Epígrafe a Manoel de Barros

Manoel de Barros e o jornalista Bosco Martins. Foto: Elias Alves.

Meu caro poeta… estejai tranquilo.

O Pantanal, com seus corixos e mistérios
surge através de suas palavras,
caleidoscópio da abóbada celeste
na moldura de minha janela.

Estejai tranquilo, meu caro poeta.

O sistema solar esconde os equinócios,
guaches, pincéis, clavicórdios,
num par dourado de olhos amarelos
devorados por seus poemas.

Meu caro poeta, amo estes morros, esses guavirais.

Amo andar sobre esse tapete mágico
de cabeça pra baixo no imponderável.

Amo o íntimo de sua poesia,
da mesma maneira que amas o rio Paraguai,
o cerrado, e tua infância em Corumbá.

Dona Assunção da rua Frei Mariano,
fez uma bela goiabada daquelas goiabas.

Bernardo, lá do Pantanal,
espalhou quinze livros por aquela praça.

O neto do seu Jorge e da dona Guiomar
fez um gol de bicicleta naquela grama.

Meu caro poeta, busque na memória.
Não distribuíram nozes aos comensais
mas Zé Correia estendeu o coração
na extensão do abraço do seu acordeon.

A passagem do ano se dependurou
no pescoço de um fulano que não era eu.
Estejai tranquilo, meu caro poeta.

Mas aqui entre nós, caríssimo poeta,
que ninguém nos veja, ninguém nos ouça,
eu entendo este navio em festa passando ao largo,
levando consigo o poente, o poeta e um poema sobre nada.

Por Bosco Martins

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