Manyphesto do Cinema de Vanguarda Prymitiva

Vanguarda primitiva
Regresso ao futuro
Palavra-alma guarani
Chamas & orvalho
Origem própria original originalidade selvagem
A fala dos loucos dando flores
Todos os dialetos possíveis
Inventados encantados alucinados
Dialeto-rã
Dialeto-pedra
Dialeto-fogo
Dialeto-bosta

A beleza das coisas nunca vistas
Adivinhação divinação divinare
Em vez do plágio sutil
Vidência

O aproveitamento de todas as ancestralidades desprezadas
Vanguarda primitiva: os dicionários de pedra, de areia, de água, de árvore

O poeta lambe as palavras e alucina o idioma
Para que o idioma volte a dar encantamento

Um coração quente
Com um olho de pássaro
Você pode ver o mundo
De modo diferente

Vanguarda primitiva:
Amor sem data de vencimento
Invenção em vez de cópia
Bárbara e nossa como queriam rimbaud baudelaire oswald

Agora o andarilho
Lambe as palavras até que elas produzam uma alucinação que renova sentidos do mundo no coração.

Duas, três câmeras na mão e mil idéias fervendo na cabeça, nas veias, nos testículos, no corpo todo.

Depois de lamber as palavras
O andarilho caminha alucinado
Atravessa Paria Rio de Janeiro Oropas Nova Yorque e reaparece por encantamento na beira do Rio Paraguai ou na remota província de Campo Grande capital do Mato Grosso do Sul ao mesmo tempo.

Vanguarda primitiva: o português mágico manoelês arcaico à imagem das máfias das academias de letras e de outras máfias letradas

Luz câmera poesia em ação
Nas margens do mundo onde o céu se confunde com as águas
O olhar dum pássaro é uma lente de panavision
Sem hollywood-money nos bolsos
O poeta lambe as palavras e o idioma se alucina para sempre

Uma luz torta
Uma luz rupestre
Uma luz vegetal
Uma luz de vanguarda primitiva
Uma luz diferente
Uma luz que não se pode comprar nas lojas da capital

Agora um andarilho pode ser oito andarilhos

Ayores guaranis terenas bororos xavantes kinikinau guatós
O amor o humor os paradoxos encantatórios
O vôo da palavra
O canto do peixe
O perfume do mistério

Vanguarda primitiva
Um mergulho no desconhecido
Das diferenças
No mistério da luz do Pantanal

Por Bosco Martins

Assista o poema também no “Prosa e Segredos, Ontem, Hoje e Sempre, com Bosco Martins”, com pós-produção/texto de Allison Ishy e pós-produção/edição de vinhetas de Roque Martins, que divulga a pílula 15 do programa Poesia Total 2, gravado em dezembro de 2006 pela TVE Regional de Mato Grosso do Sul.

“Veja na sequência da contemporaneidade de Bosco Martins a mistura do português, espanhol e guarani rumo à criação de uma terceira linguagem na formação mítica do homem fronteiriço, seguindo na trilha do ‘portunhol selvagem’ de Douglas Diegues. Douglas Diegues também é jornalista e autor, entre outros, do livro ‘Uma flor na sua lapa da miséria’, editado pela Editora Alternativa, criada em Buenos Aires por Eloisa Cartonera. Este livro, em especial, é feito em papel reciclado e com capa de papelão. Parceiro de Manoel de Barros e de Bosco Martins, criaram um movimento de ‘vanguarda primitiva’, que originou obras como a revista cultural ‘Ontem choveu no futuro’, o registro literário-musical ‘Kosmofonia Mbya Guarani’ e o programa ‘O Outro Lado De La Fronteira’, exibido pela TV Educativa Regional de Mato Grosso do Sul. Abusado na inovação, foi em Ponta Porã, fronteira com o Paraguai, de onde tirou subsídios para criar seu ‘portunhol selvagem’, uma estranha mescla de português, espanhol, guarani e outras tantas línguas indígenas que agora carregam uma sensualidade revolucionária. Os poemas que vocês vão ver foram extraídos de seu primeiro livro, editado em 2003, ‘Dá gusto andar desnudo por estas selvas’.”

Nesta pílula veja “Poema incidental, Manyphesto do cinema de vanguarda prymitiva”, de Bosco Martins.

Ficha técnica:

Apresentação: Fernanda Guedes.
Argumento: Bosco Martins.
Elenco: Anahi Zurutuza, André Artero, Emmanuel Mayer, Fernanda Mara, Leonardo Brandão, Lika Rodrigues, Maíra Espíndola, Valéria Duarte e Luiz Ricardo Duarte.
Figurino: Will Fran.
Direção de elenco: Fernanda Guedes.
Poesia Total, direção geral: Lu Tanno.

Equipe TVE Regional:

Arte/vinheta: Venise Melo.
Auxiliar de estúdio: Milton Xavier.
Iluminação: Maurício 10.
Imagens: Márcio Acunha e Raimundo Dias.
Áudio: Guilherme Fico.
Produção/pesquisa: Lu Tanno.
Edição: Albino Araújo.
Direção de fotografia: Raimundo Dias.
Direção de TV: Adão Mathias.
Agradecimentos: Cia Terra de Teatro, Emmanuel Mayer, Fernanda Guedes, Maíra Espíndola, neusa Arashiro, Will Fran.
Diretor-presidente da TVE Regional: Bosco Martins.
Realização: TVE Regional, dezembro de 2006.

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