SOS Temer: Os bastidores da elaboração da ‘carta à nação’

Mato Grosso do Sul, 13 de setembro de 2021

Bastidores: Recebi  direto de minha querida cidade de  São José do Rio Preto, terra do  marqueteiro rio-pretense Elsinho Mouco,  a entrevista exclusiva dos  repórteres do DLNews, Maria Elena Covre e Milton Rodrigues com o  rio-pretense.  Testemunha ocular do fato  ele  traz  os bastidores da elaboração da ‘carta à nação’ e o peso de Michel  Temer na decisão de Bolsonaro de recuar e amenizar o tom que havia usado nos discursos de 7 de Setembro. E mais se recuar era previsível. O que  não era previsível é a entrada de  M. Temer, pra tentar salvar Bolsonaro.      Leia a entrevista na integra:

Em entrevista ao DLNews, rio-pretense revela bastidores da carta que livrou Bolsonaro do impeachment

Por: Maria Elena Covre e Milton Rodrigues

Da primeira conversa entre Bolsonaro e Temer, no início da noite de quarta (8), até a divulgação da nota de recuo do presidente, que vinha incendiando seus seguidores numa crise entre os poderes que parecia irreversível, apenas quatro personagens sabiam da operação: o ex-presidente, Bolsonaro, Alexandre de Moraes e o marqueteiro Elsinho Mouco, que é de Rio Preto.

Testemunha ocular e um dos artífices da carta de recuo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) divulgada nesta quinta-feira (9), num momento em que, esticada demais, a corda entre Executivo e STF parecia estar prestes a se romper, o marqueteiro rio-pretense Elsinho Mouco conta, nesta entrevista exclusiva ao DLNews, os bastidores do momento que acabou representando uma trégua em meio a ânimos acirrados. Embora muitos duvidem de que seus efeitos tenham longa duração. 

Com a economia sentindo os impactos da instabilidade política, parte da sociedade pronta para o tudo ou nada após os discursos inflamados de Bolsonaro nas manifestações de 7 de Setembro e caminhoneiros decididos a parar o País por uma pauta que nada tinha a ver com as demandas reais da categoria, Bolsonaro se viu numa armadilha criada por ele mesmo e pediu ajuda ao ex-presidente Michel Temer por meio de uma ligação telefônica, como conta Elsinho. 

Do momento em que a estratégia de “pacificação” desenhada por Temer até a publicação da nota assinada por Bolsonaro, que fez a Bolsa subir e o dólar cair minutos depois, apenas quatro homens da República sabiam de sua existência: o atual presidente, o ex-presidente, o ministro do STF Alexandre de Moraes e o rio-pretense. Por isso, vale, e muito, a pena ler esta história contada em todos os detalhes por Elsinho na entrevista abaixo. Confira…

 

DLNews – De quem foi a iniciativa da conversa entre o ex-presidente Michel Temer e o presidente Jair Bolsonaro que resultou na ’carta da pacificação’? Quando e como se deu o primeiro contato entre os dois?

Elsinho Mouco – O manifesto nasceu numa ligação do presidente Jair Bolsonaro para o ex-presidente Michel Temer no início da noite de quarta-feira, dia 8. Ele ligou para saber como o ex-presidente via algumas questões de momento, como a crise entre os poderes, a paralisação dos caminhoneiros, a retomada econômica e a pandemia, tendo em vista o risco da variante Delta. Pela urgência do momento, eles se concentraram nos dois primeiros temas. Assim, a crise entre os poderes e os caminheiros dominaram a conversa ao telefone. Diante do pedido de avaliação, o ex-presidente Temer questionou de imediato: “É para eu ser sincero ou para fazer média?” E o presidente Bolsonaro respondeu: “Para ser sincero.” Então, o Temer foi direto ao ponto e disse que o cenário era muito grave e fez um diagnóstico de tudo que estava acontecendo.

