10 Ago 2019

Foto: um casal de namorados em Woodstock

15 de agosto de 1969, sexta feira. Milhares de jovens chegam à uma fazenda, no interior do estado de Nova York, para três dias de paz e música. Era para ser apenas mais um grande festival de música, mas se tornou parte da história. No domingo, dia 18, o fotógrafo Burk Uzzle tirou a foto que capturou o espírito do que havia acontecido ali. Um casal de namorados, abraçados, cobertos com uma manta, no meio do rescaldo do que havia sobrado ao fim do festival. Em entrevista ao NY Times, Uzzel contou detalhes da história. A entrevista traduzida pelo O Globo.

Burk Uzzle: “Foi uma década difícil: assassinatos, tumultos, Washington. Meu arquivo estava cheio de coisas muito ruins. — E então você chega a Woodstock, e lá estão os hippies que todos pensavam que iriam arruinar o mundo, mas essas pessoas decidiram cuidar umas das outras. Eu sabia que a curvatura do morro tinha que trabalhar com a curvatura das cabeças, tem a bandeira, e precisa estar enquadrado apenas o número suficiente de pessoas. A velocidade do obturador estava bem lenta, quase escuro. Me segurei para ficar bem parado por um segundo, e tive sorte porque continuava afiado. Eu não estava chapado, então fui capaz de compor a foto e manter focado. E então me virei para encontrar outra coisa para registrar.”

Veja outras fotos de Uzzle que, em vez de focar no palco, se preocupou em clicar a platéia.

Vanessa Friedman, crítica de moda do NY Times: “Quando tudo começou, festival e moda eram na verdade conceitos opostos. Tudo o que você vestia para o primeiro era escolhido especialmente como protesto contra o segundo, como forma de marcar individualidade e rebeldia contra o establishment. Ou ao menos, foi o que se viu no Woodstock, onde a estética de festival começou a ser moldada como o estilo de se vestir para um show de música. A moda do Woodstock era a moda de não ter moda nenhuma. Era uma moda contra tudo, contra os uniformes que se viam nas avenidas cheias de trabalhadores das grandes cidades. Era uma moda anti-sutiã e anti-sapatos. Uma moda anti-comercial, uma forma de se mostrar contra o capitalismo. Uma forma de afirmar sua identidade através das roupas. E essa estética foi documentada em fotos e mais fotos de pessoas com jeans, meninas, rapazes e até mesmo bebês dançando com coroas de flores nos cabelos. Isso foi muito antes de existir a preocupação de apropriação cultural, do que afinal, ao menos metade dos frequentadores do festival poderiam facilmente ser acusados. Como resultado, a estética do Woodstock formou o que veio a se tornar o uniforme da contracultura, e tudo que é marca hoje em dia possui em seus sites uma sessão de moda de festival. Goste ou não isso é o que se tornou, uma tendência. E em cima dessa tendência, todo um setor comercial foi construído.”

Assista: A Time selecionou as 10 performances mais memoráveis do Woodstock, disponíveis para assistir no Youtube.

Billy Idol ainda estava se recuperando de um acidente de moto, quase fatal, quando pediu para participar da turnê Charmed Life, do Faith No More. As histórias são muitas, incluindo o FNM urinando na plateia. Mas nada se compararia à multidão de 18.000 presentes no Seattle Center Arena (agora Key Arena) na noite de Halloween em 1990. Baseado em uma resenha do programa, publicada pela revista City Heat, Mike Patton entrou no palco com uma peruca “Doris Day”. Tudo indica, muito provavelmente, que era uma referência ao vocalista do Nirvana, Kurt Cobain. Chegou imprevisível, sem limitações e alucinado, assumindo os vocais no lugar de Chuck Mosley. O resto é história.

Por falar em Faith No More, vale escutar de novo The Real Thing. Para quem não lembra, eles estiveram no Rock in Rio pela primeira vez em 1991, época do maior hit da banda, Epic. O LP chegou nas prateleiras buscando aproveitar a empolgação dos shows no Brasil para alavancar suas vendas e deu certo. Eram tempos de Jane´s Addiction, Living Colour, Primus, The Breeders e do estouro do Red Hot Chili Peppers.

