26 Jan 2019

#KonMari

Sophie Gilbert, na Atlantic: “Mais de 192 mil fotos de gavetas de meias separadas por cores no Instagram agora levam a hashtag #KonMari. Lojas de segunda mão em todo os EUA informam sobre arrecadação recorde de doações. Em apenas três semanas, Marie Kondo passou de uma autora de best-sellers para um fanatismo cultural. Em parte, isso se deve ao alcance prodigioso da Netflix, especialmente entre os millenials. Mas o sucesso da série Ordem na Casa (Netflix) também se deve a como alguns episódios se encaixam com o nosso momento cultural, uma época em que a identidade e as realizações são métricas visuais para serem publicamente exibidas, e um lar feliz é perfeito para isso. Para os millennials como eu, o desejo de ostentar nossa proeza de arrumação não é apenas um espetáculo. Um estudo de 2017 descobriu que exibimos taxas mais altas de perfeccionismo do que as gerações anteriores, em parte porque fomos criados com a ideia de que nosso sucesso futuro depende de sermos excepcionais. Mas também estamos lutando com o que significa realmente crescer. Os marcadores aspiracionais da idade adulta costumavam ser relativamente diretos: formatura, casamento, filhos, casa própria, um plano de aposentadoria. Mas agora que estamos tão sobrecarregados de dívidas estudantis que comprar uma casa para morar é uma dificuldade, a idade adulta é mais complicada. É mais performativa. É #KonMari.”

Para ver com calma: A turma do Brainstorm9 pesquisou e encontrou online, 7 dos 15 curta metragens que foram indicados ao Oscar 2019.

Gastamos 28% do nosso tempo de trabalho lendo e respondendo emails. Em geral as pessoas se dividem em dois extremos: os radicais do inbox zero, obsessivos em manter a caixa de entrada limpa e organizada; e os que já jogaram a toalha, e não se preocupam mais em tentar limpar e lidar com cada uma das mensagens. Artigo publicado essa semana na Harvard Business Review sugere uma alternativa simples: cheque seu email menos vezes por dia. Uma consultoria de gestão de tempo coletou uma série de dados e chegou a uma série de conclusões.

Na média, as pessoas checam email 15 vezes por dia, uma vez a cada 37 minutos, preocupados em dar respostas imediatas às mensagens. Mas uma outra pesquisa mostra que apenas 11% dos clientes, e 8% dos colegas de empresa, esperam resposta em menos de uma hora.

Para os que dizem que não precisam organizar a caixa de entrada, pois a busca já é boa o suficiente, a pesquisa traz más notícias: lidar com uma caixa de entrada cheia gasta 27 minutos por dia a mais do que uma limpa.

Por outro lado, ficar organizando emails sistematicamente em pastas gera um gasto de 14 minutos por dia. A sugestão é lidar com os emails imediatamente, quando ler: ou responde, ou deleta, ou arquiva. O que precisar de tempo para uma resposta deve ser tirado da caixa de emails e colocado em uma lista de tarefas.

Outra opção, mais radical é decretar falência de seu email.

Vídeos e celulares entre os mais clicados essa semana:

1. Youtube: O momento em que um meteoro atinge a lua em pleno eclipse.

2. CNet: Uma galeria sobre o que faz um celular se tornar sexy.

3. Youtube: O impressionante demo do protótipo do celular dobrável da Xiaomi.

4. Nexo: O quanto os países erram na percepção de si mesmos.

A inacreditável oposição venezuelana

Mesmo para muitos venezuelanos, o rosto de Juan Guaidó, que aos 35 anos jurou na quarta-feira a Constituição do país assumindo interinamente a presidência, é desconhecido. Seu gesto é um quê mais do que simbólico — vem de uma extensa costura diplomática envolvendo EUA, Brasil, e inúmeros vizinhos. Faria parecer, ao espectador pouco atento, que Guaidó é parte da ascensão da direita na região em disputa para tirar o chavismo do poder. E, no entanto, dentro da oposição venezuelana, a Voluntad Popular, seu partido, é visto como radical. De esquerda.

