01 Abr 2020

Bolsonaro distorce posição da OMS mas recua no confronto

O presidente Jair Bolsonaro voltou ontem à cadeia nacional de rádio e TV para fazer seu quarto pronunciamento sobre a crise do coronavírus. O tom foi outro, recuou do confronto. “Minha preocupação sempre foi salvar vidas”, afirmou. “Tanto as que perderemos pela pandemia como aquelas que serão atingidas pelo desemprego, violência e fome.” Bolsonaro não fez defesa enfática da política de isolamento vertical, — em que apenas os mais vulneráveis à Covid-19 ficam em casa —, na qual vinha insistindo. Mas também não abraçou a horizontal, prática adotada em boa parte do mundo e defendida tanto pela Organização Mundial de Saúde quanto seu próprio Ministério da Saúde. Insistiu, porém, no apelo que, ele acredita, o permite alcançar as camadas mais pobres da população. “Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que, da mesma forma, precisamos pensar nos mais vulneráveis. Essa tem sido a minha preocupação desde o princípio. O que será do camelô, do ambulante, do vendedor de churrasquinho, da diarista, do ajudante de pedreiro, do caminhoneiro e dos outros autônomos, com quem venho mantendo contato durante toda minha vida pública?” (G1)

Assista ao pronunciamento do presidente.

O pronunciamento anterior, em que ele partia para o confronto com autoridades de saúde e governadores, havia sido escrito no gabinete do ódio e com apoio a ala ideológica do governo. O resultado foi deixa-lo isolado. Não só o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta manteve a recomendação de quarentena como se afastaram dele até auxiliares importantes, casos de Paulo Guedes, da Economia, e Sérgio Moro, da Justiça. Igualmente se afastaram os generais palacianos e o vice-presidente Hamilton Mourão, embora estes criticassem mais o tom do que a intenção de defender a economia perante o isolamento. Foi a partir de uma conversa com o ex-comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, que o presidente começou a decidir pelo recuo. Para esta nova aparição, Bolsonaro ouviu os ministros Walter Braga Netto, da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo — ambos generais —, além de Tarcísio Freitas, da Infraestrutura. (Folha)

Pois é… Mas a visibilidade da rejeição aumenta. Ontem à noite houve o 15º dia seguido de panelaço nas grandes metrópoles brasileiras. E foi o mais intenso. O presidente ainda está ajustando seu discurso. No Palácio, seus assessores cogitam que retorne novamente à TV, hoje, segundo Andréia Sadi. E pretende ignorar os panelaços. (G1)

Pela manhã, à porta do Alvorada, o presidente usou uma fala feita à véspera pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, para defender o isolamento vertical. Ghebreyesus alertou para as dificuldades financeiras que os mais pobres enfrentariam por conta da quarentena. Bolsonaro não citou que havia um contexto no alerta: o diretor-geral defendia que governos deveriam adotar políticas públicas para mitigar estas dificuldades. Não defendia o fim do isolamento. A OMS precisou reiterar sua posição nas redes por conta da distorção. (Veja)

O ataque do presidente, distorcendo a fala do diretor-geral da OMS sobre preocupação social, irritou a muitos no Congresso. Está na mesa de Bolsonaro, para sanção, o auxílio emergencial de R$ 600 que serve justamente para ajudar nisso. E, no entanto, há hesitação em assinar. O Ministério da Cidadania cogita pagar o auxílio a partir de 16 de abril. “Não parece tão emergencial”, se queixou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “Governo tem toda estrutura para organizar o pagamento antes. É um valor mínimo, não vai resolver os problemas, mas vai dar previsibilidade para os brasileiros superarem os próximos três meses.” (Estadão)

VIVER

O número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil subiu para 201, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados ontem. O registro de 42 mortes em apenas um dia é o maior até agora. Ao todo, o Brasil soma 5.717 casos confirmados da doença. Um salto de 25% com relação ao dia anterior, quando eram contabilizados 4.579 casos. (Folha)

Pois é… os cemitérios públicos da cidade de São Paulo estão recebendo diariamente de 30 a 40 corpos de pessoas que morreram com suspeita de estarem contaminadas pelo novo coronavírus, mas sem que a condição fosse avalizada pelo teste laboratorial. A imensa maioria desses mortos não aparece na contabilização feita pelo Ministério da Saúde como óbitos decorrentes da Covid-19.

