Ômicron: a variante que assombra o Mundo

MS,  30 de novembro de 2021.

Preocupação com nova cepa ocorre em momento em que pandemia começa a dar trégua no Brasil. OMS faz alerta para ‘alto risco’ de linhagem se espalhar e pede esforço global para acelerar imunização. A OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou como “muito alto” o risco imposto pela ômicron, nova variante do vírus que causa a covid-19. A preocupação com a nova cepa deu origem a uma corrida de cientistas para desvendar a nova linhagem e um movimento de fechamento de fronteiras por países que temem uma aceleração no contágio. No Brasil, o alerta surge num momento em que a covid apresenta números em queda e a vacinação avança, como mostra o “Durma com essa”. O redator Estêvão Bertoni fala sobre a desigualdade da imunização contra a doença no mundo e o repórter especial João Paulo Charleaux comenta a situação da África do Sul, país que detectou a variante pela primeira vez.

Antonio Mammi e Letícia Arcoverde
Colaborou Roberto Soares

 

Como a reação à variante ômicron impacta a África do Sul

João Paulo Charleaux

Nova cepa do coronavírus leva ao cancelamento de voos do país e golpeia o turismo, setor da economia que sonhava com a recuperação após o choque inicial da pandemia

 

FOTO: TOBIAS SCHWARZ/REUTERS – 27.08.2021

Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, em imagem de arquivo, em Berlim. Ele gesticula diante de um púlpito, tendo bandeiras atrás de si

 PRESIDENTE DA ÁFRICA DO SUL, CYRIL RAMAPHOSA, EM BERLIM

anúncio na quinta-feira (25) da descoberta de variante do coronavírus batizada de ômicron desatou uma onda de alarde mundial, com suspensão de voos e outras medidas que, com a intenção de barrar o vírus, resultaram no isolamento da África do Sul e de países vizinhos, na região da África Austral.

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse que seu país está sendo injustamente castigado por essa reação e pelo estigma que ela provoca, quando deveria, na verdade, ser alvo de uma campanha de solidariedade para a distribuição de vacinas.

Neste texto, o Nexo mostra como as medidas de isolamento castigam uma África do Sul que ainda patina na vacinação e foi impactada pelos efeitos internacionais da ômicron, justamente quando vinha tentando reerguer a própria economia após o choque inicial da pandemia.

A suspensão de voos

A primeira reação tomada por diversos países, em face da descoberta da ômicron, foi a suspensão dos voos que tinham origem na África do Sul e em países vizinhos. Essa medida traz impactos econômicos imediatos para o país que é um dos grandes pontos de conexão do continente africano com as demais regiões do mundo.

A decisão de cortar a conexão de transportes com a África Austral foi puxada por um grupo de países formado, entre outros, por EUA, Reino Unido, Alemanha, Itália, França, República Tcheca, Israel, Cingapura e Japão. Em seguida, a União Europeia, como um bloco, resolveu também aderir à medida.

No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomendou a restrição dos voos na sexta-feira (26). No dia seguinte, o governo federal publicou portaria proibindo voos com origem na África do Sul, Botsuana, Eswatini (ex-Suazilândia), Lesoto, Namíbia e Zimbábue, a partir desta segunda-feira (29).

Na sexta-feira (26), a reação da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre a nova variante era ainda cautelosa, pois pouco se sabia sobre as características da ômicron. Na segunda-feira (29), a organização mudou o tom e passou a dizer claramente que a nova variante traz “risco muito elevado”.

O risco diz respeito ao potencial de maior capacidade de disseminação da nova variante. Porém, questões como a efetividade das vacinas já existentes ainda permanecem nebulosas. Cientistas dizem que serão necessárias semanas até entender toda a complexidade da nova variante e como ela reage aos imunizantes existentes.

A reação sul-africana

O presidente sul-africano reagiu neste domingo (28) por meio de um pronunciamento, no qual afirmou que “o veto às viagens não é guiado pela ciência e nem será eficaz em prevenir a disseminação dessa variante”.

A fala de Ramaphosa ecoa pronunciamento semelhante que havia sido feito dois dias antes, na sexta-feira (26), pelo porta-voz da OMS (Organização Mundial da Saúde), Christian Lindmeier.