No Brasil, formou-se este mito de que a oposição ao chavismo é composta por velhas elites conservadoras. É um dito que se repete nas conversas políticas do almoço entre executivos à mesa de bar dos estudantes. Mas é uma afirmação que não se sustenta. Ainda há políticos cujas carreiras já eram sólidas antes de Hugo Chávez se eleger, em 1999. Casos, por exemplo, de Antonio Ledezma, um conservador ex-prefeito de Caracas, e Ramón Guillermo Aveledo, um cientista político que vem do socialismo cristão, que nos anos 1990 chegou a presidir o Congresso, e dedicou a última década e pouco a tentar dar unidade à oposição. Mas são exceções. Num país em que os partidos foram dizimados pelos Bolivarianos no poder, predomina o personalismo de alguns líderes políticos. Mas há quatro legendas, quatro partidos, que dão mostra do que seria a disputa política venezuelana num provável futuro pós-Nicolás Maduro.

O primeiro, que agora ganhou proeminência, é justamente o mais jovem — Voluntad Popular. É difícil encontrar um paralelo brasileiro. Mas, se Leonel Brizola fosse um político jovem e vigoroso naquele tempo, a VP seria como um PDT dos anos 1980. Um partido de esquerda com um pé no populismo, afiliado à Internacional Socialista, com muitos nomes relevantes e reconhecidos que orbitam um líder particularmente carismático. O líder do partido do presidente interino é Leopoldo López. E sua trajetória política se confunde com a de seu partido.

López, de 47 anos, foi sentenciado a 13 anos e nove meses de detenção por ter liderado protestos de rua. Preso em fevereiro de 2014, teve o regime aliviado para prisão domiciliar em julho de 2017. Estava magro, com sérios problemas de saúde pelos maus-tratos, e raramente lhe autorizam que fale. Sua carreira começou justamente nos protestos de rua, em 2002, quando despontou como um dos líderes das passeatas favoráveis a um frustrado golpe de Estado contra Hugo Chávez. Demorou a se firmar num partido. Fez parte de um movimento por reformas no poder judiciário chamado Primero Justicia e, quando este se formalizou como legenda política, López o abandonou por acha-lo conservador. Tentou se firmar no Un Nuevo Tiempo, de centro-esquerda. Foi expulso por conta de um temperamento dado a conflitos. Sempre um líder com aptidão para as ruas, esteve à frente do movimento que conseguiu derrubar o plebiscito por uma reforma constitucional proposta por Chávez, em 2007. Foi a primeira grande derrota eleitoral do líder bolivariano e, naquele momento, López enfim encontrou sua turma no nascente movimento estudantil — a chamada geração de 2007. Um desses rapazes, Freddy Guevara, vive já há dois anos na Embaixada do Chile, em Caracas, por medo. Outro é o atual presidente da Assembleia Nacional e personagem da semana — Juan Guaidó. Pois foi com eles que López fundou seu partido político, o Voluntad Popular.

O VP tem a terceira bancada na Assembleia, com 16 parlamentares. Foi eleito como parte de uma grande federação de legendas organizada por Ramón Aveledo, a Mesa de la Unidad Democrática. Criada em 2006 para resistir ao regime chavista, partia desde o início do pressuposto de que seria possível vencer os bolivarianos nas urnas. Em 2012, a MUD lançou Henrique Capriles Radonski à presidência e, pelas pesquisas, pareceu ter chances de ganhar. Mas não deu – Chávez foi reencaminhado para um terceiro mandato com 55% dos votos contra 44% de Capriles, numa eleição em que o voto de cabresto imperou. Após a morte de Chávez, em 2013, houve nova eleição que muitos acusam de ter sido fraudada. Novamente candidato da Mesa, Capriles perdeu para Nicolás Maduro: 49,1% contra 50,6%.