20 anos. O Sexto Sentido estreava no dia 6 de agosto de 1999 com baixas expectativas. Em duas semanas, garantiu a produção de US$ 40 milhões. As críticas, em geral, foram positivas. Logo se tornou o segundo filme de maior bilheteria de 1999, batendo bastiões como Toy Story 2 e perdendo apenas para The Matrix. Haley Joel Osment, que interpreta o garoto que profere as palavras “Eu vejo pessoas mortas”, disse à Variety que o elenco sabia intuitivamente que o roteiro era “algo realmente especial”. Eles estavam certos. Foram seis Oscars. Para quem ainda não viu o clássico, é a história de um garoto chamado Cole Sear (Osment) que pode ver os mortos. Sua mãe (Toni Collette) contrata um terapeuta chamado Dr. Malcolm Crowe (Bruce Willis) para avaliar os problemas sociais e emocionais de Cole. Há também papéis coadjuvantes memoráveis para o novato Mischa Barton, como um fantasma infantil que havia sido envenenado por sua mãe, e Donnie Wahlberg, retratando um ex-paciente vingativo que coloca Cantis em sua casa no início do filme.

Tudo pelo celular. Hoje dá até para calcular aposentadoria e monitorar a pressão sangüínea. A Travel Leisure selecionou os melhores aplicativos gratuitos para o público mais maduro e responsável pelos seus downloads. Um deles é o Medisafe. Criado por dois irmãos, depois que seu pai erroneamente tomou uma dose extra de insulina e quase morreu, o app recebeu mais de 19.000 avaliações e uma classificação de 4,7 na App Store do iOS. Um de seus recursos mais úteis é a opção de lembrete de medicação, que permite definir alarmes e também notificará se você estiver prestes a ficar sem receita ou se a combinação de remédios não fizer bem. Disponível para iPhone e Android, também é possível adicionar um membro da família ou cuidador como um “Medifriend” para receber lembretes se você perder uma dose. Pra quem gosta de viajar, outro testado, e aprovado por nossos editores, é o HomeAway, do popular site de reservas. Mesmo off-line, é possível acessar senhas de Wi-Fi e instruções de check-in.

35 imagens que marcaram a semana no mundo, incluindo uma melancia, um anfiteatro antigo e um peixe.

COMO A CAUSA DAS ARMAS SE FUNDIU COM O PARTIDO REPUBLICANO

Causaram impacto. Quase todos vestindo negro, alguns com casacos de couro, muitos de boinas, seus cabelos black power. Todos pantera negras, o movimento radical dos anos 1960. O dia: 2 de maio, 1967. Marcharam juntos, um pouco menos de trinta deles, militantes negros pesadamente armados com rifles e pistolas, todas as armas carregadas, caminhando calmos e mostrando ostensivamente o equipamento que levavam para dentro do Capitólio em Sacramento, sede da Assembleia Legislativa da Califórnia. Ostensivamente, como a legislação lhes permitia. Os parlamentares nunca haviam visto algo assim. Era legal, claro, mas sentiram-se intimidados. Quando o governador foi informado, tomou um susto. “Não consigo imaginar que armas carregadas possam ser a maneira de encarar um problema que poderia ser resolvido por pessoas de boa vontade”, disse a um repórter o ator tornado político Ronald Reagan. Os policiais não sabiam o que fazer — aqueles ativistas radicais não estavam quebrando nenhuma lei. Mas, todos os políticos ali imaginavam, deveriam. Aquele armamento pesado não podia ser legítimo. “Nós vamos levá-los todos à delegacia e checar seus históricos”, afirmou um oficial.

Foi há 52 anos. Mas que impacto fez. Aqueles militantes da extrema esquerda americana chocaram. Meio século depois, é quase impossível imaginar. Há meio século, porém, o direito de andar pesadamente armado, garantido pela legislação, era uma causa de minorias da esquerda radical, que argumentava precisar de defesa pessoal. No último sábado, 22 foram assassinados em uma chacina no estilo já tornado comum, na cidade de El Paso, no Texas. Em Dayton, Ohio, foram nove vítimas, mais o assassino, mortos, no domingo. Vinte e sete feridos. É uma questão que divide. Uma das questões mais politicamente divisivas dos Estados Unidos, daquelas tão fundamentais que, mesmo após inúmeras chacinas cometidas pelo fácil acesso a armas semiautomáticas, o Congresso não consegue avançar. Não é possível fazer qualquer mudança legislativa. É definidor de ser republicano ter uma posição pró-armas, como é definidor de ser democrata defender limites.

