08 Jun 2019

Futebol feminino

No momento, somos milhões de brasileiros aguardando a estreia da seleção, amanhã, na Copa do Mundo. E como o futebol é pano de fundo para agudas observações sobre a vida, faremos um resgate histórico importante através de um material espetacular do Dibradoras sobre Sisleide Lima, a Sissi. Ela fez parte da primeira seleção brasileira de mulheres já formada, em 1988, e atuou com a camisa amarela até 2000. Só não jogou mais porque não deixaram.

O futebol foi um esporte proibido para mulheres no Brasil de 1941 a 1979 por um decreto-lei e, mesmo quando a proibição caiu na teoria, na prática as mulheres continuaram sendo impedidas de jogar por uma ‘convenção cultural’ que dizia que bola é coisa de menino, boneca é coisa de menina. “Para Sissi, isso não foi exatamente um problema. Porque se não podia brincar com a bola do irmão em Esplanada, pequena cidade do nordeste baiano onde nasceu, ela ‘degolava’ suas bonecas para fazer a sua própria“. E foi assim, chutando cabeça de boneca, que a garota foi mostrando ao pai que tinha talento. E olha que ela brilhou e, por muito tempo, foi a melhor 10 que esse país já viu entre as mulheres.

Pra ler com calma. O problema é que, hoje em dia, pouca gente sabe dessa história; e isso tem muito a ver com um simples corte de cabelo. “O cabelo raspado passou a ser uma característica dela por muito tempo. Não por uma questão de ‘teimosia’ em romper com os padrões que a CBF e a sociedade esperavam dela naquele tempo, mas porque a jogadora passou por um momento que marcaria para sempre sua vida”. Quando atuava nos Estados Unidos, em 2000, Sissi atendeu o pedido de uma dirigente do clube para visitar um garoto de uma escola local que tinha câncer e sofria bullying por ser careca. “Depois da Era Telê (Santana), o São Paulo estava vivendo uma seca de títulos quando, em 1997, montou uma equipe feminina e contratou a Sissi”, recorda Arnaldo Ribeiro, chefe de redação dos canais ESPN. “Como o time masculino passou a colecionar vexames, era comum a torcida gritar ‘Sissi, Sissi’ durante os jogos, pedindo a camisa 10 para o lugar de Souza, Dodô e companhia”, conta o jornalista.

Com a seleção brasileira, também entrará em campo, amanhã, a sombra das pioneiras do esporte no país, que enfrentaram pobreza, descrença, machismo, ofensas e altas doses de amadorismo. Mulheres que foram tachadas de criminosas a atrações circenses exclusivamente pelo desejo de jogar bola. Mulheres como a Sissi.

Por onde anda a craque? Um vídeo responde.

A Copa 2019 é a primeira de uma nova era da modalidade, que inclui torneios de clubes robustos, seleções nacionais fortes e mais patrocinadores – além da criação de uma base de torcedores global. Reportagem especial do Uol explica como este mundial pode mudar tudo. Até no Brasil.

Dez curiosidades sobre as jogadoras da Seleção. A atacante Cristiane, a maior goleadora de Olimpíadas, fugia das aulas de balé na infância e é a DJ do time; tem equipamento e tudo.

Carlos Drummond de Andrade: “Confesso que o futebol me aturde, porque não sei chegar até o seu mistério.” Jornal da Manhã, 1954.

Muitas histórias são escritas sobre as startups de sucesso. Mas, quando contamos os fracassos, são só aqueles espetaculares — caso da Theranos. A maioria das startups que falham o fazem em silêncio. Jasper Nathaniel, co-fundador da Revere, uma startup que tentou transformar o mercado de suplementos alimentares, escreveu um longo post-mortem contando a história:

“Tínhamos tudo para dar certo: um mercado imenso, uma equipe de executivos experientes, e US$ 3,5 milhões captados. ‘Nós vamos esmagar a GNC.’ A oportunidade era boa. Construir um novo tipo de empresa de suplementos, transparente, íntegra, e com produtos saudáveis. Junto de meu antigo chefe e mentor, Matt, trouxemos Alex para tocar o marketing. Ela era o complemento perfeito. Tinha longa experiência na indústria de saúde e bem-estar. Eu podia nos ver na capa da Fast Company. Mas, desde o primeiro dia, tínhamos três visões distintas, cada um pensando em um público alvo diferente. Para complicar, nosso modelo de vendas por assinatura não era compatível com os hábitos de consumo. Tentamos compensar jogando dinheiro em canais de marketing. Conseguimos um lançamento medíocre, crescimento medíocre, muito dinheiro gasto, e uma imensa crise de identidade da marca. Em geral startups costumam demorar um pouco a encontrar o caminho, e os investidores tendem a deixar o time tatear. Não foi o caso. A coisa mais fácil é culpar o marketing quando as vendas não vão bem. Matt era o chefe e não tinha como escapar. Alguém tinha que ficar para manter as coisas rodando, sobrou para mim.”

