A Noite é Morna…

… a noite é morna,
perfumada e doce,
como o sonhado hálito
embriagante das sereias
O céu um fundo
azul escuro,
todo crivado
de cintilantes botõezinhos,
parece uma
cristalizada chuva
de fragmentos argentinos.
A brisa,
muito docemente,
subtraindo nesta edênica
carícia osculante,
o olor sutil do poetismo,
que arrasta
a nossa pequenina alma,
a gozar desta deleitante
suavidade natural.
Tudo é convidativo,
Tudo é atraente,
tudo é arrebatador
e extasiante
neste inebriante
misticismo ínsito!
A lua,
um tanto romântica,
qual medrosa namorada,
toda vestida de branco,
sorrateiramente,
de quando em vez,
crespando suas finas
e delicadas mãozinhas de alabastro,
a negra cortina etérea
de sua alcova,
lança um olhar vago,
demorado e triste,
como se cismasse
num longínquo
amor saudoso
que tanto
tarda para voltar!…
Tudo é poético,
romântico e estonteante!
O próprio silêncio,
é um verdadeiro
poema que a natureza
traduz em
nossa imaginação!
Entre os ramos
das velhas, árvores,
nesta compacta massa
de esmeraldinas folhas
que a noite
tinge de luto,
ouve-se muito vagamente,
um farfalhar de asas
e um leve siciar.
Num sorriso
de alegria
lembramos o amor
das avezinhas que
no seu siciar amoroso
também trocam juras de amor.
Pares enamorados
passam pelas ruas;
olhos nos olhos,
lábios cheios de amor
e a mente repleta
de felicituosos
sonhos arrebolísticos,
de fantasia rosicléa
de vivacidade.
Tudo é amor
neste momento
que os clarins
dos primeiros galos,
na surdina,
saúdam a quase nascente,
semi oculta
na sua alcova de veludo.
Quantos sorrisos
de felicidade,
agora,
já confundido
com a delicada brisa
que vai levar
e morrer nos esguios
ciprestes do campo santo?!
Quantos ósculos e amplexos
essa brisa não levará
para a eternidade
do esquecimento
nesse mavioso
lapso cronológico!?
Quantas juras
e promessas não guardará
o olvido no seu seio!?
E quantos amargos ais
não levará
ela para
o mesmo caminho!?
Também quantos sorrisos
beijos, juras de amor
promessas,
tudo num lábaro
de falsidade
não levará
esse mesmo zéfiro,
confundindo
os sinceros aos vãos??!!

… a noite é morna…

Junho de 1979, por Bosco Martins

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