Embora Ronald Reagan, quando presidente, tenha sido um dos principais símbolos conservadores do país, aquelas declarações perdidas de 1967 sequer conseguem ser imaginadas. Parecem ficção. Claro. A questão das armas foi propositalmente trabalhada como uma campanha de marketing eleitoral. Uma pauta artificialmente construída que, meio século depois, terminou por ser uma causa popular para a família Bolsonaro, que aos EUA ultraconservador tudo imita.

É uma história que se inicia com a NRA — a Associação Nacional dos Rifles dos EUA. Nasceu fruto da Guerra Civil. Na década de 1860, o país rachou num conflito violento no entorno da abolição. Ulysses Grant, o general vencedor do Norte tornado presidente, foi um dos primeiros a liderar a organização, logo após deixar a Casa Branca. Em praticamente toda sua história, a NRA foi um agremiado de donos de rifles, não de armas em geral: um clube de caçadores. Um clube voltado para o ensino da caça. Nasceu didática, com o objetivo de ensinar bom uso, boa mira. E, em essência, era apolítica. Não lhe interessou buscar um lado ou outro no conflito ideológico justamente para poder contar com a benevolência de todos os políticos. E pretendeu, por quase toda sua história, promover um tipo que considerava ideal americano: aquele homem que, largado na mata, seu rifle à mão, buscava o momento da caça — o veado, o urso, talvez até o pato e a lebre. Fundamentalmente o caçador esportivo. São incontáveis, num arco de vinte anos após a Segunda Guerra, os curtas-metragens do Pateta caçador, mostra de como o homem e seu rifle benevolente foi visto com tranquilidade pela cultura por tanto tempo.

Os anos 1960 são chaves nos EUA. Houve o assassinato de John Kennedy, seguido do de Martin Luther King, então o de Robert Kennedy. A preocupação não era com chacinas, mas com crimes políticos bárbaros. Nada disso tinha a ver com a NRA — uma organização esportiva. Na lógica da associação, legislação de controle de acesso a armas era desejado. E foi seguido. Até aquele dia em Cincinnati.

Capital de Ohio, 1977. Tudo sugeria uma típica reunião da NRA — aqueles homens de casacos de lã xadrez, os chapéus avermelhados qual bonés com aba à frente e atrás, homens adultos caminhando com seus walkie-talkies, e no entanto algo de diferente estava no ar. Uma agressividade maior, talvez, mas principalmente a percepção de que um quê mais havia em disputa do que o jogo habitual. O equipamento de ar-condicionado chegou a ser deligado por um período, no salão, para que quem não estivesse realmente dedicado ao conflito se fosse. Funcionou. A convenção se arrastou pela madrugada adentro. Ao final, aquele grupo centenário dedicado a caçadores tinha um novo presidente. E este presidente tinha uma pauta política clara.

Até hoje, na NRA, chamam a convenção de 1977 de a Revolta de Cincinatti. Ali a associação centenária decidiu que defenderia o candidato de um partido específico à presidência. Mais do que isso, poria o dinheiro de seus membros a serviço da disputa eleitoral. E aquele ex-governador da Califórnia postulante à Casa Branca, que um dia chegou a argumentar que armas nada resolveriam, seria o porta-voz desta nova causa. Ronald Reagan, que terminou por ser o último presidente americano vítima de um atentado a bala, foi na verdade um político que, posicionado favoravelmente à lógica armamentista defendida pela NRA, ainda se mostrou ambíguo. George H. W. Bush, seu sucessor, já se posicionava claramente.

A Constituição americana é composta de uma folha frente e verso que organiza o Estado. A estes artigos, uma vez aprovados, foram somadas dez emendas — a Bill of Rights, lista de direitos individuais que determinam o que se garante a cada cidadão. A Primeira Emenda, mais célebre e clara, estabelece um conjunto de direitos ao livre pensar. A segunda emenda se baseia naquela cabeça colonial revolucionária, acenando com o princípio de que, numa democracia, resistir à tirania é direito inalienável. Quando os americanos sentiram ser necessário fazer uma guerra de independência, em pleno século 18 iluminista, chegaram à conclusão de que cada homem com uma arma na mão era um adianto na formação dum exército. E é isto que diz a segunda emenda: às vezes, derrubar o Estado é necessário; a única forma de derrubar o Estado é garantir que a nenhum cidadão seja negado o porte de armas. É um princípio de Revolução Liberal, assim como — nenhum marxista o negaria —, seria no futuro um princípio trotskista. O direito à revolução permanente.

