou ontem que o número de mortes em casa na capital paulista cresceu 30% na comparação com o mês de março, quando começou a pandemia de coronavírus no município. Em todo o mês de março foram 483 pessoas, mesmo valor médio registrado em fevereiro, quando a cidade teve 453 mortes em casa, e janeiro, quando o número de falecimentos foi de 445 óbitos. Os números de abril não contemplam o mês fechado e, portanto, o total de mortos pode superar os 632 registrados até o dia 25.

As UTIs disponíveis nas cidades da Grande São Paulo que as possuem já estão chegando à lotação máxima e das 39 cidades que compõem a região metropolitana, 12 não têm nenhum leito de UTI adulta, tanto na rede pública quanto no sistema privado.

Em Manaus, famílias enterraram seus entes em valas comuns no cemitério de Tarumã, onde novas covas estão sendo cavadas para vítimas suspeitas e confirmadas. A capital do Amazonas enfrenta um colapso do sistema funerário.

Pois é… caso a curva de casos de Covid-19 siga sem controle e a população fure o isolamento, o Rio de Janeiro avalia ‘lockdown’. Segundo Edmar Santos, secretário estadual de saúde, “a única forma de não ter uma curva ainda mais ascendente seria uma forma mais radical de isolamento social. Não vai minimizar o que vai acontecer agora, mas vai evitar danos piores pra frente”.

Dados oficiais não dão conta da tragédia. Segundo levantamento do Observatório Covid-19 BR feito para o Uol, com dados do Ministério da Saúde, o Brasil possui, no pior cenário, a cada morte confirmada pelo governo, outras três. E algumas histórias de vítimas. De jovem a idoso; de saudável a doente.

Como você está lidando? É a pergunta da médica Ana Cláudia Quintana Arantes, geriatra e especialista em cuidados paliativos. E da maioria de nós. Especialista em cuidar de quem está muito próximo ao final da vida, a médica prevê que a humanidade passará por três tipos de luto. Além do luto real, das perdas objetivas, ela acrescenta o luto antecipatório —a percepção de que a morte está chegando. “Haverá arrependimento coletivo também”, aposta. O artigo completo, assinado pela jornalista Marina Rossi. (El País).

Falando nisso, o que dizem os especialistas sobre relações amorosas durante o isolamento? Para casais que moram juntos, o ideal é que, se possível, cada um busque um espaço só seu na residência, seja para trabalhar ou mesmo para ficar sozinho. Já os casais que moram separados devem reforçar os laços através da tecnologia. Com o avanço da quarentena, quem mora sozinho tem sentido cada vez mais momentos de ansiedade, frustração e solidão. Especialistas afirmam que é natural e que é bom sempre ter em mente que o isolamento “vai passar”.

Pra terminar…que dia mesmo é hoje? Que horas são? Perguntas comuns durante a pandemia de coronavírus, um reflexo de como nossa noção de tempo parece se misturar. Não há dias úteis ou fins de semana. Existe apenas ontem, hoje e amanhã. Junto com esses sentimentos de desorientação, pode parecer que estamos levando mais tempo para concluir as tarefas, como se nosso cérebro estivesse trabalhando mais devagar. Especialistas dizem que tudo tem a ver com a forma como a pandemia está afetando nossa saúde cognitiva – ou seja, nossa capacidade de pensar, aprender e lembrar com clareza. Segundo Elissa Epel, professora de psiquiatria da Universidade da Califórnia, em São Francisco, estamos mais multitarefa. Muitas pessoas estão se equilibrando em múltiplas responsabilidades, como educar os filhos em casa e cuidar de um membro idoso da família enquanto mantêm um emprego em período integral ou enfrentam o estresse de uma demissão. Mas o que podemos fazer? Psiquiatras e psicólogos consultados pela CNN recomendam o que todos já sabem: ir para a cama e acordar à mesma hora todos os dias, fazer pausas frequentes, se exercitar, comer de forma saudável e limitar notícias por períodos. No mais, é se conformar que nem todo mundo sabe, por exemplo, que amanhã é feriado… ou que dia é hoje?!

Fotos. A polícia de Nova York dispersou uma multidão de judeus ultraortodoxos que participaram do funeral de um rabino, desafiando o isolamento social no Estado. Mais imagens. (Reuters)

Hora de Panelinha no Meio. Muita gente troca o jantar por sanduíche, e tudo bem. Para deixar a refeição saudável, o segredo é substituir os ultraprocessados, como pão de fôrma e frios comerciais, por comida de verdade. Parece um trabalhão, mas não é. Rita Lobo selecionou receitas e reuniu um punhado de dicas no seu blog. E no Panelinha tem um especial com mais receitas, inclusive de sanduíches completos, para inspirar combinações. Tem ainda vídeo em que a Rita mostra o preparo de um sanduíche com o que tem em casa. Sem desculpa.