DLNews – E de quem foi a ideia da carta e como foi a elaboração do conteúdo?

Elsinho Mouco – Ao final da explanação do Temer, o presidente Bolsonaro perguntou qual era, então, a proposta do ex-presidente. Foi quando Temer fez a sugestão do manifesto para a nação. Que era importante que ele (o presidente) modulasse a fala e pacificasse os ânimos. E se propôs a rascunhar algo.

DLNews – Qual foi de fato a participação do senhor na carta que caiu como um bálsamo nos ânimos acirradíssimos, inclusive com reflexos diretos na economia, com a bolsa subindo e o dólar caindo alguns minutos depois de o presidente Jair Bolsonaro divulgá-la?

Elsinho Mouco – Ao desligar o telefone com o presidente, o Temer me ligou, discutimos a estratégia, ele disse que faria um rascunho mais técnico e mandaria para mim. Ao receber o rascunho, eu li, fiz algumas colocações, revisei todo o conteúdo  e dei o acabamento final. Era mais ou menos meia noite quando terminamos.

DLNews – Em qual momento, o ex-presidente Michel Temer contou ao ministro do STF Alexandre de Moraes o que estava sendo discutido com o presidente Jair Bolsonaro?

Elsinho Mouco – Na noite da mesma quarta (8), após falar com o presidente, o Temer ligou para o Alexandre de Moraes (ministro do STF) e falou sobre a conversa anterior, perguntou se ele via algum problema numa ação de pacificação. E o Alexandre respondeu: “Eu não tenho nenhum problema com o presidente Bolsonaro. Quero mais é que haja um gesto de pacificação mesmo. E se tiver uma carta, um documento neste sentido, eu aplaudo”.

DLNews – Quem mais participou desse processo todo?

Elsinho Mouco – Como era tudo off, não podia vazar. Era preciso manter tudo em sigilo porque se vazasse viraria uma confusão danada, com cada um emitindo um tipo de opinião, cada grupo com seus interesses. A imprensa ficaria sabendo antes de tudo acontecer de fato. Por isso, apenas quatro pessoas sabiam da carta até a gente chegar em Brasília para a assinatura da mesma: o ex-presidente Temer, o presidente Jair Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes e eu.

DLNews – Em que momento o presidente Bolsonaro ficou sabendo do conteúdo e formato da carta?

Elsinho Mouco – Na quinta-feira (9), às 6h10 em ponto, o Temer recebeu outra ligação do presidente Bolsonaro e leu o texto que tínhamos finalizado para ele. O presidente Bolsonaro gostou muito, ficou todo entusiasmado e disse que mandaria um avião da FAB para nos buscar em São Paulo. Poucas horas depois estávamos embarcando. Chegamos em Brasília e fomos direto para o gabinete do presidente no Planalto, onde já estava o Bruno Bianco (Advocacia Geral da União) com outros seis ministros.

Temer, Bolsonaro e Bianco se isolaram numa sala anexa reservada e fiquei na sala maior com o grupo. Eles trocaram duas ou três palavras no texto original que levamos e o presidente pediu que fosse providenciada a elaboração final do documento para ele assinar e mandar publicar. Almoçamos no Planalto e, até que o documento final ficasse pronto, eu e o Temer fomos até o Palácio dos Buritis visitar o Ibaneis (Rocha, governador do Distrito Federal), um amigo fraterno de Temer.  Voltamos para o Planalto às 15h e a carta já estava pronta, o presidente Bolsonaro autorizou a publicação no Diário Oficial.

DLNews – O senhor presenciou a conversa do presidente Bolsonaro com Alexandre de Moraes? 

Elsinho Mouco – Às 15h15, logo após o presidente Bolsonaro mandar publicar a carta, o Temer ligou para o Alexandre de Moraes, disse que a carta tinha dado certo, que estava sendo publicada e perguntou se ele podia falar com o Bolsonaro, que pegou o telefone. Foi uma conversa rápida, formal e institucional entre os dois (ministro do STF e presidente).