É duplamente irônico. Na origem, a Segunda Emenda à Constituição americana foi escrita para garantir o direito de resistir, com armas, a imposições do Estado. Hoje, este texto que garante o direito de ter uma arma em casa é extrapolado para defender que não pode haver nenhum limite para esta arma. No século 18, rifles tinham de ser recarregados a cada bala disparada. Uma arma semiautomática de hoje, com um leve toque no gatilho, dispara inúmeras balas e pode matar dezenas. Como acontece com cada vez maior frequência. Aquele parágrafo escrito para garantir o direito a resistir aos desmandos do governante é utilizado para a manutenção de um grupo conservador no poder. Uma política abraçada pela esquerda radical dos anos 1960 não só terminou abraçada pela direita radical dos tempos de hoje como se tornou a pauta fundamental do debate público americano.

Não há qualquer indício estatístico de que o debate sobre armas de fogo seja relevante no Brasil. Fora o caso muito específico de proprietários de terra do interior, que argumentam a necessidade da posse e porte num ambiente vazio e inseguro, a questão das armas é artificial. Nos EUA se converteu num símbolo de identidade. É um dos divisores entre o homem urbano e o não urbano. Como é um dos divisores entre o homem democrata e o republicano. Uma pesquisa acadêmica recente apontou que todo dono de armas tende a ter entrado em contado com um parlamentar para defender sua decisão, em detrimento dos que não têm armas. Estes têm outras prioridades e, quando falam com seus parlamentares, não tratam do assunto. Acreditam que há temas mais importantes sobre os quais conversar. Reagan foi o primeiro presidente eleito com o apoio declarado da NRA, naquela época uma organização já com mais do que um século de vida. Foi o último presidente vítima de um atentado a bala.

Ao decidir que não seria mais uma entidade apartidária, a NRA abraçou o Partido Republicano. A quantidade de dinheiro que era capaz de levantar com seus membros a tornou um lobby político o mais relevante. O grupo poderia ter caminhado em duas direções. Uma era aquela que já havia tomado: perante a ameaça revolucionária que representou a esquerda radical, a NRA chegou a contemporizar e defender limites para o uso de armas por civis. Mas após a tomada de poder por um grupo agora radical de direita, optou, eleitoralmente, pelo caminho oposto. Ou seja, abraçar e encampar a causa do armamento. Juntar o poder de fogo já existente da NRA com a capacidade de investimento da indústria armamentista e incentivar que a maior quantidade possível de americanos decidisse ter armas e munição em casa. Aliás, mais do que isso. Como numa operação de marketing — porque uma operação de marketing foi — juntou as duas identidades. Cada evento da NRA foi se tornando, com o passar do tempo, um evento político até transformar a pessoa que tem arma, por natureza, numa pessoa politicamente engajada. E este engajamento é voltado para o Partido Republicano.

Neste arco de mais de trinta anos, a causa dar armas movimentou uma imensa quantidade de dinheiro, tornou-se um lobby poderoso que ainda hoje financia parlamentares vários em todos os níveis — do municipal, passando pelo estadual, chegando ao federal. A máquina do Partido Republicano depende do dinheiro da NRA. Não há presidente eleito pelo partido cuja campanha não tenha sido financiada pelo grupo. O resultado é o interdito ao debate. Republicanos precisam daquela fonte de financiamento para campanhas eleitorais.

Foi uma construção. Estando construído, ninguém sabe mais como desmontar. Era da esquerda radical. Virou causa de toda a direita.

E FECHANDO A EDIÇÃO, OS MAIS CLICADOS DA SEMANA:

1. Business Insider6 hábitos diários de alguns dos mais bem sucedidos CEOs do mundo.

2. NatGeo: Explorando de caiaque o lado secreto de Veneza

3. O Globo: Calculadora que simula o quanto falta para você se aposentar, de acordo com a nova reforma da previdência.

4. Buzzfeed: O que as mulheres venezuelanas compram no mercado clandestino.

5. Slate: E um policial texano a cavalo levando um preso negro por uma corda provocou indignação e obrigou o chefe de polícia de Galveston a pedir desculpas publicamente.

Fonte: @Meio

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