A moça vestida de funcionária pública
uniforme azul marinho
realçava ainda mais tão bela cor!
A moça vestida de funcionária pública
sobe a rua do Parque dos Poderes
e o meu coração
Com um sorriso branco, burocrático,
a moça vestida de funcionária pública
fustiga-me e desarma-me
Me coloca nu
como uma faca
descascando a maçã
ou como um facão
limpando a cana
Me despe todo
Desarmado me acanho
e não ouso investir
em sua boca
que teria gosto de mel?
ou quem sabe de fel?
E nesta hora
de pura e burra indecisão
a moça vestida de funcionária pública
me usa, me engole,
me toma ao seu sabor
como se agitasse no liquidificador
do seu desconhecido interior
Acanhado e inebriado
transformado em mil sabores
ou em raios multicores
não invisto no seu corpo
que seria como numa ficção:
sonho de uma história de fadas
ainda inacabada
ou quem sabe não escrita
Em devaneios loucos
perverto suas manhãs
cheirando jasmins e hortelãs
me perdendo no pequeno espaço
do tempo em que passou
a moça vestida de funcionária pública
Doravante, deixo tudo para ver passar
a moça vestida de funcionária pública
que sobe a rua do Parque dos Poderes
e o meu coração.
Por Bosco Martins