“Meu desafio era encontrar aquele crescimento exponencial que os investidores adoram. Montei uma apresentação com 30 slides. Deixei claro para o conselho que só aceitaria ficar se eles concordassem com a minha visão. Aceitaram. Passamos oito meses reconstruindo. Produtos, sabores, embalagens, marca, site. Deixamos o modelo de assinatura. Apostamos em crescimento orgânico, remontamos o time com 6 pessoas em tempo integral e relançamos. Foi nosso melhor mês, e sem gastar com marketing. Equipe motivada, estávamos recebendo excelente feedback de clientes. Os números começaram a se mover na direção certa. Mas já havíamos gasto a maior parte do dinheiro. Um dos investidores iniciais ofereceu um pouco mais. Chegamos a US$ 1,3 milhões, mas concordamos que era preciso pelo menos US$ 2 mi. Inexperiente, mergulhei de cabeça. Captar virou um trabalho de tempo integral em cima de meu outro trabalho de tempo integral — tocar a empresa. Falei com uns 100 investidores e ouvi a mesma coisa: ‘Muito impressionante sua virada, mas dada a história esse investimento é arriscado demais.’ Com dinheiro em caixa para apenas mais três meses, parei de retirar meu salário. As vendas continuavam a subir mas ainda faltava para chegarmos no azul. Eu estava preparado para contar ao conselho que havíamos chegado ao fim da jornada, mas cada um deles chegou à conclusão por si. Foram todos muito cordiais. Os investidores conseguiram negociar uma venda rápida da empresa. Tive que demitir toda a equipe. Fui para casa, sentei num quarto escuro para beber. Me envergonha ter decepcionado tanta gente. Uns dois meses depois, meu irmão teve uma filhinha, Zoey. Com tempo, aprendi a trocar fraldas e tive o privilégio de ficar de babá algumas vezes. Viajei, voltei a ler e escrever. Ainda penso na Revere. Me pergunto o que teria sido se tivéssemos desde o início uma visão alinhada. No fundo a pergunta é um pouco diferente. De quem era a empresa que estávamos criando? Não tenho como saber o que poderia ter sido. Na próxima vez, não precisarei me fazer essa pergunta.”

ESQUERDA E DIREITA FAZEM SENTIDO?

Qualquer um que tenha parado para refletir só um pouco mais profundamente a respeito de política logo o percebe. A dicotomia esquerda-direita — mesmo quando inclui um terceiro e ambíguo centro — não dá conta de explicar a variedade das formas de pensar a sociedade e seus dilemas. Ao longo dos anos, muitos modelos alternativos foram sugeridos. Nenhum colou para além da academia. Em tempos de polarização, como o atual, a distinção entre os dois lados parece até mais enfática. Está tanto no discurso de militantes como no de políticos. É uma medalha que se carrega, algo que se torna parte essencial da identidade, que tem de ser defendido não importa o quê.

E isso tem razão de ser. Como sugere o professor Jonathan White, da London School of Economics, muito mais do que um método externo para analisar o jogo político, esta distinção entre esquerda e direita é parte integrante do próprio jogo político, pois é o que organiza seu discurso. Alguns analistas vão além. A percepção geral de que há uma direita e há uma esquerda ajuda na compreensão da democracia pois dá legitimidade à discordância. Nenhuma outra forma de governar incorpora a discordância, e o debate, como o sistema democrático. Mas este não é um conceito trivial de assimilar — não é natural. A democracia é, por sua natureza, uma abstração intelectual. Mas o exercício do poder passa, sempre, por emoção. A lida com a falta de autoridades absolutas, claras, é difícil. Estas categorias, esquerda e direita, simplificam e ritualizam o debate, ajudando a torna-lo um ritual.

Mas, até por sua simplificação, também podem atrapalhar.

Nesta edição vamos explorar três ângulos da dicotomia política. O primeiro é o histórico. O segundo, psicológico. E, por fim, uma maneira alternativa de ver.