Capriles, de 46 anos, um homem profundamente católico, teve seus direitos políticos cassados. É o método Maduro: vai bloqueando os adversários relevantes. Seu partido é o maior dentre os que compõem a Mesa, Primero Justicia, e se a marca do DEM brasileiro não fosse tão fisiológica, poderiam ser equivalentes. Ou um DEM, ou a banda alckmista do PSDB. Nenhum partido da oposição tem acesso a algum tipo de poder que lhe permita fisiologismo real: o que há é risco constante. Mas, nascido de um movimento frustrado por reforma judicial, se afirma como uma legenda de ‘centro-humanismo’. No espectro do país, quando comparado às outras legendas da Mesa, pode perfeitamente ser encaixado na centro-direita. Sua bancada: 27 parlamentares.

A segunda maior legenda da Mesa é a Acción Democrática, com 26. Diferentemente dos outros, é um partido antigo, que data de 1941. Tem um tanto de MDB: nasceu à esquerda, esteve na oposição à ditadura militar que governou o país entre 1948 e 58, e passou pela presidência tantas vezes que se perde de vista. Ideologicamente, é amorfo — como um Centrão. O símbolo máximo do corrupto porém democrático período anterior a Hugo Chávez, Carlos Andrés Pérez — talvez um José Sarney de lá — pertencia à AD. Foi justamente seu desgaste pelos muitos anos no poder que fez de Chávez um líder de oposição importante, em fins do século 20. E é na AD que o velho Antonio Ledezma, cria do ex-presidente Pérez, hoje exilado na Espanha, se formou. Ledezma é o principal articulador do apoio internacional à interinidade de Juan Guaidó. Passou os últimos meses nesta costura, de Madrid a Washington, passando por Bogotá e por Brasília, onde se reuniu nos primeiros dias do ano com o chanceler Ernesto Araújo.

É, forçando a metáfora, como se Renan Calheiros articulasse para que um jovem discípulo de Ciro Gomes assumisse a presidência. Um cenário de todo improvável, mas é isto que ditaduras fazem: reúnem as forças políticas todas. Assim como do MDB da Ditadura saíram de PT a PSDB e dois terços dos partidos brasileiros, o mesmo ocorre na Venezuela.

O Primero Justicia tem 27 parlamentares, a Acción Democrática, 26, a Voluntad Popular, 16 e, por fim, na centro-esquerda fica Un Nuevo Tiempo, com 15. São as quatro maiores legendas formadoras da Mesa, mas não as únicas. Ao todo, a frente elegeu 110 parlamentares dos 167 que formam a Assembleia. Foi uma estrondosa derrota eleitoral para os bolivarianos. Maduro respondeu por tirar, do Poder Legislativo, seu poder. É um parlamento sem autoridade com mandato até 2021. Maduro foi além: convocou uma eleição presidencial realizada às pressas em maio do ano passado e proibiu a Mesa de participar do pleito. Foram às urnas 41% dos venezuelanos, o menor índice na longeva história de votos no país. O Parlamento, em conjunto com inúmeros países, não reconheceu o resultado. E é daí que surge o impasse atual: se a eleição na qual o principal grupo de oposição foi proibido de concorrer não é reconhecida, quando tomou posse para seu novo mandato em janeiro, Maduro assumiu um cargo que não seria seu por direito. Seguindo a Constituição, em estando vaga a presidência da República, é o presidente da Assembleia Nacional que a assume para convocar novas eleições.

Os bolivarianos não têm traço de popularidade, não têm controle da economia, mas ao menos por enquanto têm apoio das Forças Armadas. É o que lhes mantém no poder. A Mesa de La Unidad Democrática partia do princípio de que seria possível derrotar o regime em eleições. Bastava à oposição disputar unida um pleito após o outro. Em 2018, teria vencido. Mas seus principais líderes foram afastados e, no fim, à MUD foi negado o direito de brigar.

Não existe mais a Mesa — não como agremiação de partidos. Foi substituída pelo Frente Amplio Venezuela Livre, que além dos partidos reúne ainda universidades, o movimento estudantil, sindicatos, ongs. Se é uma raposa velha como Ledezma que articulou por fora o apoio externo, a composição interna é muito ampla. Mas ainda não está claro se é suficiente para fraturar de vez o regime.

Fonte: @Meio

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