Tanto autoridades políticas quanto cientistas sul-africanos destacam dois fatores especialmente cruéis: o primeiro é que o país estaria sendo penalizado por não conseguir avançar na vacinação, quando, na verdade, isso seria efeito da distribuição injusta das doses no mundo. Essa visão é expressa principalmente por Túlio de Oliveira, diretor do Ceri (Centro de Resposta a Pandemias e Inovação) da África do Sul, que é uma das autoridades máximas da questão no país.

O gráfico abaixo ilustra a disparidade mencionada por Oliveira. Os percentuais mostrados nas barras trazem uma fotografia dos dados no dia em que a ômicron foi batizada pela OMS, de acordo com o site Our World in Data, da Universidade de Oxford.

DESIGUALDADE

Gráfico ilustra a baixa vacinação na África, na comparação com outros países. Só 7% receberam duas doses no continente africano

 

“O mundo deveria dar apoio à África do Sul e à África como um todo, em vez de discriminar ou isolar o continente! Ao proteger e apoiar a África do Sul, protegerão o mundo! Faço um apelo aos bilionários e às instituições financeiras”

Túlio de Oliveira

diretor do Ceri (Centro de Resposta a Pandemias e Inovação) da África do Sul, em mensagem postada em suas redes sociais, no dia 25 de novembro de 2021

A agência de notícias Reuters diz que o programa de imunização na África do Sul teve ritmo reduzido no início de 2021, por falta de suprimento. Mas, no decorrer do ano, o governo sul-africano fez um apelo por doses, e foi atendido. As remessas, feitas pela Pfizer e pela Johnson & Johnson, teriam sido tantas que o país teve dificuldade de estocar, entregar e aplicar as doses na sequência.

Além da questão da imunização, outro fator citado como injusto pelos sul-africanos é o fato de o país ter descoberto essa variante justamente porque vinha realizando um trabalho criterioso de sequenciamento do genoma do vírus. Ou seja: foi o empenho e o avanço nas pesquisas científicas que, ironicamente, terminaram por castigar o país.

O mais provável é que o vírus tenha surgido em Botsuana, – onde só 20% tomaram duas doses ou dose única – mas só foi detectado na África do Sul. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, se solidarizou com os sul-africanos e fez um mea culpa: “Nosso sistema atual desincentiva países a alertarem outros sobre ameaças que inevitavelmente vão atingi-los.”

O impacto econômico

Até esta segunda-feira (29), a ômicron havia sido detectada não apenas na África do Sul e em Botsuana, mas também em Austrália, Áustria, Bélgica, Reino Unido, Canadá, República Tcheca, Dinamarca, Alemanha, Israel, Itália, Países Baixos, Portugal e Hong Kong.

As restrições, no entanto, são impostas apenas aos países africanos. As rotas que ligam os demais países – europeus, em sua maioria – seguem intactas. A diferença é que os países africanos têm casos decorrentes de transmissão local, enquanto os demais países têm casos importados de viajantes que estiveram recentemente no epicentro da ômicron.

Diante do fechamento, o jornal americano The New York Times referiu-se a uma “reação visceral” dos empresários sul-africanos, que se sentem “ultrajados” por uma penalização que deve trazer impactos negativos sobretudo nos setores aeroviário e de turismo.

7%

é o percentual do PIB sul-africano movimentado pelo turismo internacional

A própria implementação das medidas restritivas foi caótica. Em Amsterdã, mais de 600 passageiros de um voo proveniente da África do Sul foram confinados por 30 horas em salas sem ventilação, antes de passarem por triagem sanitária.

O país é um grande exportador de minérios, mas o turismo também é importante na economia sul-africana, e dezembro é um dos períodos de maior movimento internacional no país. “Isso é devastador. Muitas empresas estavam penduradas pela pontinha dos dedos, tentando não cair, e isso agora vai acabar com elas de vez”, disse ao New York Times David Frost, diretor da associação local de agências de turismo, ao referir-se às restrições de viagem impostas por causa da nova variante.

