MARCIANA

Tinha uma boca que engolia estrelas
e trazias um sol na testa
que iluminava a escuridão
de teus olhos profundos

Naquela manhã gelosia taciturna
ansiavas roubar a lua
e deitada sobre uma rede de palha
inventavas um cheiro
que devia ser incenso
ou alecrim

Chegastes assim
através do mar áspero
com seus dentes de marfim
e trazias do horizonte
o som estridente
de uma bem tocada valsa de Strauss

Principiei crer miragens
trafegamos inefável e merencórios

Diante do claro do dia
e os mistérios da noite

Buscavas conhecer
da fruta do amor
que ainda não havia
causado tanta dor

Aproximei de ti
em teu peito nu
e sobre o travesseiro da imensidão
percebi a pureza de tua alma

Falamos da liberdade
do nosso mundo de quimeras,
dos oprimidos
nos trigais da desesperança
dos famintos na procissão
desumana da fome
dos amantes bêbados
nas serenatas da solidão
dos espantalhos hediondos que
rondavam teu chão

Nos compreendemos então

Já havíamos nos conhecido
no País do incognoscível
comido cogumelos no pasto
com Hendrix e Joplin

Depois meio puto meio vidente
sorri de teu mau agouro
pois ao invés de vampiros da Transilvânia
eras marciana e eu duende

Estávamos em marte
e eu que cultivava arte
tinha mais sangue que tinta
e era mouro.

Por Bosco Martins

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *