Tag: Manuel Bandeira

Devolvam minha Bandeira – a Manuel Bandeira

Devolvam minha Bandeira – a Manuel Bandeira

Destaque, Poético
Quem roubou minha bandeira? Quem roubou o meu Bandeira? Hoje, ao alimentar minh’alma Não encontrei o meu Bandeira Impaciente, quase perdi a calma. Cadê minha bandeira, o Bandeira? Quem roubou minha bandeira? Não a bandeira pedaço de pano Hasteada num pau Não bandeira da corporação Não bandeira do partido Muito menos o distintivo da nação! Devolvam o meu Bandeira, É meu, afinal Que seja por bem Ou então será por mal. Não o bandeira, tamanduá Cuja cauda parece uma bandeirola Nem o cata-vento metálico no alto das torres Muito menos a bandeira ensinada na escola! Quero minha bandeira, o Bandeira. Quem roubou o meu Bandeira? Não a bandeira da expedição Não o estandarte Nem a passeata religiosa Muito menos o glorioso pendão! Exijo o meu Bandeira O B
Poema de finados

Poema de finados

Destaque, Poético
Amanhã que é dia dos mortos Vai ao cemitério. Vai E procura entre as sepulturas A sepultura de meu pai. Leva três rosas bem bonitas. Ajoelha e reza uma oração. Não pelo pai, mas pelo filho: O filho tem mais precisão. O que resta de mim na vida É a amargura do que sofri. Pois nada quero, nada espero. E em verdade estou morto ali. Por Manuel Bandeira Assista também ao programa "Prosa e Segredos, Ontem, Hoje e Sempre, com Bosco Martins", com pós-produção/texto e edição de Allison Ishy e pós-produção/edição de vinhetas e pílulas de Roque Martins, que divulga o Documento Regional – Raridades com o programa Poesia Total I e II, pílula 33, onde o poeta e jornalista Bosco Martins declama poemas de sua autoria e de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Astor Piazzolla, V
Dama Branca

Dama Branca

Destaque, Poético
A Dama Branca que eu encontrei, Faz tantos anos, Na minha vida sem lei nem rei, Sorriu-me em todos os desenganos. Era sorriso de compaixão? Era sorriso de zombaria? Não era mofa nem dó. Senão, Só nas tristezas me sorriria. E a Dama Branca sorriu também A cada júbilo interior. Sorria querendo bem. E todavia não era amor. Era desejo? – Credo! de tísicos? Por história… quem sabe lá?… A Dama tinha caprichos físicos: Era uma estranha vulgívaga. Ela era o gênio da corrupção. Tábua de vícios adulterinos. Tivera amantes: uma porção. Até mulheres. Até meninos. Ao pobre amante que lhe queria, Se lhe furtava sarcástica. Com uns perjura, com outros fria, Com outros má, – A Dama Branca que eu encontrei, Há tantos anos, Na minha vida sem lei nem rei, Sorriu-me to
Poema só para Jaime Ovalle

Poema só para Jaime Ovalle

Destaque, Poético
Quando hoje acordei, ainda fazia escuro (Embora a manhã já estivesse avançada). Chovia. Chovia uma triste chuva de resignação Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite. Então me levantei, Bebi o café que eu mesmo preparei, Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando... - Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei. Por Manuel Bandeira Assista também ao programa "Prosa e Segredos, Ontem, Hoje e Sempre, com Bosco Martins", com pós-produção/texto e edição de Allison Ishy e pós-produção/edição de vinhetas e pílulas de Roque Martins, que divulga o Documento Regional – Raridades com o programa Poesia Total I e II, pílula 31, onde o poeta e jornalista Bosco Martins declama poemas de sua autoria e de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Ba
Rondó de efeito

Rondó de efeito

Destaque, Poético
Olhei para ela com toda a força. Disse que ela era boa. Que ela era gostosa, Que ela era bonita pra burro: Não fez efeito. Virei pirata: Dei em cima dela de todas as maneiras, Utilizei o bonde, o automóvel, o passeio a pé, Falei de macumba, ofereci pó... À toa: não fez efeito. Então banquei o sentimental: Fiquei com olheiras, Ajoelhei, Chorei, Me rasguei todo, Fiz versinhos, Cantei as modinhas mais tristes do repertório do Nôzinho. Escrevi cartinhas e pra acertar a mão, li Elvira a Morta Virgem, romance primoroso e por tal forma comovente que ninguém pode lê-lo sem derramar copiosas lágrimas... Perdi meu tempo: não fez efeito. Meu Deus que mulher durinha! Foi um buraco na minha vida. Mas eu mato ela na cabeça: Vou lhe mandar uma caixinha de Minorativas,
A Espada de Ouro

A Espada de Ouro

Destaque, Poético
Excelentíssimo General Henrique Duffles Teixeira Lott, A espada de ouro que, por escote, Os seus cupinchas lhe vão brindar, Não vale nada (não leve a mal Que assim lhe fale) se comparada Com a velha espada De aço forjada, Como as demais. Espadas estas Que a Pátria pobre, de mãos honestas, Dá a seus soldados e generais. Seu aço limpo vem das raízes Batalhadoras da nossa história: Aço que fala dos que, felizes, Tombaram puros no chão da glória! O ouro da outra é ouro tirado, Ouro raspado Pelas mãos sujas da pelegada Do bolso gordo dos salafrários Do bolso raso dos operários. É ouro sinistro, Ouro mareado: Mancha o Ministro, Mancha o Soldado. Por Manuel Bandeira Assista também ao programa "Prosa e Segredos, Ontem, Hoje e Sempre, com Bosco Martins", com pó
Madrigal melancólico

Madrigal melancólico

Poético
O que eu adoro em ti, Não é a tua beleza. A beleza, é em nós que ela existe. A beleza é um conceito. E a beleza é triste. Não é triste em si, Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza. O que eu adoro em ti, Não é a tua inteligência. Não é o teu espírito sutil, Tão ágil, tão luminoso, – Ave solta no céu matinal da montanha. Nem é a tua ciência Do coração dos homens e das coisas. O que eu adoro em ti, Não é a tua graça musical, Sucessiva e renovada a cada momento, Graça aérea como o teu próprio pensamento. Graça que perturba e que satisfaz. O que eu adoro em ti, Não é a mãe que já perdi, E nem meu pai. O que eu adoro em tua natureza, Não é o profundo instinto matinal Em teu flanco aberto como uma ferida. Nem a tua pureza. Nem a tua impureza. O
Momento num café

Momento num café

Poético
Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida. Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado Olhando o esquife longamente Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade Que a vida é traição E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta. Por Manuel Bandeira Assista também ao programa "Prosa e Segredos, Ontem, Hoje e Sempre, com Bosco Martins", com pós-produção/texto e edição de Allison Ishy e pós-produção/edição de vinhetas e pílulas de Roque Martins, que divulga o Documento Regional – Raridades com o programa Poesia Total I e II, pílula 18, onde o poeta e jornalista Bosco Martins decla
Arte de amar

Arte de amar

Poético
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma é que estraga o amor. Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma. Só em Deus – ou fora do mundo. As almas são incomunicáveis. Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não. Por Manuel Bandeira Assista também ao programa "Prosa e Segredos, Ontem, Hoje e Sempre, com Bosco Martins", com pós-produção/texto e edição de Allison Ishy e pós-produção/edição de vinhetas e pílulas de Roque Martins, que divulga o Documento Regional – Raridades com o programa Poesia Total I e II, pílula 15, onde o poeta e jornalista Bosco Martins declama poemas de sua autoria e de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Astor Piazzolla, Vinicius de Moraes, Manoel de Ba
Entrevista

Entrevista

Poético
Vida que morre e que subsiste Vária, absurda, sórdida, ávida, Má! Se me indagar um qualquer Repórter: "Que há de mais bonito No ingrato mundo?" Não hesito; Responderei: "De mais bonito Não sei dizer. Mas de mais triste, — De mais triste é uma mulher Grávida. Qualquer mulher grávida." Por Manuel Bandeira Assista também ao programa "Prosa e Segredos, Ontem, Hoje e Sempre, com Bosco Martins", com pós-produção/texto e edição de Allison Ishy e pós-produção/edição de vinhetas e pílulas de Roque Martins, que divulga o Documento Regional – Raridades com o programa Poesia Total I e II, pílula 14, onde o poeta e jornalista Bosco Martins declama poemas de sua autoria e de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Astor Piazzolla, Vinicius de Moraes, Manoel de Barros e Antôn