A África do Sul estava tentando se recuperar do que a agência de notícias econômicas Bloomberg chama de “a mais profunda contração de sua economia dos últimos 30 anos”. Essa retração está ligada à pandemia, e às medidas de contenção a ela, como as quarentenas, com fechamento do comércio. O anúncio sobre a variante acerta o país em cheio, justamente quando os empresários projetavam uma chance de recuperação.

Britânicos, alemães e americanos, além de franceses e holandeses, lideram, nesta ordem, a lista de turistas internacionais que mais visitam a África do Sul, nos dados de 2019 e 2020. Esses países estão entre os que, agora, impuseram restrições à conexão aérea. O índice de desemprego na África do Sul é de 34%, e o turismo internacional

responde pela geração de 1,5 milhão de postos de trabalho.

Quais os desafios se a covid se tornar uma doença endêmica

Estêvão Bertoni

Para grande parte dos especialistas, sociedade terá que aprender a conviver com o vírus, adaptando-se a um novo estilo de vida

 

FOTO: AJENG DINAR ULFIANA/REUTERS – 13.SET.2021

Imagem mostra pessoas de máscara sentadas em bancos. No primeiro plano, mulher olha para o celular que está na sua mão

 MORADORES DE JACARTA, NA INDONÉSIA, EM ESTAÇÃO DE TREM DA CIDADE

 

O avanço da vacinação, a queda nos números de casos e mortes por covid-19 e a flexibilização das restrições no funcionamento do comércio e dos serviços passaram para a população a sensação de que a pandemia poderia estar chegando ao fim. Em julho de 2021, pela primeira vez, a maioria dos brasileiros disse acreditar que o vírus estava sob controle, segundo pesquisa Datafolha. Mas ele não vai embora.

 

Uma enquete feita pela revista Nature no começo de 2021 com cem imunologistas, virologistas e epidemiologistas que pesquisavam o novo coronavírus revelou que cerca de 90% deles acreditavam ser improvável que a doença fosse erradicada. Ela deve se tornar endêmica, ou seja, continuará circulando de maneira consistente, mas limitada a bolsões da população mundial, o que tornará suas taxas de incidência e transmissão previsíveis.

 

Neste texto, o Nexo mostra quais os possíveis cenários para a covid-19, que desafios ela traz como doença endêmica e como os governos no Brasil e no mundo se prepararam diante de sua iminente permanência.

 

O que é uma endemia

Doenças endêmicas são aquelas que estão sempre presentes, acontecem com determinada frequência e permanecem estáveis ao longo do tempo. Em entrevista à Agência Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), o epidemiologista Guilherme Werneck, que é professor do Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), explicou que as endemias passaram a ser pensadas de forma mais quantitativas após o século 19, por influência da estatística.

 

Elas começaram a ser definidas como um “comportamento usual e esperado de uma doença em uma população”. Já as epidemias são modificações nesse padrão de casos, um aumento além do esperado. Uma doença endêmica, portanto, pode ter ciclos epidêmicos. “É o caso da dengue no Brasil, onde todos os anos acontecem casos esperados, mas que se cruzam também com períodos epidêmicos”, disse.

 

O coronavírus, por exemplo, já é conhecido da ciência desde os anos 1960. Seus quatro tipos que causam resfriados comuns em humanos há centenas de anos são considerados endêmicos, da mesma forma que acontece com outro vírus, o da influenza, responsável pela gripe e que requer vacinação anual — dois dos coronavírus já eram responsáveis por cerca de 15% das infecções respiratórias antes da pandemia, e a maioria das crianças tem contato com esses vírus antes dos seis anos, criando imunidade a eles.

 

Estima-se que, por ano, morram em todo o mundo, em média, 650 mil pessoas devido à gripe sazonal. O fato de ela ser endêmica implica uma aceitação dessa letalidade, e não há a adoção de medidas rigorosas para prevenir o contágio, como o isolamento social e os lockdowns.

 

Em relatório de 2010, a OMS (Organização Mundial da Saúde) elencou 17 doenças que estavam sendo negligenciadas no mundo, sendo que ao menos 12 delas ocorriam de forma endêmica no Brasil, segundo o documento “A Saúde no Brasil em 2030” (2012), do governo federal. As doenças “negligenciadas” são aquelas associadas à pobreza e que têm baixo grau de prioridade para os governos.