Nos principais hospitais de São Paulo, a covid-19 chegou com força. Levantamento dos Hospitais Sírio Libanês, com 104 afastados, e Israelita Albert Einstein, com 348, já somam 452 profissionais da área da saúde afetados. Além disso, um levantamento do Sindicato dos Servidores de São Paulo, com dados do Diário Oficial da Cidade, aponta que de 1.º a 28 de março houve 1.080 afastamentos na rede pública por suspeita de contaminação. A presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo, Solange Caetano, alertou que os trabalhadores dos hospitais e unidades de saúde estão reclamando da falta de equipamentos de proteção individual (EPI), o que prejudica as condições de trabalho em diversos hospitais, ambulatórios, Upas e Amas. (Exame)

E os Estados Unidos ultrapassaram a China no número de mortos. Dados da Universidade de Johns Hopkins contabilizaram ontem 3.415 mortes e 175 mil casos confirmados. A China soma 3.309, com 82,2 mil casos. Nova York se tornou o novo epicentro da infecção, com quase metade do total de mortos do país, 1.550 vítimas. A previsão é que o número continue a crescer e chegue ao ápice em duas semanas. A Itália e a Espanha seguem os países com mais mortes no número total, são 12.428 mortes e 105,7 mil casos e 9.053 mortes e 94,4 mil casos, respectivamente. Em todo mundo são mais de 800 mil casos e 39,5 mil mortes. (HuffPost)

A França tornou-se mais um país a superar a China em número de mortes em decorrência da covid-19. Segundo o governo francês, o país registrou 499 mortes em 24 horas e chegou a 3.523 óbitos. (Estadão)

O presidente Emmanuel Macron apresentou um plano para proteger pequenas empresas. “O Estado protege você”. (Twitter).

E a cura? Cientistas coordenados por um pesquisador brasileiro vão tentar produzir anticorpos contra o Sars-CoV-2 em laboratório. Se tudo der certo, as moléculas poderiam defender as células de pessoas recém-infectadas pelo vírus, sem que o corpo delas precisasse aprender a contra-atacar sozinho. O imunologista Michel Nussenzweig, da Universidade Rockefeller, em Nova York, conta que sua equipe já conseguiu recrutar para o estudo 32 pessoas que se curaram da Covid-19. O objetivo é chegar a cerca de cem voluntários, que doarão seu sangue, contendo células e anticorpos produzidos naturalmente para enfrentar o coronavírus. (Uol)

Michel Nussenzweig: “Tenho a esperança de que o Brasil consiga levar em conta as lições da pandemia a partir da experiência de outros países. As pessoas precisam perceber que, uma vez que esse negócio começa a se espalhar, é muito difícil detê-lo quando não se leva o distanciamento social a sério”.

Quarentena para quem? Empurrando uma carroça ao lado dos filhos de 12 e de 13 anos, a catadora de materiais recicláveis Janaina de Melo diz que a pandemia de coronavírus não vai fazê-la parar.“O movimento na rua está bem baixo. As pessoas não podem sair de casa, não podem fazer festa, churrasco, e não produzem tanta latinha. Nas últimas semanas, caiu muito o volume, e também o preço. (Cada kg de) latinha custava R$ 2,80, mas hoje está R$ 1. A garrafa PET saiu de R$ 1,20 para R$ 0,80 e só o óleo continuou R$ 1 o litro”. Ela enfatiza que não tem condições de obedecer os recados para ficar em casa. O que ela faz é apenas se proteger da maneira que pode, lavando com água e sabão as mãos e a caçamba da carroça que ela usa assim que termina o serviço. “Me vejo fazendo um trabalho essencial, que contribui até com o meio ambiente. Enquanto muitos sujam, eu tiro da rua e faço minha renda. Sei que é pela saúde de todos o isolamento. Mas, se não tiver uma ajuda, quem não tem renda fixa ou dinheiro guardado passará fome. Só quero que tudo se normalize e que a população e o poder público tenham mais respeito pelos catadores”. (BBC)