A história, o hoje

Ao menos pincelada, a história todo mundo conhece. Em 1789, em meio a uma séria crise econômica, sob intensa pressão, o rei francês Luís XVI permitiu que se convocasse uma Assembleia Nacional Constituinte. Nos meses seguintes, aqueles homens que se organizaram improvisados na sala de equitação (veja) do Palácio das Tulherias, em Paris, criariam documentos fundamentais como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Não era propriamente um parlamento, aquele espaço, onde à esquerda havia uma arquibancada mais alta e, à direita, uma mais baixa. Organizaram-se ali os parlamentares que ainda não tinham este nome. Aqueles que vinham da Gironda, um estado rural banhado pelo mar, burgueses endinheirados dispostos a se reconciliar com a monarquia, se organizaram na parte baixa. Foram apelidados de Girondinos. Ou os homens da planície. Ou os homens da direita.

Na parte alta, sentavam-se os jacobinos, que à noite dormiam improvisados no Convento dos Dominicanos, à margem do Sena, na Rue Saint-Jacques (Google Street View). Ou, no latim que ainda dominava os ritos católicos, Sanctus Jacobus — Santiago Maior, o apóstolo. Aqueles da são Jacobus eram burgueses mais pobres, às vezes não muito cultos, e tinham raiva. Sans-culottes, quase todos, gente sem dinheiro para vestir os culotes, calções apertados nos joelhos típicos dos ricos. Se os girondinos ficavam na planície, os jacobinos sentavam-se na montanha. A arquibancada alta. Homens da esquerda, que não tinham qualquer vontade de facilitar a vida do rei. Tinham ideias extremas — falavam em liberdade, em igualdade de todos os homens, em taxação dos nobres e do clero. Falavam, até, em República. Radicais intransigentes. Hoje os chamaríamos liberais. Formaram a primeira esquerda.

Na França, os termos esquerda e direita colaram — e ficaram — antes de se espalhar pelo mundo. Com o passar do tempo, porém, foram se adaptando e representando conjuntos diferentes de ideias. Em um momento do século 19, bem depois de Napoleão, a direita eram os monarquistas e, a esquerda, os republicanos. Parecido, não igual. Em princípios do século 20, a esquerda defendia a separação entre Igreja e Estado e, a direita, a Santa Madre Igreja Católica. Ainda ligeiramente parecido mas já se distanciando nas preocupações. Dos anos 1930 em diante, a esquerda se viu dominada por marxistas e, a direita, por quem defendia uma economia liberal. (Ao mesmo tempo, avançavam na surdina os fascistas.)

Quem vê a França de hoje, porém, teria muito mais dificuldade de classificar o espectro político e encontrar, ali, rastros da montanha ou da planície.

Porque, à direita, estão tanto a Rassemblement National, de Marine Le Pen, quanto Les Républicains, de Nicolas Sarkozy. E como são distintos os dois. Le Pen evoca uma tradição gaullista do pós-Segunda Guerra que tem muito de bonapartismo — o líder forte, um discurso de ordem, patriótico, que conta com o Estado para tudo organizar. Talvez tenha ali uma pitada de gerundino. Talvez. Os republicanos, por outro lado, pensam um Estado completamente distinto — com um mínimo de regulações econômicas, leis trabalhistas enxutas, incentivos máximos à livre iniciativa. Uma visão em essência economicista da sociedade. Compreensões absolutamente distintas que se veem, e assim são reconhecidas, como ‘direita’.

Na última eleição presidencial, disputaram as primárias do tradicional Parti Socialiste dois homens com visões também muito distintas. O derrotado ex-primeiro-ministro Manuel Valls defendia uma reforma da Previdência semelhante à desejada por Nicolas Sarkozy. Defensor radical do laicismo, foi um dos principais proponentes das leis proibindo o véu muçulmano em ambientes públicos como escolas. Se alinhava, por sua própria definição, com o britânico Tony Blair e o americano Bill Clinton, na chamada Terceira Via dos anos 1990. O candidato vitorioso, Benoït Hamon, se lançou com um discurso antiliberal na economia, defendendo o pagamento de uma renda mínima para todos os franceses e a diminuição da carga horária de trabalho semanal, preocupado com a perda de empregos pela automação. Tinha uma extensa plataforma verde, com investimentos em energia renovável. Ambos de esquerda — e isto sem citar Jean-Luc Mélenchon, um convicto marxista que correu à presidência por fora. Deixou o PS por considerar que inclinou-se demais à direita. Defende a expansão dos programas sociais, aumento dos direitos trabalhistas, e redistribuição da riqueza.

Quem venceu as eleições, Emmanuel Macron, não se encaixava nem num lado, nem no outro, autodenominando-se ligado ao Centro Radical. Política econômica liberal, uma rede de proteção social, integração dos imigrantes à sociedade. Derrotado nas primárias do PS, Manuel Valls apoiou Macron, não seu companheiro de partido.