 

“Algumas são consideradas emergentes ou reemergentes no país (dengue, leishmanioses), outras estão em estágio avançado de controle (doença de Chagas, filariose linfática, oncocercose, raiva), uma tem apresentado tendência decrescente (esquistossomose) e outras permanecem em relativa estabilidade (hanseníase, tracoma, cisticercose, hidatidose e geo-helmintíases)”, dizia o documento.

 

A covid endêmica

A maioria dos especialistas diz acreditar que o novo coronavírus irá se comportar da mesma maneira que a gripe comum. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o infectologista Julio Croda, que é pesquisador da Fiocruz, disse ser “natural” que ele se torne endêmico e que, “de tempos em tempos, outras epidemias importantes associadas a novas variantes devem ocorrer”.

“Todas as vacinas disponíveis, e é importante deixar isso claro, continuam com alta proteção contra internação e óbito, mas a perda de efetividade contra as formas moderadas faz com que o vírus continue circulando e, ao continuar sua transmissão, mais mutações vão ocorrer e novas variantes podem surgir. O que deve acontecer, ao longo do tempo, é que, com a vacinação e com o reforço vacinal, vamos conseguir impedir evolução para forma grave, mas não a circulação do vírus”

Julio Croda

pesquisador da Fiocruz, em entrevista à Folha de S.Paulo, em agosto de 2021

 

Uma pequena parte dos pesquisadores, porém, acredita que algumas partes do mundo podem se livrar da covid-19. Na mesma pesquisa da revista Nature, um terço dos cientistas afirmou que esse cenário seria possível.

 

“Imagino que a covid será erradicada em alguns países, mas com um contínuo e talvez sazonal risco de reintrodução de outros lugares onde a cobertura vacinal e as medidas de saúde pública não foram boas o suficiente”, disse o epidemiologista Christopher Dye, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, à revista.

 

Algumas doenças em humanos conseguiram ser erradicadas, como a varíola, nos anos 1980 — no Brasil, os últimos 19 casos, numa comunidade da zona norte do Rio de Janeiro, foram registrados em 1971. No caso do novo coronavírus, o aparecimento de variantes mais contagiosas que escapam das vacinas e a queda das imunidades naturais e conferidas pelos imunizantes depois de um tempo são fatores que dificultam a erradicação da covid-19, segundo os cientistas.

Os cenários para a covid

TOTALMENTE ERRADICADA

Esse cenário só seria possível se a imunidade adquirida contra o vírus não decaísse com o tempo, o vírus não sofresse mutações que escapassem da proteção das vacinas e ele não persistisse em reservatórios animais. Pesquisas, pelo contrário, têm demonstrado a necessidade de doses de reforço das vacinas devido à queda de proteção com o tempo e redução da eficácia em relação às variantes. Países também registraram surtos da doença em animais, como os visons, abatidos aos milhares na Dinamarca.

ERRADICADA EM ALGUMAS REGIÕES

Uma pequena parte dos pesquisadores acredita que esse cenário é possível. Assim como o sarampo, algumas regiões com ampla cobertura vacinal, controle da entrada de pessoas e fechamentos esporádicos, como ocorre na Nova Zelândia, poderiam ser ver livres da covid, mas com risco de reintrodução da doença vinda de outras regiões.

CIRCULA COMO GRIPE COMUM

No cenário que parece ser o mais provável, segundo os cientistas, as vacinas vão conseguir reduzir a evolução para quadros graves e mortes, mas não impedir a transmissão do vírus. Com a expansão da cobertura vacinal e grande parte da população imunizada, as pessoas poderão continuar se infectando, mas tendo quadros leves da doença.

CIRCULA CAUSANDO QUADROS GRAVES

Essa situação ocorreria caso as vacinas não conseguissem prevenir quadros graves da infecção. Estudos têm demonstrado uma redução nas internações e mortes em pessoas vacinadas.

 

A endemia na mira dos governos

Até meados de setembro de 2021, a covid-19 já tinha matado 4,6 milhões de pessoas em todo o mundo, o que ainda a torna distante de uma doença sazonal como a gripe comum.

