06 Abr 2020

Bolsonaro volta a ameaçar Mandetta

Isolado até de seus ministros, o presidente Jair Bolsonaro voltou a ameaçar ontem Luiz Henrique Mandetta, responsável pela pasta da Saúde. “Algumas pessoas no meu governo, algo subiu à cabeça deles”, afirmou no fim da tarde, pouco antes de se encontrar com um grupo cristão nos jardins do Palácio da Alvorada. “Eram pessoas normais, mas de repente viraram estrelas. Falam pelos cotovelos. Tem provocações. Vai chegar a hora deles. A minha caneta funciona.” O pastor responsável pelo culto que Bolsonaro acompanhou pediu ao presidente que se ajoelhasse junto aos fiéis e garantiu, após a oração, que com a bênção de Deus ninguém mais morreria no Brasil por conta do novo coronavírus. “Não tenho medo de usar a caneta”, seguiu o presidente. “E ela vai ser usada para o bem do Brasil, não é para o meu bem.” (Estadão)

Enquanto isso… Mandetta participou, por vídeo pré-gravado, de duas lives com shows durante o fim de semana. Uma, da dupla sertaneja Jorge e Mateus. A outra da estrela do forró Xand Avião. “É importante que a música chegue”, afirmou o ministro, “mas que a gente não aglutine, que a gente não coloque as pessoas no mesmo lugar. A gente tem que agora proteger um ao outro.” (Poder 360)

O Datafolha ouviu 1.511 brasileiros entre 1º e 3 de abril. Dentre os eleitores do presidente Jair Bolsonaro, 76% dos entrevistados defendem as medidas de isolamento total para impedir contágio, mesmo que em prejuízo da economia e do emprego. 18% são contra. Dois terços defendem que o comércio não essencial fique fechado e 87% que as aulas sigam suspensas. A aprovação de Mandetta alcançou 82% — era 64%, em março. A de Bolsonaro apenas oscilou dentro da margem de erro — está em 56%, era de 54%. O corte, reiterando, é apenas entre os eleitores do presidente. (Folha)

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, criticou de forma dura a maneira como o Planalto atua nas redes sociais. “Toda semana tentam criar uma nova narrativa”, disse ontem à noite em entrevista à Band. “O ministro Mandetta começa, agora, a ser alvo de ataques absurdos desse gabinete do ódio que é comandado do exterior por esse Olavo de Carvalho, eu já faço parte desse ataque de forma permanente, o presidente do Senado, o presidente do Supremo.” Para o deputado, no entanto, a tática do gabinete do ódio vem perdendo a eficácia. “A sociedade nesse momento começa a entender que há muitas informações falsas, muitas mentiras, mas, mais do que isso, muita irresponsabilidade, que tem sido, infelizmente, muitas vezes comandada pelo próprio presidente da República.” (Band)

Embora dependa fortemente de importações de equipamento e insumos de saúde que vêm da China, o governo brasileiro permanece criando incidentes diplomáticos. “Eles têm contato com um monte de bicho que não é para comer”, disse numa live o ministro da Educação, Abraham Weintraub. “Nos próximos dez anos vem outro vírus desse da China? Probabilidade é alta.” No sábado, Weintraub já havia publicado um tuíte ironizando o país, substituindo as letras ‘R’ por ‘L’. A Embaixada protestou. “Tais declarações são completamente absurdas, têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil.” (CNN Brasil)

Pois é… A Alemanha acusou os EUA de pirataria moderna após desviar um carregamento de máscaras hospitalares que estavam vindo da Ásia para o país. Os EUA vêm negociando duro com os chineses por importações para combate ao coronavírus. O Brasil também tem perdido nestes acordos. (BBC)