Pois nem o Centro dá para caracterizar de forma simples. Porque também no centro se coloca outro grupo muito tradicional da política francesa — os Democratas Cristãos. Defendem a mesma rede de proteção social — mas se opõem à política econômica liberal e são conservadores em comportamento.

Em todos os países multipartidários da Europa ocorre esta mesma complexa rede de pensamentos e ideias que por vezes se aproximam e ora se afastam. E mostram, também, que mesmo quando se inclui um Centro a tríade não dá conta de explicar as muitas combinações das ideias políticas.

A psicologia e a cultura

Se não dá conta de explicar, por que persiste? Não é possível iniciar uma definição deste fenômeno político, a persistência da divisão esquerda-direita sem, antes, encarar aqueles dois grandes divisores da humanidade. A forma como somos criados e a genética que herdamos. Ou a dúvida constante sobre a origem de nossa personalidade — se está no sangue ou se é cultural. É um não dilema, claro. A resposta é sempre ambos.

A frase é de Aristóteles que, vivendo na democracia ateniense, não se conformava com o regime: “Todos desejam o bem, mas diferenças irreconciliáveis a respeito do que quer dizer bem terminam por produzir facções.” Temos, todos, predisposições que dão forma à nossa personalidade. Uns gostam de novidades, outros preferem previsibilidade. De certa feita, nos EUA, uma pesquisa mapeou o cotidiano de conservadores e progressistas. Descobriu que os primeiros se sentem menos dispostos a viver novas experiência, mas são mais conscientes a respeito do cumprimento de seus deveres. Gente de esquerda engata mais fácil numa conversa com estranhos. Gente de direita tem quartos mais organizados. Parece um estereótipo, mas em pesquisa após pesquisa padrões do tipo se repetem: diferenças fundamentais de personalidade, que influem no comportamento e na compreensão do mundo, distinguem um grupo político do outro. Conservadores apoiam princípios de organização, gostam de estrutura e querem limites. Progressistas questionam estes três valores. Aristóteles estava certo — há diferenças irreconciliáveis a respeito do conceito ‘querer o bem’.

A humanidade se divide em dois.

Estas distinções pessoais se refletem na cultura. O que faz, afinal, uma pessoa se sentir mais à vontade com um estranho, ou com algo novo, do que outra? É que uns se põem perante o novo e veem primeiro o que é diferente. Outros, perante o novo, logo encontram semelhanças. O diferente afasta, o semelhante aproxima. Aqueles mais sensíveis a perceber diferenças desejam hierarquia. Hierarquia, afinal, é o reconhecimento formal de que há diferenças. De que a desigualdade é dada pelo mundo. Quem, por outro lado, é mais sensível a ver antes semelhanças tende a desconfiar de hierarquia e afirmar que pessoas são mais iguais do que diferentes entre si.

Se o cientista político italiano Norberto Bobbio está correto, a diferença essencial entre esquerda e direita está na percepção de igualdade ou desigualdade na sociedade. Estas duas maneiras de ver a realidade desaguam em políticas públicas que refletem a percepção de quão iguais ou diferentes são as pessoas umas em relação às outras. E estes são valores incrustrados na cultura e na personalidade de cada um.

Claro: nada é absoluto. Todos somos capazes de perceber diferenças e semelhanças perante algo novo. Uns mais, outros menos, mas é na proporção entre ambos que construímos uma visão de mundo. Uma visão, diga-se, que não é racional. Vem de um lugar mais profundo. É por isso que, embora racionalmente a divisão entre esquerda e direita seja inadequada para explicar política, emocionalmente ela se encaixa como uma luva.

E, assim, nos entendemos como de direita ou de esquerda. Os conceitos têm esta capacidade de sobrevivência porque, sem saber exatamente como, nós simplesmente os compreendemos. Explicamos de formas muito diferentes — mas sentimos compreender. E isto nada tem a ver com marxismo, liberalismo, fascismo, conservadorismo ou seja o que for. Tem, antes, a ver com a personalidade e a cultura.

O jogo político

Bobbio não foi o único cientista político a tentar uma classificação geral. Uma delas põe em oposição os valores primeiros da Revolução Francesa — a esquerda busca igualdade e, a direita, liberdade. Outra classificação aposta no paralelo com a ideia de conservadores e progressistas. Assim, a esquerda busca mudança e, a direita, estabilidade. São definições possíveis que sempre encontram contestações. Mas o que tentam fazer, em essência, é encontrar um conceito que, apesar de todas as mudanças do mundo, continue valendo tanto para gerundinos quanto para Marine Le Pen; tanto para jacobinos quanto para Jean-Luc Mélenchon.