DLNews – Como foi tratada a questão da paralisação dos caminhoneiros?

Elsinho Mouco – Após o presidente mandar publicar a carta, começou-se uma conversa do grupo presente sobre a questão dos caminhoneiros e o Temer disse: “Bolsonaro, não é o Lula ou o Doria que podem te derrubar, mas sim o seu próprio pessoal. Se faltar comida, remédio, combustível, material de primeira necessidade  para a população, você perde a eleição.” Temer sabia o que estava falando, ele viveu aquela paralisação de 2018. Foi uma loucura, um transtorno imenso, por isso, continuou: “Não acredite que isso não vai cair no seu colo.” E convenceu o presidente a agir no sentido de trabalhar para que a greve fosse desmobilizada.

Naquele momento, senti Bolsonaro profundamente aliviado, lúcido e todas as pessoas no entorno dele também. Os dois (Temer e Bolsonaro), ali, foram grandes, foram estadistas.

 DLNews – Na opinião do senhor, por que o presidente Jair Bolsonaro escolheu o ex-presidente Temer para ajudá-lo nesta situação, uma vez que vários de seus aliados na Câmara Federal, como Arthur Lira, por exemplo, já vinham tentando demovê-lo da ideia de esticar tanto corda com o STF?

Elsinho Mouco – Porque o ex-presidente é pacificador. Se ele quisesse brigar, chamaria o Collor (Fernando Collor de Mello). Por que não ligou para o Olavo de Carvalho (escritor e guru do clã Bolsonaro) ou para o Luciano Hang (dono da Havan)? Porque ele queria uma solução apaziguadora. E no tabuleiro político brasileiro não tem ninguém melhor com este perfil do que o Temer, com 60 anos de vida pública. O apoio da equipe diante do que aconteceu foi imediato. Porque todos queriam que desse certo. E deu, graças à união de duas pessoas diferentes, que pensam diferente mas que, naquele momento, queriam a mesma coisa. Situação resolvida, às 17h30 já estávamos na base aérea para voltar a São Paulo.

 DLNews – Não é a primeira, nem a segunda vez que o presidente sinaliza para uma postura mais conciliadora e logo em seguida volta ao ataque. Por que desta vez seria diferente?

Elsinho Mouco – Porque dessa vez o Temer tomou o cuidado de que fosse um documento e não um pronunciamento, um discurso. De todo jeito, o ex-presidente fez o que achou que precisava ser feito naquele momento, cumpriu a missão que se propôs, que era apaziguar a relação entre o poderes e liberar as estradas. A partir de agora, é uma opção política de cada um se vai seguir ou não. O fato é que, enquanto o Lula apostou “no quanto pior melhor”, ficando lá na casa dele, o ex-presidente não foi omisso, pensou na nação.

DLNews – Quanto ao restante do STF. Este gesto é suficiente para apaziguar os demais ministros, como o Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, que também vem sendo sistematicamente atacado pelo presidente e seus seguidores?

Elsinho Mouco – Pena que quando Barroso falou na quinta-feira (9) rebatendo os discursos do presidente nos atos do 7 de Setembro, ele ainda não sabia da carta. Mas é perceptível que quando Bolsonaro fez a live dele, mais tarde, pegou mais leve, fez uma fala menos irada, até meio bem humorada, bem diferente. Então, volto a repetir. Depois de tudo isso, eu vi no gabinete um homem lúcido, querendo acertar.

O senhor usou várias vezes o termo pacificador para definir o ex-presidente, tudo que o atual governo precisa. Michel Temer tem interesse em ocupar um cargo na gestão do presidente Jair Bolsonaro?