Pérsio Arida, um dos pais do Plano Real: “Nenhuma sociedade tolera continuar a vida econômica enquanto pessoas morrem na fila de espera do hospital porque não há vagas. A garantia de que não faltará dinheiro para a saúde foi importante, mas muitas medidas anunciadas com pompa e circunstância não saíram do papel. Várias propostas já foram escritas pelos economistas para assegurar uma rede de proteção social efetiva. Do ponto de vista das empresas, devemos postergar o pagamento de impostos e dívidas tributárias para preservar o caixa. Tudo isso vai impactar a dívida pública. Uma coisa, no entanto, é uma dívida que cresce por irresponsabilidade populista dos governantes; outra é um aumento excepcional de dívida diante de circunstâncias excepcionais. A dívida pública, qualquer que seja seu tamanho, sempre pode ser paga. No limite, o Banco Central pode creditar os valores devidos na conta dos detentores dos papéis da dívida. Disso não decorre que seu tamanho não faça diferença. Um estoque muito grande de dívida pública pode gerar pressões inflacionárias, mas só um lunático acharia que corremos um risco inflacionário nas circunstâncias atuais.” (Folha)

Com uma febre alta que não baixa há mais de uma semana, o premiê britânico Boris Johnson foi internado, ontem, por conta da Covid-19. Seus assessores garantem que a medida não é emergencial e que o quadro não tem gravidade, mas não divulgam mais informações ou mesmo em que hospital se deu a internação. O chanceler Dominic Raab, responsável pelas relações exteriores, o substituirá, caso seja necessário, no comando do governo. (Guardian)

A rainha Elizabeth II fez um raro discurso, ontem, no qual elogiou o espírito nacional dos britânicos, destacou o esforço dos profissionais do sistema público de saúde e pediu que a população supere o tempo de ‘dor’ e ‘enormes mudanças’ que a pandemia do coronavírus trouxe. A soberana de 93 anos também agradeceu os que estão permanecendo em casa para evitar a propagação da doença. “Vamos nos encontrar novamente”, ela garantiu.

VIVER

Os números do coronavírus no Brasil, até as 20h50 de ontem: 11.281 casos confirmados, com 487 mortes pela Covid-19. Apenas dois estados ainda não registraram mortes: Acre e Tocantins. Pernambuco registrou mais sete mortes, chegando a 21. Foram quatro mulheres e três homens, todos com mais de 60 anos. O Amazonas registrou a 13ª morte no estado. (G1)

Em paralelo ao avanço da epidemia em centros como Rio, São Paulo e Fortaleza, o ritmo de contaminação também se acelerou em cidades de médio e pequeno porte na última semana. Nesse período, o número de municípios do interior com confirmação do vírus mais que duplicou, com novos registros em 222 cidades que até então não estavam nas estatísticas do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais. Segundo levantamento realizado pelo O Globo, 397 municípios, no total, registram contaminação pela Covid-19.

E cientistas brasileiros vão começar a testar um anticoagulante para tratar casos graves de infecção pelo novo coronavírus. Um protocolo experimental do uso do medicamento heparina está sendo finalizado por profissionais do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, e deve em breve ser avaliado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. (Estadão)

Pois é… a doença avança na América Latina e nos Estados Unidos, que preveem que esta semana representará o momento “Pearl Harbor ou o 11 de Setembro” da epidemia, nas palavras do porta-voz de saúde, Jerome Adams. Enquanto isso, a Europa começa a receber boas notícias. Pela primeira vez desde o início da crise, os dados sobre a situação da Covid-19 na Itália estabilizaram e a curva mostra sinais de declínio. (El País)

Na Espanha, morreram 674 pessoas nas últimas 24 horas – o que situa o balanço total de mortos por coronavírus no país em 12.418. Após uma semana trágica, na qual em 2 de abril foi alcançada a cifra de 950 mortes por dia, as estritas medidas de confinamento parecem começar a dar frutos no país. (Uol)

