Antes mesmo de o sol nascer à estrada de chão que leva a Capela de Sinhozinho, a pouco mais de 12 km da cidade, já estava iluminada pelas velas e lanternas dos peregrinos que iam e vinham do santuário. Na cidade de Bonito, interior de Mato Grosso do Sul, o Dia de Nossa Senhora da Aparecida é marcado pelo intenso movimento no local, construído por volta de 1944 pelo próprio Sinhozinho.
Devoto de Nossa Senhora, o ‘profeta’, como alguns ainda o chamam, foi um personagem importante da história do município, porque apareceu por ali quando tudo não passava de um vilarejo e a única figura religiosa a qual os moradores tinham acesso, era o padre do município mais próximo, que vinha no local de tempos em tempos. Conforme relatos de seus seguidores, Sinhozinho foi um líder messiânico, de simplicidade igualada a Jesus a Cristo, que se comunicava apenas por gestos.
Alguns afirmam que devido aos milagres realizados por ele, alguns comerciantes e farmacêuticos locais usaram de suas influências para prendê-lo e torturá-lo, mas que após as agressões, Sinhozinho teria sumido de dentro da cadeia e nunca seria visto.
Até hoje alguns seguidores se reúnem no local para fazer orações em diversas épocas do ano, mas é no dia 12 de outubro, quando se comemora o Dia da Padroeira do Brasil, que a Capelinha ganha vida e fica lotada de fieis. Além de sediar a Santa Missa, nesta data muitas pessoas aproveitam para pagar promessas e presentear as crianças com doces e lanches.
Seu Lúcio Sanches, 67, e Dona Nilza Jacques, 61, moram perto da Capela e todo domingo fazem suas orações ali. Mas no Dia da Padroeira, vão de carro até a cidade, para participar da romaria, percorrendo o trajeto a pés. “Meu tio, Hilário Sanches, era dono dessa propriedade naquela época e seguiu os passos de Sinhozinho, agora a gente mantém a fé as rezas freqüentes”, explica o idoso.
Já Fabiana Rocha, 31, e Rubilson Becker, 35, levam doces para distribuir as crianças que participam da missa, como forma de agradecer as bênçãos conquistadas. “Eu sou devota de Nossa Senhora e prometi a ela que faria isso se ela me abençoa-se com um filho. Hoje minha menina tem seis anos, mas ainda sim continuamos trazendo os doces todos os anos, porque o sorriso no rosto das crianças e inigualável”, conta Fabiana.
Há ainda, quem queira retratar a ocasião e eternizar a história de fé que envolve a Capela. A artista plástica Lúcia Sebber está colhendo materiais para escrever um livro sobre Sinhozinho e hoje, aproveitou a ocasião para expor sua nova criação, uma escultura do profeta, recriada a partir do relato de seus seguidores. A verba arrecada com imagem será convertida para reforma da igrejinha.
Por fim, o padre Israel, que chegou para missa de bicicleta, junto com um grupo de ciclistas, reforçou o pedido de respeito pelo local, tanto para os devotos de Sinhozinho como para os de Nossa Senhora e começou a missa apresentando a uma réplica da imagem da Santa, vinda do Santuário de Aparecida do Norte, para passar uma temporada em Bonito.
Autora: Kemila Pellin/Portal da Educativa