É PROIBIDO PROIBIR

MS, 30 de outubro 2021

Uma portaria da Secretaria Especial de Cultural veda o acesso a recursos via Lei Rouanet a projetos que usem ou façam apologia à linguagem neutra. Nela, letras que indicam gênero são substituídas por e ou x – todos, por exemplo, vira “todes” ou “todxs” – para incluir pessoas não-binárias. No Twitter, o secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciuncula, que assina a portaria, afirmou que essa linguagem foi “criada e integrada de forma alienígena, através de movimento político sectário”. Segundo especialistas, a portaria é inconstitucional.

Manoel Bandeira, em “Evocação do Recife”:
“Capiberibe
-Capibaribe.”
Nomes diferentes para o mesmo rio? Se sim, d’onde vem um e outro?
Folclore ou Folclóre

Pouco sabemos de etimologia indígena. Obtivemos a notícia de que a origem é o Tupi e quer dizer “no rio das capivaras”, de kapibara, “capivara”, ‘y, “rio”, e pe, “em”. A diferença dos nomes não parece ser significativa, no fim é tudo uma água só. E o próprio Manuel Bandeira ainda nos dias de  hoje tem seu nome confundido por Manoel, chamava atenção para outra palavra comumente “trocada” pela população.  Folclore ou Folclóre? Sobre a etimologia: Você já deve ter ouvido falar dos dois jeitos  certo? Mas você já parou e pensou sobre o significado dessa palavra? Seu conceito? Sua origem? Afinal o que é folclore?

A etimologia da palavra folclore nos leva à dois termos em inglês: Folk e lore, cujos significados são respectivamente: povo e conhecimento. Traduzindo ao “pé-da-letra” seria algo como conhecimento de um povo ou conhecimento popular. Ou seja é uma palavra de origem estrangeira e “abrasileirada,” por nós.

Aquilo que o poeta Manuel Bandeira denominava da língua “errada” do povo, mas ao mesmo tempo da língua “correta” do povo. Para o poeta o Brasil Gigante tem suas diversidades de linguagem regionalizadas, o que não modifica o sentido dela, portanto o errado esta certo e vice versa.

Entenda o que é a LINGUAGEM NEUTRA

linguagem neutra é uma proposta que já está sendo usada por uma parcela da população com o objetivo de proporcionar inclusão social. … Para usar a linguagem neutra, é preciso utilizar artifícios da própria língua portuguesa, como evitar artigos definidos e utilizar pronomes indefinidos, sempre que possível

Como usar a linguagem neutra?
Uso de linguagem neutra: Utilizar os símbolos “@” ou “x” no lugar dos marcadores de gênero identificados por “o” ou “a”. Também colocar o sufixo “-e” ao invés de “-o” ou “-a”, já que marcam unicamente a dois gêneros, enquanto o “@”, “x” e o “e” abrangem maior diversidade.

A linguagem neutra, que usa, por exemplo, ‘todxs’ e ‘amigues’ não mereceu pela   Secretaria de Cultura, antigo Ministério da Cultura o mesmo tratamento em relação ao regionalismo da linguagem  pelo órgão federal  que  publicou uma portaria que proíbe o uso da linguagem neutra em projetos financiados pela Lei Rouanet. Isso impede que obras que recebem o incentivo da lei utilizem “elu”, “amigue”, “namorade”, “todxs”, por exemplo, que fazem parte da chamada linguagem de gênero neutro ou não-binária. Diante disso, o que fazer para usar a linguagem a favor e não contra o falante? É importante entender que o conceito de certo e errado deve ser substituído pelo de adequado e inadequado. Então, na hora de escolher a variante é preciso perguntar se ela está adequada ao interlocutor, à situação de comunicação etc. Tentando esclarecer essa questão, imagine a seguinte situação: Ao meio dia, alguém aparece na praia com um lindo vestido longo, preto, com alguns bordados, salto alto, maquiagem bem feita e um penteado feito no melhor salão da cidade. Assim que ela chega, as pessoas estranham e começam a comentar, algumas riem, outras abaixam a cabeça…

Há algum problema com a roupa da personagem ou com os acessórios? Não. Então, por que as pessoas começam a rir, estranhar, tentar entender? Pelo local, não é? Em geral, para frequentar a praia existem algumas convenções que indicam o que está adequado ou não. Neste caso, a roupa não está adequada ao local. Logo, o problema não é a roupa, mas onde ela foi utilizada.

Imagine outra situação: Um jovem apaixonado resolve enviar um bilhete para sua namorada e escreve:

“Excelentíssima senhorita:

Venho por meio desta expressar-lhe todo o meu amor. Peço-lhe humildemente que recebas estas flores como sinal de meu apreço e de minha admiração.

Despeço-me,

Atenciosamente,

Seu amado.”

Há algum problema no bilhete enviado pelo rapaz? Não, demonstra, inclusive, grande conhecimento da linguagem padrão. Mas por que gera estranheza? O grau de formalismo do bilhete e o tipo de relacionamento entre os interlocutores, não é? O que esses exemplos pretendem mostrar? A importância de adequar a linguagem ao contexto. Percebemos que mesmo usando a linguagem padrão, o texto pode estar inadequado.

Da mesma forma que para cada ocasião devemos escolher uma roupa, para cada contexto é preciso escolher uma linguagem. Diante disso, não há uma região que fale mais certo do que outra, nem existe uma proibição do uso da gíria. Entretanto, é preciso entender que há contextos que vão exigir um grau maior ou menor de formalidade.  Então, para que a linguagem seja usada a favor do falante, é necessário adequar-se.

Pra finalizar esse artigo digo que toda a linguagem que for uma linguagem VIVA,  a que  não cair no agrado da população essa morrerá sem ter que ser PROIBIDA, portanto É PROIBIDO PROIBIR.

E  de quebra dá-lhes LINGUA, a bela musica poema de  Caetano Velosa, para que essa gente preconceituosa se sinta ainda mais abjeta.

Por Bosco Martins

 

Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões

Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade

E quem há de negar que esta lhe é superior?
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
Minha pátria é minha língua
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio
Sambódromo
Lusamérica
Latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Flor do Lácio
Sambódromo
Lusamérica
Latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Flor do Lácio
Sambódromo
Lusamérica
Latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas!
Cadê?
Sejamos imperialistas!

Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E (xeque-mate) explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem

Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier
Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
E Maria da Fé
E Arrigo Barnabé

Flor do Lácio
Sambódromo
Lusamérica
Latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Flor do Lácio
Sambódromo
Lusamérica
Latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Flor do Lácio
Sambódromo
Lusamérica
Latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Se você tem uma ideia incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão

Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo
Meu medo

A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria

A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria

A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria

Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap
Chic-left com banana

Será que ele está no Pão de Açúcar?
Tá craude brô
Você e tu
Lhe amo
Qué queu te faço, nego?
Bote ligeiro!

Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
Ó Tavinho, põe esta camisola pra dentro
Assim mais pareces um espantalho!
I like to spend some time in Mozambique
Arigatô, arigatô!

Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem

Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem

Ouçam

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