No arco da história, a dicotomia igualdade versus liberdade não se sustenta. Ambos eram valores dos jacobinos e, deles, os gerundinos desconfiavam. (E não dá para dizer que liberdade seja um tema caro à Le Pen.) Mudança versus estabilidade segura um pouco mais. Mas apenas em democracias. O Partido Comunista Chinês é de esquerda. E não deseja mudança.

Crispin Sartwell, um autodenominado anarquista que leciona filosofia no pequeno Dickinson College, da Pensilvânia, defende que as contradições são tantas que a classificação esquerda-direita simplesmente não serve para compreender política. Não é que seja simples demais. É que, tão carregada de contradições, é inútil. Trata-se de uma faculdade pequena, a sua, mas imensamente respeitada. Seu fundador, Benjamin Rush, foi um dos signatários da Declaração de Independência americana — o documento inaugural das democracias modernas. O nome é em homenagem a John Dickinson, um dos autores da Constituição do país. E Sartwell é o homem que pensa, hoje, filosofia política por lá.

Seu argumento parte da definição que, por pesquisas, a maioria dos americanos adota para distinguir esquerda de direita. É Estado versus Capital. Democratas acreditam que o governo faz bem à nação, Republicanos que a iniciativa privada é a força positiva. Poder político, afirma Sartwell, está nas mãos de quem detém os recursos na sociedade. Ou seja: não importa se na China comunista ou nos EUA capitalistas, os detentores do dinheiro e quem define a política estão sempre próximos. Se o Estado é forte ou se o Capital é forte, a soma é zero. Ambos caminham juntos. Não é possível separar, ele afirma, poder político de poder econômico.

Ele desmonta da mesma forma a dicotomia liberdade contra igualdade. Se a esquerda defende igualdade econômica, então fala de um Estado que precisa controlar mais e mais da vida econômica do país. Portanto igualdade econômica leva a desigualdade política. Nos EUA, ele argumenta, a educação pública compulsória, uma pauta defendida arduamente pela esquerda durante o século 20, por conta das diferenças regionais terminou por reforçar hierarquias.

Não custa lembrar: Sartwell é anarquista. O que não desmonta seus argumentos.

Afinal, se o Partido Nazista, a Igreja Católica, o Antigo Regime e Libertários são todos de direita, a classificação não quer dizer nada. Da mesma forma que se Comunistas, Desenvolvimentistas, hacktivistas, militantes anti-globalização e anarquistas são todos de esquerda, novamente — a classificação não se sustenta.

Os eixos

O problema está, no fim das contas, na tentativa de resumir os dilemas da sociedade em um só eixo. Uma só linha. O teste da Bússola Política, popularizado pela internet, apresentou ao mundo um sistema de dois eixos. (Faça o teste em português.) Um é econômico — mais ou menos Estado. O outro, social — mais ou menos liberdade. Assim, uma economia estatal e um regime autoritário é comunista. Alguém como Augusto Pinochet estará na mesma linha, do outro lado — economia sem Estado, regime autoritário. Ayn Rand, ideóloga libertária, estará logo abaixo: ausência quase total do Estado na economia, e total liberdade. Diametralmente oposto estará o anarco-comunismo. Cravado no centro: o liberalismo.

Não é o único modelo. Em um deles surge um terceiro eixo, com a posição a respeito das mudanças climáticas.

O debate está aberto. Mas, 230 anos após o encontro entre a montanha e a planície no salão onde Luís XVI treinava montaria, segue ressoando forte a ideia de esquerda e direita.

E que força incrível, ainda capaz de mover paixões, juntar gente nas ruas, e criar a exasperação de quem olha para o outro lado sem conseguir compreender como é possível pensar diferente. O que reforça o conceito inicial: podemos não compreender por que entendemos ‘fazer o bem’ de forma tão diferente. Mas sabemos que existe direita e esquerda. E isto nos traz conforto — afinal, define democracia.

E FECHANDO A EDIÇÃO, O QUE FOI MAIS CLICADO NA SEMANA:

1. Nexo: É justo o projeto do governo para a reforma da previdência?

2. G1: Mulher que acusa Neymar diz que foi vítima de ‘agressão juntamente com estupro’

3. Folha: Polícia investiga Neymar por divulgação de fotos íntimas.

4. Atlantic: A Terra vista de cima em 24 imagens capturadas por astronautas em órbita.

5. El País: O maior massacre da China moderna completa 30 anos

Fonte: @Meio

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *