O poeta Manoel de Barros está “ressabiado”

O poeta Manoel de Barros, o jornalista Bosco Martins e Stella de Barros. Foto: Arquivo pessoal.

Reportagem realizada por * Bosco Martins e publicada no site www.overmundo.com.br/overblog em 28 de abril de 2012.

São sete da manhã de uma quarta feira e o poeta Manoel de Barros, antes de iniciar a rotina em seu escritório de ser inútil, me revela que o premio de Literatura que acaba ganhar em Portugal, o “Casa da América Latina”, o deixou ao mesmo tempo feliz e um pouco ressabiado.

Não seria o caso dele estar “ressabiado”, pois que Manoel, considerado o maior poeta da língua portuguesa em atividade, está pra la de calejado com estas honrarias “em torno de quinze prêmios mais ou menos”, como ele mesmo se orgulha de contar.

Este último, o “Prêmio de Literatura Casa da América Latina/2012”, de Criação Literária, foi atribuído à obra “Poesia Completa do poeta brasileiro Manoel de Barros”. O livro, publicado em 2011 pela Editorial Caminho, teve decisão unânime de um júri formado por “doutores em literatura”. Consta que é a primeira vez em que é atribuída a uma obra de poesia e a um autor brasileiro.Criado em 2005 pela Casa da América Latina, destina-se a distinguir uma obra de um autor latino-americano em atividade publicada em Portugal nos dois anos anteriores.

Mas se um prêmio destes só haveria de trazer motivações e orgulho, o que haveria de ser o “ressabiamento” do poeta?

Para aqueles que como eu, convivem e acompanham o seu dia a dia, sabemos que a vitalidade do poeta Manoel de Barros é invejável. Próximo de seus 94 anos (completará em dezembro), o poeta se mantém muito ativo e escreve mais um livro.

O teor, segundo sua primeira, mais fiel leitora e confidente, sua companheira Stella, trata-se de sua obra-prima, mas para aguçar a curiosidade de seus leitores e jornalistas “ainda não pode ser revelado”.

Mas suas dificuldades auditivas e de visão, além dos cuidados com seu filho Pedro, ainda em recuperação de um AVC, impedem que ele e Stella de Barros, 90 anos, viajem a Portugal, para receber o prêmio, conforme me confidenciou.

Este seria o motivo do poeta estar “ressabiado” já que ele havia sido informado pelos organizadores da cerimônia de entrega do Prêmio, que só receberia o valor de dez mil euros, em data que seria indicada oportunamente, desde que se fizesse presente.

No caso de impossibilidade e não comparecimento, a organização exigia que o poeta, então ao menos, aparecesse em um vídeo, falando da importância do prêmio, coisa que também se recusou a fazer.

A solução em relação ao melindre segundo Manoel de Barros me contou, teve a colaboração de seu editor em Portugal.

Pascoal Soto, diretor editorial do Grupo Leya do Brasil, é quem que contratou a obra do poeta mato-grossense, e que há muito tempo trabalha na edição de seus livros, para outros países, incluindo Portugal.

Foi Soto quem interveio, resolvendo a questão, com o custeio da passagem que levará sua filha, Martha de Barros, a Portugal, pra representar o pai e receber os 10 mil Euros pagos pela premiação.

Resolvido o problema do “ressabiamento”, o poeta sempre em seu refinado e bom humor, me faz uma outra revelação:

–Boscão, ser poeta não ta fácil, não!!

– Mas por que poeta?

Cê acredita que pra eu botar a mão nestes 24 mil reais, vou ter que deixar 27% de imposto pro Governo?? Faz a conta pra você ver, sô!!!

* Bosco Martins – é jornalista e blogueiro e amigo há mais de 30 anos do casal Manoel e Stella.

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