ECONOMIA

A equipe de Guedes calcula que o país vai crescer menos com o plano Pró-Brasil, que prevê aumento de investimentos públicos. Com essa estratégia, defendida pela ala militar, o PIB ficaria entre 2,79% e 3,04% ao ano entre 2021 e 2024. Contra 2,96% e 3,42% no mesmo período, caso fosse realizado investimentos privados na infraestrutura — defendido pela pasta. A proposta do Ministério da Economia inclui uma “fábrica de projetos” em parceria com bancos públicos para conceder a iniciativa privada. A estimativa é que possam alcançar R$ 114 bilhões em investimentos em quatro anos. (Folha)

Guedes tem trabalhado junto ao ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura. A aproximação veio depois de Bolsonaro dizer que Guedes tem carta branca para a área após a pasta ter sido excluída do plano Pró-Brasil. A estratégia inicial ia contra a linha liberal de Guedes, que criticou o programa e o comparou ao PAC do governo de Dilma. A coordenação do plano, no entanto, continua sendo do ministro da Casa Civil, Braga Netto. Mas Tarcísio e Guedes já concordaram que a fatia de investimentos públicos terão de se enquadrar na política fiscal. (Estadão)

A pandemia acabou com mais de uma década de expansão da economia americana. O PIB dos EUA recuou 4,8% no 1º trimestre. Essa é a pior contração trimestral desde a crise de 2008. Os gastos com consumo, que representam cerca de 70% do PIB americano, tiveram queda de 7,6% entre janeiro e março. E a expectativa é que só piore. As demissões e fechamentos de negócios generalizados não ocorreram até o final de março na maior parte do país. Os economistas esperam que os números do trimestre atual mostrem mais esse impacto que pode chegar a uma taxa anualizada de 30% — patamar não visto desde a Grande Recessão. (New York Times))

Na temporada de balanços… A Boeing e a Airbus tiveram um prejuízo de US$ 1,15 bilhão no primeiro trimestre do ano. Com uma redução de 95% de voos pelo mundo, as fabricantes sofreram com congelamento de novos pedidos e revisão de contratos. As duas preveem cortar 10% de suas forças de trabalho. O tombo foi pior para a Boeing que além da pandemia, paralisou a produção de seu principal modelo, o 737 MAX, devido a problemas no sistema. A receita da americana caiu 26% e teve um prejuízo líquido de US$ 641 milhões no trimestre. (Folha)

O Spotify surpreendeu e teve aumento de 22% na receita no primeiro trimestre. A queda na venda de anúncios não teve impacto com o aumento de 31% no número de assinantes, que chegou a 130 milhões. A expectativa é se mantenha nesse nível. (Financial Times)

A receita do Facebook também subiu 18% no primeiro trimestre. A venda de anúncios foi alta antes da pandemia, mas a empresa disse que a partir de março já começou a desacelerar. Mesmo com aumento de usuários nos seus serviços, essa queda de anúncios deve impactar este trimestre. Enquanto a Microsoft se deu bem com a pandemia. As quarentenas alavancaram os seus serviços em nuvem, que se tornaram o foco da empresa nos últimos anos: as vendas aumentaram mais de 15% no primeiro trimestre. (Bloomberg)

O cenário externo levou a mais um dia de otimismo no mercado. Os índices foram puxados depois do governo americano informar que a primeira etapa de testes do antiviral remdesivir mostrou redução no tempo de tratamento contra a Covid-19. O Ibovespa fechou em + 2,29% e o dólar em R$ 5,35. Nos EUA, além do remédio, também ajudou o anúncio do Fed de que vai manter os juros entre 0 e 0,25% até que o emprego seja recuperado. O Dow Jones ficou em +2,21% e S&P 500 em +2,66%.

Foi um dia de altas nas bolsas asiáticas. O índice Nikkei de Tóquio fechou em +2,14%, Shangai em +1,33%, Taiwan +2,04% e o Kospi coreano +0,70%. Na Europa, a abertura foi menos otimista, impactadas pelo anúncio da Shell de que vai cortar pela metade o pagamento de dividendos. Londres caía pela manhã cerca de -0,20%, Frankfurt -0,15% e Paris -0,02%.