 

Mas líderes de alguns países sinalizam a intenção de alcançar números semelhantes ao da gripe. Em junho, o secretário de Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, afirmou no Parlamento britânico que a meta do governo era “viver com esse vírus como vivemos com a gripe”.

 

À agência Bloomberg, a epidemiologista Jennifer Nuzzo, do Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade Johns Hopkins, disse ser possível chegar ao estágio de “apenas monitorar hospitalizações”.

 

Em artigo publicado no jornal O Globo, no início de setembro, o infectologista David Uip, que foi secretário de Saúde do estado de São Paulo, lembrou que a epidemia de HIV/Aids também provocou “pânico global” nas décadas de 1980 e 1990, mas se tornou com o tempo uma endemia graças a potentes antirretrovirais, profilaxias pré e pós-exposição e às campanhas de incentivo à testagem e ao uso de preservativo. Para ele, a covid deve seguir o mesmo caminho.

“Não há data para a pandemia de covid-19 acabar. Temos ainda um longo caminho a percorrer até que a situação epidemiológica se estabilize. A avaliação do cenário atual permite vislumbrar um futuro com muito menos infecções, internações e mortes, mas teremos de aprender a conviver — por muito tempo — com o Sars-Cov-2 entre nós”

David Uip

infectologista, em artigo publicado no jornal O Globo, em 5 de setembro de 2021

 

O governo de São Paulo também demonstrou que trabalha com um cenário de endemia. Em julho, o estado anunciou que uma nova rodada de vacinação contra a doença terá início em 17 de janeiro de 2022, exatamente um ano depois de a primeira dose da Coronavac ter sido aplicada no Brasil. O Butantan desenvolve um novo imunizante, a Butanvac.

 

Já o governo federal previu na proposta de orçamento encaminhada ao Congresso R$ 3,9 bilhões para a compra de vacinas em 2022. A quantia, porém, é 86% menor do que foi autorizado em 2021, quando R$ 27,79 bilhões foram reservados para a ação.

 

Os desafios da covid endêmica

O surgimento da variante delta, que se propaga mais rapidamente que o vírus original, praticamente enterrou as discussões sobre a possibilidade de se alcançar a imunidade de rebanho, estágio em que quase toda a população estaria imunizada, o que faria o vírus parar de circular.

 

Nos Estados Unidos, o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) estimou que, com o surgimento da delta, 90% da população teria que ser vacinada para que isso aconteça, o que estudiosos dizem ser matematicamente impossível de acontecer.

 

Com o cenário de uma doença endêmica à vista, especialistas defendem mudanças na forma de organização da sociedade para amortecer o impacto da covid-19. Em artigo publicado na revista Atlantic, nos Estados Unidos, no domingo (12), o médico Scott Gottlieb, que comandou o FDA (Food and Drug Administration, agência do Departamento de Saúde dos Estados Unidos) de 2017 a 2019, escreveu que o grande desafio será adaptar o trabalho e as escolas a um vírus onipresente de modo a torná-lo um “risco maleável”.

 

Ele defende, entre outras medidas, a exigência da vacinação para os trabalhadores, o teletrabalho durante os picos da doença para reduzir a densidade nos escritórios e videoconferências mesmo dentro dos locais de trabalho para reduzir aglomerações internas. Pessoas que tiveram casos da doença na família devem permanecer em casa. Os edifícios também deverão passar por reestruturações para melhorar a circulação de ar.

 

Para ele, o uso voluntário da máscara em locais fechados nas temporadas de doenças respiratórias deverá se tornar uma norma cultural. “Eventualmente, alguns de nós provavelmente serão infectados. Para muitos, a esperança será estar protegido pelas vacinas e não manifestar nada além de uma infecção leve”, escreveu.

 

Gottlieb defende que as medidas serão necessárias para evitar que a covid e a gripe, juntas, causem um estrago ainda maior. “Estivemos sendo muito complacentes com a gripe sazonal, permitindo que ela adoeça e mate muitas pessoas todos os anos. Com uma segunda doença séria no horizonte, seremos forçados a agir”, disse.

 

 

 

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