Elsinho Mouco – Neste momento, Temer  tem o projeto de levantar uma importante discussão sobre o Brasil, que começa no próximo dia 15 de setembro. Chama-se Democracia em 8 atos – Novo rumo para o Brasil. É um trabalho que vai envolver mais de 40 especialistas e que conta ainda com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, mais o ex-ministro Nelson Jobim. Trata-se da segunda edição do projeto Ponte para o Futuro. A primeira edição foi levada para a então presidente Dilma Rousseff que viu naquilo uma proposta de oposição e engavetou. Tanto que quando Temer assumiu a presidência, nosso programa de governo estava pronto.

 

DLNews – O ex-presidente Michel Temer vai disputar as eleições do ano que vem?

Elsinho Mouco – Temer não permite agora a discussão eleitoral. Ele está muito preocupado com a pandemia e com a economia. Não admite atropelar estas questões urgentes. A decisão de disputar algum cargo ou apoiar um nome vai ficar lá para frente.

DLNews – Pessoalmente, o senhor daria uma nota para o governo do presidente Jair Bolsonaro?

Elsinho Mouco – Acho que esse negócio de nota distorce muito a coisa. Se fosse para dar uma nota ao auxílio emergencial, por exemplo, eu daria mais de dez. Mas se fosse para dar uma nota para a relação com os poderes, eu daria zero. Entende? Mas, no geral, tem muita coisa boa sendo feita. O auxílio emergencial é um exemplo. O governo colocou uma Itália na fila para receber essa ajuda no momento de grave crise provocada pela pandemia. Isso salvou muita gente e muitas microempresas. O presidente Bolsonaro tem talento, sim. Fez a Reforma da Previdência sem um único tiro. Vimos na Argentina os protestos com tiros, gente ferida. Ele tem muita entrega. Tem muito para a gente não trabalhar impeachment.

Nem Lula Nem Bolsonaro

Foram vazias as manifestações convocadas para o domingo em todo o país pelo Movimento Brasil Livre e Vem Pra Rua, pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Na Avenida Paulista, segundo os cálculos da Secretaria de Segurança Pública, havia cerca de seis mil pessoas. Na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, não chegou a mil. O MBL chegou a suavizar seu discurso — inicialmente o slogan era Nem Lula, Nem Bolsonaro — e assim atraiu parte da esquerda: PDT e PCdoB estavam presentes, assim como a UNE e a UJS.

Lideranças

Lideranças políticas não faltaram. “Para fazer o impeachment e proteger a democracia brasileira temos que juntar todo mundo”, disse na Paulista o ex-ministro Ciro Gomes, candidato à presidência pelo PDT. “Ainda há tempo para o PT amadurecer. Quem for democrata tem que entender que o impeachment é a a única saída. Precisamos fazer um acordo com a direita e um centro democrático.” Também foram o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) e os senadores Simone Tebet (MDB-MS) e Alessandro Vieira (Cidadania-MA).           O governador paulista João Doria, pré-candidato tucano ao Planalto, também cobrou a presença do PT. “Temos que estar juntos e formar uma grande frente democrática”, argumentou no carro de som. Mas defendeu a manifestação. “Não é algo feito com ansiedade. Esse é o primeiro movimento a partir da liberação da quarentena.”

Urnas eletrônicas

O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, aproveitou as  duas eleições suplementares para prefeito no estado do Rio para demonstrar o processo de auditoria das urnas eletrônicas. Algumas das máquinas foram sorteadas e trazidas para a sede do TRE, onde foi simulada uma eleição com votos impressos para depois fazer a recontagem e demonstrar a lisura do voto digital. “Temos total confiança no sistema, mas estamos aumentando a transparência para desfazer qualquer dúvida que possa existir”, disse o ministro.

Barroso planeja abrir o código-fonte das urnas aos técnicos que representam partidos políticos em um evento marcado para 4 de outubro. A medida faz parte dos hábitos do TSE em todas as eleições mas, para o pleito de 2022, está sendo antecipada.

Fonte DLNews, Canal Meio e Blog do Bosco

 

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