SUPREMO IMPEDE NOMEAÇÃO DE AMIGO DE BOLSONARO PARA PF

O delegado Alexandre Ramagem não assumiu ontem o comando da Polícia Federal. Sua nomeação foi suspensa por decisão liminar pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. “Em tese, apresenta-se viável a ocorrência de desvio de finalidade do ato de nomeação do Diretor da Polícia Federal”, escreveu o ministro, “em inobservância aos princípios constitucionais de impessoalidade, da moralidade e do interesse público.” Moraes respondia a uma ação movida pelo PDT. Quando Sergio Moro se demitiu acusando o presidente Jair Bolsonaro de querer substituir o comando da PF por alguém com quem tivesse contato pessoal, foi aberto um inquérito para averiguar possível interferência direta em investigações. Segundo a decisão, o risco de um amigo pessoal do presidente assumir o cargo era o de causar dano irreparável. O Planalto pode recorrer ao pleno do Supremo. (Poder 360)

Inicialmente, a Advocacia-Geral da União havia decidido não recorrer da liminar. Em casos de suspensão similares que ocorreram em governos passados, o governo nunca ganhou. Uma edição extra do Diário Oficial da União, ontem, suspendeu a indicação. Bolsonaro, porém, depois mudou de ideia. “Eu quero o Ramagem lá”, disse a jornalistas. “É uma ingerência, né?” Ele considera que o Supremo se meteu onde não devia. “Vamos fazer tudo para o Ramagem. Se não for, vai chegar a hora dele, e vamos colocar outra pessoa.” Quando questionado sobre o fato de a AGU não ter recorrido, o presidente foi sucinto. “Quem manda sou eu.” (G1)

Gerson Camarotti: “A decisão do ministro Alexandre de Moraes que suspendeu a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal tem respaldo da maioria dos ministros da Corte. Apesar de ser uma decisão liminar (provisória), deverá ser mantida se for analisada no plenário, quando se manifestarão os demais ministros. Segundo integrante do Supremo, a Corte está dando um recado claro de que há limites na ação do Executivo. Em paralelo, integrantes da Polícia Federal avaliam que, se já havia uma blindagem da corporação contra ações políticas nas investigações, a decisão do Supremo fortalece a instituição.” (G1)

Irritado, Bolsonaro voltou a atacar ontem os governadores. “Não vão botar no meu colo uma conta que não é minha”, disse, referindo-se à escalada de mortes em meio à pandemia. A imprensa tem que perguntar para o Doria por que mais pessoas estão perdendo a vida em São Paulo. Não adianta a imprensa querer colocar na minha conta essas questões que não cabe a mim. O Supremo decidiu que quem decide essas questões (sobre restrição) são governadores e prefeitos.” (Jornal de Brasília)

O governador paulista João Doria respondeu à tarde. “Posso enumerar, presidente Jair Bolsonaro, algumas atitudes que o senhor já deveria ter tomado como presidente da República e não adotou. Esta é a resposta do ‘fazer o quê?’: é fazer aquilo que o senhor não fez, começando por respeitar os brasileiros, os brasileiros que o elegeram presidente da República e os que não o elegeram também. Que o senhor respeite o luto de mais de cinco mil famílias que perderam seus entes queridos e que, hoje, estão sepultados e, em praticamente todos, nenhum parente pôde acompanhar o sepultamento. O senhor disse que o Brasil estava vivendo uma ‘gripezinha’, um ‘resfriadozinho’. Teve a coragem de reafirmar isso várias vezes. E agora, presidente?” (Poder 360)

Pois é… Os governadores vão responder às críticas com uma carta formal. O mineiro Romeu Zema, que vem se alinhando com o presidente, ficará de fora, afirma Lauro Jardim. (Globo)

Jornal Nacional levou ao ar, ontem, uma forte reportagem com linha do tempo, destacando cada um dos momentos em que o presidente Jair Bolsonaro desdenhou da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Assista. (G1).

Ainda sobrou pra OMS… Bolsonaro publicou, depois apagou, um post afirmando que a Organização Mundial de Saúde incentiva masturbação e homossexualidade infantil. (UOL)

Meio em Vídeo: A polarização da política brasileira, que por tantos anos dominou as redes sociais, acabou. Surgiu um centro forte e orgânico. A observação é do entrevistado desta semana, Marco Aurelio Ruediger, do DAPP-FGV. Um dos maiores especialistas no encontro entre redes e política online. Assista.

Fonte: @Meio

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