Passado o pior momento da epidemia na China, o país começa a reativar sua economia, retoma aos poucos o convívio social e se prepara para a vida pós-coronavírus. Com a transmissão comunitária contida, segundo as autoridades chinesas, a maior preocupação passa a ser os casos importados e o risco de uma segunda onda de infecções. (O Globo)

E um aumento no número de infecções e mortes por coronavírus em Estocolmo levantou questões sobre a decisão da Suécia de combater o surto sem recorrer a medidas de confinamento e quarentena. Na contramão dos demais países europeus, a Suécia adotou medidas tímidas, mas agora estuda a implementação de medidas restritivas. (Veja)

A pandemia também esteve presente na fala do Papa Francisco, que celebrou a missa do Domingo de Ramos numa Basílica de São Pedro deserta. (Vatican News)

Quantas pessoas foram infectadas? Quão letal o novo coronavírus realmente é? Quais são todos os sintomas? Qual é o papel que as crianças desempenham na propagação do vírus? De onde exatamente veio o vírus? Haverá menos casos no verão do hemisfério norte? Por que algumas pessoas têm sintomas muito mais graves? É possível adoecer duas vezes? O vírus sofrerá mutação? Ou as 9 coisas que os cientistas ainda não sabem sobre o coronavírus. (BBC)

A telemedicina teve nas duas últimas semanas uma explosão em número de atendimentos. O total de profissionais que passaram a oferecer o serviço também cresceu e consultas a distância entraram na rotina de hospitais, operadoras e clínicas. Segundo levantamento feito pelo Estadão, em alguns casos, a demanda pela teleconsulta aumentou sete vezes em 15 dias. No Hospital Albert Einstein, que desenvolve ações de telemedicina desde 2012, o número de teleconsultas diárias saltou de 80 para 600 após a regulamentação. Atendimentos online não eram permitidos no Brasil até março, mas com a escalada da covid-19 e a necessidade de reduzir a ida desnecessária a prontos-socorros, o Conselho Federal de Medicina (CFM) enviou ofício ao Ministério da Saúde informando que liberava, em caráter temporário, atendimentos virtuais para triagem e monitoramento de pacientes em isolamento. As prescrições dos medicamentos feitas em consulta virtual são enviadas geralmente por e-mail, com assinatura do médico certificada digitalmente. Todas as informações devem ser registradas em um prontuário eletrônico. (Estadão)

CULTURA

A HBO liberou algumas de suas séries mais aclamadas. Sopranos e The Wire estão entre elas.

ECONOMIA

Mesmo que ainda não oficiais, alguns dados já apontam os efeitos do coronavírus na economia brasileira. No mês passado, o faturamento do varejo teve uma queda inédita de 22,6%, segundo o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA). O segmento de serviços, que inclui salões de beleza, bares e restaurantes e atividades de lazer viu a receita cair pela metade na comparação com um ano antes. Enquanto os postos de gasolina tiveram queda no faturamento de 20% na comparação anual. Esses números iniciais apontam para quedas superiores ao visto na recessão de 2014 a 2016, quando a economia encolheu na casa de 3% em dois anos seguidos. (Estadão)

Aliás, com as fábricas paradas, o governo começou a se movimentar e discute com o setor de bebidas para reestruturar sua produção, segundo Lauro Jardim. A ideia é que produzam insumos de saúde como respiradores, luvas e máscaras. (Globo)

Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI: “Estamos vendo a economia global mergulhar tão rapidamente que os estatísticos não estão conseguindo medir, de forma precisa, os efeitos no PIB mundial. Minha suspeita é de que, no curto prazo, a queda da economia global será a maior já vista. Não estou falando da duração da recessão, mas da medida da queda. A volta ao normal vai ser muito lenta. Para a maior parte do mundo, pode ser uma longa recessão. Um certo número de países emergentes deve sentir mais. Se a parada for muito longa ou se houver várias ondas de paradas, definitivamente é possível que vejamos graves problemas de calotes de municípios e no mercado corporativo. Sem falar de um grande estresse no setor bancário. Com certeza, o Brasil é um dos emergentes que estão entrando nisso numa posição mais forte, mas é óbvio que é vulnerável. Particularmente, porque enfrentará um colapso da demanda global, fora a pandemia em si.” (Globo)

Os Estados e municípios gastam mais do que a União com o SUS. Em 2002, o governo federal arcava com 52% das contas, hoje representa 43%. Na média nacional a União ainda é a maior fonte para o SUS, mas 11 estados já superam nas contas, segundo dados de 2017 do Ministério da Saúde. Com a pandemia, a disputa entre Bolsonaro e governadores se acirrou. Muitos têm solicitado mais recursos do governo para o SUS, mas têm encontrado resistência do presidente. (Estadão)

O governo deve lançar uma linha de financiamento de R$ 6 bilhões para micro e pequenas empresas. Segundo o Estadão, a medida está sendo negociada com bancos das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O objetivo é atender os microempresários que ficaram de fora da linha do BNDES, focada em empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. (Estadão)

O debate sobre uma renda mínima universal voltou a tona com o coronavírus. Muitos países, como Brasil, EUA e Alemanha, criaram um auxílio temporário para ajudar os grupos mais vulneráveis durante essa crise. Mas, antes da pandemia, economistas já defendiam uma renda permanente paga pelo Estado. Joseph Stiglitz e Thomas Piketty, por exemplo, defenderam que o benefício reduziria a desigualdade, ajudaria os desempregados e quem se dedica a cuidar de familiares sem remuneração, e equilibraria o aumento da automatização do trabalho. Mas para os críticos, a política é cara e inviável para a maioria dos governos. Para Sergio Firpo, economista e professor do Insper, programas focados na distribuição de renda, como o Bolsa Família, já ajudam na redução de desigualdade. (Globo)

Por falar no auxílio, o economista Ricardo Paes de Barros defende que uma distribuição mais seletiva dos R$ 600 do governo seria mais efetiva. “Algumas pessoas vão precisar desse apoio por um ano, enquanto outras pessoas vão se recuperar rapidamente. É preciso mobilizar todas as instituições, associações comunitárias, para que a gente consiga identificar as pessoas que mais precisam. A partir de um certo momento não vai dar para dar um tratamento igual para todo mundo”, diz. (Folha)

Mercados da Ásia operaram em alta nesta segunda. Com o índice Nikkei do Japão subindo 4.24%, o Hang Seng de Hong Kong 2.21% e a bolsa da Australia em alta de 4.24%. Na Europa as bolsas abriram também em alta, com Alemanha e França subindo mais de 3% enquanto o FTSE do Reino Unido subia pouco menos de 2% essa manhã.

COTIDIANO DIGITAL

Um dos jogos mais aguardados da Sony teve seu lançamento adiado por causa do coronavírus. O tema de The Last of Us Part II? Sobreviventes de uma doença que transforma as pessoas em zumbis. Segundo a empresa, o desenvolvimento e o lançamento foram afetados por causa das paralisações na logística. O jogo é um dos últimos lançamentos da Sony para o PlayStation 4 antes de lançar, no final do ano, o PlayStation 5.

A indústria de games é uma das poucas que tem se dado bem durante a pandemia. Jogos de PC, e-sports e streaming têm registrado números recordes pelo mundo.

O Rappi e o iFood vão ter que pagar pelo menos um salário mínimo para os entregadores afastados por coronavírus. A decisão é da Justiça de São Paulo, mas vale para o país inteiro. As empresas deverão cumprir outras medidas, como disponibilizar álcool em gel e lavatórios para os entregadores lavarem as mãos durante o trabalho.

Com a demanda em alta, os apps de delivery, como o Uber Eats, têm criado programas para incentivar os trabalhadores. O iFood, por exemplo, já tinha anunciado que destinaria R$ 1 milhão a um fundo de solidariedade para entregadores.

Fonte: @Meio

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