Autor da obra de Manoel de Barros questiona existência de sítio histórico militar na Afonso Pena

Ique e a viúva de Manoel de Barros, Stella

Reportagem publicada no Portal da Educativa em 20 de setembro de 2017.

Por Kemila Pellin

A escolha do local definitivo para a estátua que marca o centenário de Manoel de Barros continua gerando polêmica. O laudo negativo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHGMS) para instalação da obra no canteiro central da Avenida Afonso Pena, entre as ruas Rui Barbosa e 13 de Maio, foi repercutido em todo Estado e ganhou destaque nacional com reportagem divulgada no Correio Braziliense, de autoria do jornalista e amigo do poeta, Bosco Martins. O autor da obra, cartunista e escultor campo-grandense Victor Henrique Woitschach – Ique – também se posicionou publicamente nas redes sociais, questionando a existência de sítio histórico militar.

“Mesmo tendo que acatar decisão judicial, a liberdade de expressão me permite questionar alguns pontos. O “sítio histórico” abrangendo todo o canteiro daquele quarteirão é uma das questões. Em que órgão público está regulamentado, registrado essa demarcação? Mas essa não é a principal questão, que o Correio Brasiliense ignorou apesar de estar registrado em minhas redes sociais. A principal questão é sobre o “sítio arqueológico militar”. Está na decisão. Por definição, esse “sítio arqueológico” tem que guardar fósseis valiosíssimos. Tem alguma ossada de dinossauro lá? Quem descobriu tal preciosidade? Também tem documento atestando isso por especialistas? Acho que o juízo foi induzido ao erro ao incluir em sua decisão um “sítio arqueológico militar”. Se realmente ele existir, acho que vai ser uma novidade e uma grande surpresa não só pra mim, mas para todos. O fato é que, existindo realmente, mesmo sem a instalação do Manoel, a preservação desse “sítio arqueológico militar” está ameaçada da forma que se encontra, sem nenhuma conduta técnica protetora da área. Enfim, criaram um monstro. Criaram uma história fantasiosa pra justificar uma conduta política mesquinha carregada de vaidade descabida. Se nenhuma autoridade protocolar algum agravo, a decisão judicial vai ser cumprida integralmente. Lamento pelo que a cidade vai perder, e por toda essa polêmica absolutamente desnecessária. Como um profissional que respeita as leis e tem compromisso com aquilo que se propõe, vou ter que adaptar minha concepção inicial para que minha obra seja instalada em novo local pra que possamos ter paz o quanto antes. Só o desrespeito ao Manoel de Barros e tudo que ele representa me deixa inconformado”, disse Ique em comentário a divulgação da reportagem na página de Martins.

As discussões foram retomadas no último final de semana, também pelas redes sociais, após compartilhamento do artigo ‘Arte no Mato Grosso do Sul é tratada como boi para engorda’. Na ocasião, Ique já questionava a existência de avaliações técnicas especializadas que comprovem a existência de um sítio histórico militar no local, como afirmou o laudo IHGMS.

“O IHG foi mais criativo e demarcou o quarteirão inteirão como “sítio arqueológico”, e por essa razão, e simplesmente por essa razão, emitiu parecer contrário que sequer foi questionado pelas autoridades competentes… Cadê o documento assinado por técnicos especializados atestando isso? Arqueólogos foram chamados pra comprovar tal afirmação?…”.

A primeira publicação também recebeu comentários do gerente de Patrimônio Cultural da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), Caciano Lima, que destacou os laudos favoráveis. “Lembrando que FCMS, Sectur e Iphan, por meio de seus técnicos com amplo conhecimento na causa e que dialogam com a contemporaneidade, emitiram laudos favoráveis à instalação no local”.

Já a superintende do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Maria Clara Scardini, destacou que o local citado está fora da área de fiscalização e controle do órgão, por isso não pode interferir diretamente na decisão.

A estátua de Manoel sentando no sofá de sua casa homenageia o centenário do poeta e marca os 40 anos de Mato Grosso do Sul. Feita com 400 quilos de bronze e ao custo de R$ 232 mil pagos pelo governo do estado, ela foi entregue no dia 18 de abril deste ano e até agora não recebeu destinação adequada devido à recomendação da 26ª Promotoria de Justiça, emitida à Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb) da Prefeitura de Campo Grande, para não instalá-la no cartão postal da capital sul-mato-grossense.

A decisão foi baseada no laudo negativo do IHGMS e segundo a promotora Luz Marina Borges Maciel Pinheiro, no fato do canteiro central da avenida ter sido tombado como patrimônio histórico e cultural, “com trânsito em julgado, proferida pela 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, e nenhuma intervenção pode ser realizada sem o respaldo de dois pareceres técnicos emitidos pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur) e pelo IHGMS, órgãos de defesa do patrimônio histórico e cultura’.

Exposição no Marco

Enquanto não decidem o ‘futuro de Manoel’, a estátua ficará exposta no Museu de Arte Contemporânea (Marco), em Campo Grande a partir desta terça-feira (19)

O secretário de Estado de Cultura e Cidadania, Athayde Nery, destacou que o Governo de Mato Grosso do Sul resolveu transferir a estátua para o Marco até que seja encontrado um espaço em local público para o poeta.

Já sobre o local definitivo da estátua, Athayde destacou que existem dois locais cogitados para receber a escultura, o Parque das Nações Indígenas e a Avenida do Poeta, no Parque dos Poderes.

O Marco abre das 7h30 às 17h30 de terça à sexta-feira. Aos sábados, domingos e feriados, o funcionamento é das 14 às 18 horas.

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