09 Fev 2019

Novas tecnologias

Novas tecnologias avançam em ciclos. Os temas do momento estão nas páginas diárias da imprensa, nas conversas das redes — aprendizado de máquinas, carros autônomos, criptomoedas. São tecnologias no ciclo de implantação. Mas existem aquelas que se encontram num passo anterior, o estágio experimental. Prometem mudanças ainda mais profundas para o médio e longo prazo. É o caso da computação quântica.

Computadores quânticos são diferentes dos tradicionais, não operam na base de bits que podem ser zero ou um. Usam qubits, Quantum Bits, que podem assumir qualquer combinação de valores entre zero e um. Inclusive uma superposição de valores. Com isso, são capazes de processar cálculos muitas vezes mais complexos do que as máquinas digitais que usamos hoje. IBM, Microsoft, Google e Boeing estão numa acirrada disputa para inaugurar esse mercado. Agora em janeiro, a IBM anunciou o primeiro computador quântico disponível comercialmente.

A astrofísica Shohini Ghose explica neste TED Talk de 10 minutos, e com legendas em português, como funcionam estas máquinas e quais seus possíveis usos.

Era uma hora e meia da manhã, do dia 17 de junho de 2017. O USS Fitzgerald, um destroyer cuja construção custou US$ 1.8 bilhões, navegava em uma missão secreta nos mares ao sul da China quando, de repente, foi abalroado por um cargueiro com mais de três vezes seu tamanho. A colisão abriu um rombo no casco do navio de guerra, centenas de toneladas de água o invadiram, alagando compartimentos e camarotes. Sete tripulantes morreram, diversos ficaram feridos.

Como todo acidente de grande porte, não houve uma única causa, mas sim uma série de erros em sequência que levaram à tragédia. A equipe do Pro Publica mergulhou em mais de 130 mil páginas dos relatórios de investigação do acidente e publicou uma cuidadosa reportagem interativa em formato de um longo scroll. É para ser lido com calma, mas vale também apenas correr o dedo para ter uma boa visão duma história bem contada em que texto e multimídia se encontram.

Como é duro ser mãe e pai hoje em dia

Não tem nada de trivial a paternidade no século 21. As crianças não brincam mais como antigamente. Há uma quantidade de temas — sexualidade, gênero, religião, ciência — que transbordaram pela educação e sobre os quais mães e pais se veem obrigados a ter posição. Há telas, muitas telas. Qual o tempo adequado para elas? Nesta edição de sábado, o Meio faz algo um quê diferente. Uma coleção de leituras sobre sermos pais e mães.

Ensino domiciliar

Em 63 países as famílias têm o direito de ensinar seus filhos em casa sem passar pela escola. Nestes casos, o Estado não é de todo ausente: as crianças precisam fazer provas de tempos em tempos para garantir que estão sendo instruídas. Pais tomam esta decisão por muitos motivos. Alguns consideram que as escolas envelheceram, perderam contato com o ritmo do mundo em tempos digitais. Outros o fazem por razões religiosas. Esta não é uma opção no Brasil: desde 1934 o Estado tem a obrigação de oferecer educação e os pais têm o dever de enviar seus filhos à escola. A ideia de instituir ensino domiciliar no Brasil foi derrubada no STF, mas o governo Bolsonaro tem planos de trazê-la de volta. Pinçamos duas opiniões divergentes sobre a adoção do projeto no Brasil.

Luís Roberto Barroso, ministro do STF: “Por convicção filosófica, sou mais favorável à autonomia e emancipação das pessoas do que do paternalismo do Estado. O fato de considerar o ensino domiciliar como compatível com a Constituição não significa que considere essa uma opção melhor ou pior. Esse juízo não é meu. Para meus próprios filhos, optei por uma escolarização formal. Mas respeito quem opte por um caminho diferente. A criança não ficará entregue à própria sorte, nem ficar sob a eventual irresponsabilidade dos pais. Em caso de comprovada deficiência no desempenho, cabe aos órgãos públicos notificarem os pais e se não houver melhoria, determinar a matrícula na rede regular de ensino.”

Cesar Benjamin, ex-secretário de Educação do Rio: “A Ministra Damares anunciou que está pronta uma Medida Provisória que desobriga os pais de enviar os filhos a escolas. É preciso não saber nada de realidade brasileira para defender essa monstruosidade. A Ministra Maluquinha acha que vivemos em uma sociedade com famílias estruturadas, com livros em casa, espaços domiciliares adequados para estudo e leitura, além de pais cultos e descansados, dispondo de bastante tempo para estudar com os filhos durante três horas por dia. Escolas e professores são um luxo supérfluo, talvez perigoso. Ela não sabe nada da nossa luta pela educação. Não sabe como o povo brasileiro vive. Não tenho palavras.”

A renda dos pais e a renda futura dos filhos

Um dos principais indicadores de uma sociedade justa é a importância da renda dos pais nas oportunidades que os filhos terão no futuro. Ou seja: na renda deles. Numa sociedade justa, afinal, não importa quem são seus pais, todos terão oportunidades.