A Prefeitura de São Paulo inaugura hoje um hospital de campanha no estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu. O complexo municipal, que está sob administração privada desde o ano passado, foi requisitado pela administração para a instalação de 200 leitos que estarão disponíveis para pacientes de baixa complexidade diagnosticados com o novo coronavírus. Enquanto os campeonatos do Brasil estiverem paralisados pela pandemia, o Maracanã, o Morumbi e outros estádios do país receberão mais máscaras e aparelhos do que bolas e chuteiras. (El País)

Por falar em futebol, a Fifa apresentou um plano para colocar à disposição cerca de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,8 bilhões) das suas reservas e fundos emergenciais com o intuito de proporcionar um auxílio à comunidade do futebol por todo o mundo a fim de superar possíveis perdas causadas pela paralisação de campeonatos. (Estadão)

ECONOMIA

Economistas estão cada vez mais menos confiantes de que a trajetória econômica será em V. A expectativa de um retorno econômico logo na segunda metade do ano está caindo: o setor de saúde tem defendido uma volta gradual, mantendo o distanciamento social. Esse “novo normal” implica uma volta lenta no consumo em restaurantes e viagens, por exemplo. O que vai contra aqueles que acreditavam que o fim das quarentenas poderia levar a um boom na demanda. Na China, com a flexibilização no isolamento, o governo ainda tem encontrado dificuldade em convencer as pessoas a voltarem ao mercado local. Os economistas também não estão otimistas em relação ao retorno de empregos. Para o Nobel de Economia Joseph Stiglitz, a pandemia pode piorar o cenário de dívidas das empresas e famílias, que vão recorrer a mais empréstimos. Essa situação pode levar a um impasse financeiro que força aqueles que devem à falência e inadimplência. (Bloomberg)

Pois é. O consumo vem caindo no Brasil. Relatórios de duas bandeiras de cartões de crédito já apontam, esta semana, quedas entre 50% e 60% nas vendas de produtos que não sejam de supermercados e farmácias, aponta Míriam Leitão. (Globo)

As perdas na B3 aumentaram em cinco vezes a recompra de ações em relação a fevereiro. 25 empresas registraram neste mês pedidos de aquisição de seus próprios papeis na CVM. Entre elas estão os três maiores frigoríficos – JBS, Marfrig e BRF. Só para ter uma ideia, em todo o ano de 2019, 30 companhias abriram programas de recompra. A medida serve como estabilizador de preços das ações e é comum em momentos quando os mercados acionários perdem valor. (Estadão)

Por falar em empresas de capital aberto, apenas metade delas tem recursos para aguentar até três meses sem faturar, segundo levantamento do Cemec-Fipe. Das 245 companhias na B3, 23,3% já ficariam com o caixa negativo nos primeiros 30 dias. Esse número sobe para 37,1% após dois meses e para 48,6% em 90 dias. (Estadão)

O governo estuda permitir saques de R$ 1.000 do FGTS. A medida faz parte de um conjunto de ações para conter os efeitos na renda durante a pandemia. A estimativa é injetar aproximadamente R$ 34 bilhões com a nova rodada. Desse valor, R$ 20 bilhões virão do Fundo PIS/Pasep. (Folha)

Aliás, o Senado prepara um super pacote social. A ideia é incluir outras categorias no auxílio de R$ 600, como caminhoneiros, taxistas, motoristas de aplicativos, entre outros. O projeto ainda contará com outras propostas de assistência social – como uma renda básica para todas as pessoas no Cadastro Único. O governo, no entanto, pediu tempo para avaliar o impacto econômico. (Globo)

O FED vai criar um novo mecanismo para suprir a demanda pela moeda. Bancos centrais e autoridades monetárias internacionais poderão trocar temporariamente por dólares seus títulos do Tesouro dos EUA mantidos no FED. A nova operação funcionará em conjunto com as linhas de troca de dólares já criadas pelo FED com outros 14 países, incluindo o Brasil. (Financial Times)

Mesmo com o anúncio, o dólar fechou em alta em R$ 5,20. A moeda americana já subiu 29,6% no ano. O Ibovespa teve dia instável e acabou revertendo recuperação anterior: fechou em -2,17%. Esse é o pior trimestre para a bolsa, que perdeu 36,86% desde o começo do ano. A queda acompanhou os índices americanos, que recuaram com o crescimento de infectados e mortes no país. O S&P 500 fechou em -1,6% e o Dow Jones ficou em -1,84%. (Globo)

Na Ásia o índice Nikkei do Japão caiu -4.5%; Hang Seng de Hong Kong -2.24%. Já a Austrália subiu 3.5%. As bolsas Europeias abriram em queda, cerca de -3%.

CULTURA

Claro que não é a mesma coisa, mas importantes museus pelo mundo disponibilizam em seus sites tours virtuais para quem quer saber mais sobre arte e cultura. Para os apaixonados pelo renascimento italiano, a recomendação é o tour virtual pela Galleria degli Uffizi. Apesar do número pequeno de peças comparado ao dos outros museus (não são mais de 100), a página da galeria no Google Arts & Culture reúne grandes artistas da Itália, como Michelangelo, Leonardo, Botticelli e as obras mais icônicas do período – tudo isso com uma boa quantidade de informações. Confira a seleção dos museus, que inclui também o MASP, em São Paulo.

Muito se tem falado de Shakespeare, que sobreviveu a muitos surtos. Grande parte de seu trabalho foi composto, se não em confinamento, à sombra de uma doença altamente infecciosa sem cura conhecida. Mas ninguém nas peças de Shakespeare morre de peste. Romeu e Julieta, que morrem porque a carta do frade é retida por medidas de quarentena no norte da Itália, são os personagens que têm maior proximidade com a praga. Outra curiosidade: assim como Shakespeare nunca escreveu uma peça na Londres contemporânea, ele também não se dirigiu diretamente à causa mais importante de morte súbita em sua sociedade. (NYT)

COTIDIANO DIGITAL

Facebook, Twitter e Google ainda não estão prontos para conter as fake news para a eleição americana no final do ano. As big techs passaram os últimos anos trabalhando para evitar uma repetição de 2016, quando os russos usaram as plataformas para interferir nas eleições. Mas ao mesmo tempo que seus sistemas se tornaram melhores, os grupos estrangeiros também aprimoraram suas técnicas. Em vez de comprarem anúncios diretamente nas plataformas, agora usam bots que são quase impossíveis de distinguir dos americanos. O foco das empresas em grupos estrangeiros desviou de brechas internas. Nas primárias americanas, a estratégia de Michael Bloomberg, por exemplo, enganou a política do Facebook. Ele pagou diretamente contas de meme do Instagram para postar em apoio à sua candidatura. Para piorar, as big techs enfrentam ainda outra crise: estão tendo que redirecionar os seus recursos e equipes para controlar a desinformação sobre o coronavírus.

Vidas gratuitas e ilimitadas para os jogadores da saga Candy Crush e outros jogos. A King, desenvolvedora mobile, removeu os temporizadores. A mudança dura até 5 de abril e faz parte de uma parceria da Organização Mundial da Saúde chamada #PlayApartTogether, que promove a conscientização sobre as diretrizes de segurança e distanciamento social durante a pandemia de coronavírus. Sete jogos foram atualizados com vidas livres: Candy Crush Saga, Candy Crush Soda Saga, Candy Crush Jelly Saga, Candy Crush Friends Saga, Farm Heroes Saga, Bubble Heroes 3 Saga e Bubble Rescue Saga.

Fonte: @Meio

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