O trabalho de Daniel Duque, mestrando em Economia pela UFRJ e pesquisador da FGV-Rio, indica que o Brasil melhorou neste aspecto. Ele se baseou na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), um levantamento do IBGE que, em 1996 e 2014, perguntou aos entrevistados qual a escolaridade e ocupação de seus pais. É o espaço de tempo entre uma geração e outra. O que Duque percebeu é que, neste período, a renda dos pais diminuiu em importância na que os filhos teriam. Houve mais dinheiro para educação pública no período, principalmente nos anos iniciais. Por isso, o nível educacional dos pais se tornou menos relevante na instrução dos filhos. Em 1996, a persistência de renda de uma geração para a outra era de 75%; em 2014, de 55%. A queda, no caso, é boa notícia. (Valor)

Mas isto não é motivo para relaxar. Porque uma coisa é o acumulado da sociedade e, outra, cada caso individual. Esta semana, o New York Times mergulhou nos pais helicóptero. É o termo americano para aqueles obcecados com a educação dos filhos — escolhem a dedo a escola, os cursos, se possível professores e colegas, fazem de tudo para que eles pulem obstáculos e já desde a infância dos rebentos se preocupam com os contatos que terão. É deste salto que oferecem aos filhos que vem o termo ‘helicóptero’. Na cultura popular, são vistos como excessivamente neuróticos em suas obsessões, impõem às crianças um estresse desnecessário. Mas o estudo de dois economistas, um de Yale e outro da Northwestern, dá indícios de que o método funciona. E funciona, principalmente, quando as sociedades são desiguais. O que só confirma o trabalho de Duque.

E aí rolam as telas… assim como os videogames

Não há consenso científico a respeito de tempo das crianças perante telas, tampouco sobre o impacto de videogames. Muitos pais se preocupam com a questão.

A edição da revista britânica The Economist que chegou às bancas londrinas na quinta-feira fez um apanhado dos estudos a respeito do tempo com telas. E o primeiro ponto a destacar é: telas não são todas iguais. Dever de casa num tablet não é o mesmo que assistir televisão, ler um livro no Kindle tampouco é igual a jogar um game. Há alguns indícios, porém. Crianças e jovens adolescentes com hiperpresença nas redes sociais parecem ter mais dificuldade com foco. Já videogames, por outro lado, parecem melhorar a capacidade de atenção e, até, a sociabilidade — no caso daqueles jogados em rede. No conjunto dos estudos, porém, há uma vaga pista de que talvez telas não sejam motivo de alarme.

A maior parte dos pesquisadores que investigam games em particular se preocupam com questões cognitivas. Um apanhado de 89 papers que buscavam uma correlação entre horas com jogos e habilidade cognitiva indicou, ora, que videogames fazem bem. Correlação, evidentemente, não garante causa e consequência. Mas os games parecem melhorar foco, percepção espacial e flexibilidade cognitiva. No caso de jogos de estratégia, inclua aí a necessária paciência na resolução de problemas. Num mundo em que os espaços públicos de brincadeira desaparecem — jardins caseiros, praças ou mesmo a rua — videogames podem representar um substituto importante.

Não bastasse, tem a genética

Famílias têm segredos. Noutros tempos, eram segredos que iam para os túmulos, aquelas histórias não ditas que ficavam no ar, uma breve desconfiança, um desconforto percebido e nunca de todo compreendido. Testes genéticos cada vez mais baratos já estão mudando isso.

Duas histórias distintas publicadas pela Time e pelo Wall Street Journal esses dias mostram isso. Distintas, porém iguais. O Journal descobriu duas irmãs de Boston que fizeram um teste desses. Uma descobriu pela rede social do teste que tinha um meio-irmão. E a outra de presto se intrigou — por que ela não tinha? Criadas pelo mesmo casal, perceberam daí que ambos os pais tiveram casos. O meio-irmão de uma era filho do pai. A outra tinha outro pai que não o do registro. O que parecia uma brincadeira, uma curiosidade, veio à tona quando ambas já haviam passado dos 50. E causou dor, conflitos de fidelidade.

A história contada na Time é o trecho de um livro, misto de memórias e reflexão, da escritora Dani Shapiro (Amazon). Ela também descobriu depois dos 50 que o homem que considerava ter sido seu pai na verdade não era. Shapiro foi uma das primeiras crias de inseminação artificial, e seus pais jamais haviam lhe revelado isto. Conheceu velhinho o médico cujos genes carregava. Tinha a mesma cor de olhos, sua pele muito clara, mãos pequenas e testa alta, até a tendência de ficar vermelha à toa. Tinham por livro favorito um mesmo romance. Senso de humor igual.

Estes segredos não serão mais segredos. E familiaridade vai gerar conflitos conforme novas estruturas de família surjam. Porque há a familiaridade que nasce do convívio, da criação, dos afetos. E há a familiaridade que vem do reconhecer-se nos gestos, na aparência, e nos jeitos de um estranho ou uma desconhecida.

O século 21 não vai ser simples.

E para fechar essa edição, os links mais clicados na semana:

1. MSN: Renan Calheiros acusa jornalista de assédio e expõe intimidades em rede social.

2. Time: Os melhores comerciais do Super Bowl 2019.

3. Veja: O ocaso dos caciques do MDB no Senado. Coluna de Dora Kramer que fez Renan partir para o ataque.

Fonte: @Meio

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