16 Fev 2019

As pessoas odeiam seus telefones

Vittorio Colao: “Steve Jobs estava certo quando me falou, em 2007, que as pessoas odiavam seus telefones. Na época, achei que estava louco, mas o errado era eu. Nossa indústria falhou em criar um relacionamento de confiança dos clientes com as marcas. Tarifas de roaming, aumentos de preço disfarçados, péssimo serviço de atendimento, promessas exageradas de velocidade. Perdemos a lealdade de nossos clientes. Não conheço nenhuma empresa de telecom no mundo que tenha um nível de relacionamento de excelência.”

“Uma das principais executivas da Vodafone veio da Turquia. Eu a contratei pois, na entrevista, ela tirou um jornal da bolsa e falou na minha cara que não entendia nossos anúncios. Isso levou a uma produtiva discussão de estratégia, clientes, e percepção do negócio que me fizeram ver seu imenso potencial. Por outro lado, não contratei outra executiva, com um excelente currículo, quando ela, de forma muito orgulhosa, me contou da dezena de prêmios publicitários que tinha recebido mas, na hora de mostrar algo de sua autoria, não encontrou nada no YouTube.”

“Nos primeiros seis ou sete anos que passei no cargo, era conhecido pela discrição. Aquele que não frequenta eventos sociais. Em parte isso foi por questões familiares, mas foi também por conta de um ótimo conselho que recebi de Ivan Seidenberg, ex-CEO da Verizon. Quando me tornei CEO ele me disse: ‘Não vá a jantares de negócios, a eventos de caridade, não dê entrevistas a seu respeito. Mantenha o low profile. Assim você carregará os caixões de todo mundo ao seu redor para seus túmulos.’”

“O tempo nos deixa mais sábios. Nos primeiros anos, eufazia reféns. Mudei toda a estrutura da empresa, troquei toda a equipe. Recentemente me disseram: ‘A partir de um certo momento, você foi se tornando mais suave, um líder mais preocupado com as pessoas.’ No jantar de despedida, fui definido como um ditador benevolente. Por definição, um CEO é um autocrata. Mas ser considerado benevolente é bom.”

Poucos CEOs conseguem se manter no cargo por dez anos, ainda mais em um mercado dinâmico como o de telecomunicações. É o que fez o italiano Vittorio Colao, que deixou em setembro a Vodafone. No período, transformou a empresa, que havia crescido numa longa temporada de fusões e aquisições, em uma única companhia coerente e de alcance global. Colao deu uma longa entrevista à McKinsey Quarterly. Separamos alguns trechos.

A geleira Trift é um destino popular na Suíça. Aqueles que conseguem passar pela estreita ponte de cabos e tábuas com mais de 150 metros de comprimento a 90 metros do chão são recompensados com vistas espetaculares. Mas a geleira em si dificilmente é vista — recuou rapidamente neste século, deixando um lago para trás. É uma vítima das mudanças climáticas. Mas também uma oportunidade de geração de energia. Pois é. Chuva e neve derretida são muitas vezes as principais fontes de água para a energia hidrelétrica, mas na Suíça e em muitos outros países o derretimento do gelo das geleiras é um importante contribuinte. Por enquanto, o derretimento acelerado em muitas regiões glaciais, incluindo os Alpes, está aumentando os fluxos de água e enchendo reservatórios mais rapidamente, levando a uma maior geração de eletricidade. Mas apenas por enquanto. Futuramente, o gelo recuará tanto que os fluxos de água diminuirão e a produção de energia também. Henry Fountain, repórter de clima do New York Times, e Ben C. Solomon, repórter multimídia do jornal, viajaram para os Alpes para entender. E explicam tudo isso em um especial multimídia.

Um singelo teste: Qual cabecinha de Lego representa o que você está sentindo agora?

O drama de pai e filho dos Vargas

Dramas entre pais e filhos não são novos na Presidência. Mas há um em particular que, embora conhecido, raramente é contado pelo profundo trauma que causou e cuja dor ainda persiste assombrando uma família. É aquele entre Getúlio e seu filho Manoel Antônio, o Maneco. Uma história que serve de marco inaugural para escândalos de corrupção e tráfico de influência envolvendo o mais alto cargo da República. História que pode ser contada, porém, de um pouco antes, tendo início aos quarenta minutos da madrugada do dia 5 de agosto, em 1954.

Carlos Lacerda tinha 40 anos de idade. Jornalista com passagem pelo Partido Comunista, mas que, depois de expulso, fizera uma lenta transição para a direita, estava em campanha para deputado federal. Venceria por certo — era diretor da Tribuna da Imprensa, tinha programa na Rádio Globo, e falava com frequência na recém-nascida TV Tupi. Tinha verve, Lacerda, capaz de discursos contundentes e inflamados, sempre tendo por alvo o presidente Getúlio Vargas. E, porque ameaças de morte não lhe faltavam, um grupo de jovens oficiais da Aeronáutica vinham se revezando, voluntários de sua segurança. Naquela noite o turno daquele último comício coubera ao major Rubens Tolentino Vaz.

Vaz estacionou em frente ao prédio do jornalista, o número 180 da rua Tonelero, em Copacabana, e o viu saltar junto a seu filho Sérgio, um adolescente de 15. Cansado, Lacerda buscou no bolso as chaves do portão, que não encontrou. Disse então a Sérgio que fosse à lateral chamar pela outra entrada o garagista. Distraído, conversando com o major, Lacerda percebeu então dois homens parados o observando, um em cada esquina em frente. Aí eles se deslocaram ao mesmo tempo, um já levando a mão para dentro do paletó. A essa altura, Sérgio acabara de entrar. Lacerda, que andava armado, buscou o revólver, gritou para o filho que subisse. Aí vieram os tiros. Um, dois, três. Assustado, o futuro deputado atrapalhou-se com a arma e o filho, ao invés de subir, abraçou-se ao pai apavorado, tentando trazê-lo para dentro. Lacerda atirou uma vez, daí uma segunda. Na confusão, quando os dois vultos já fugiam, percebeu que havia sido atingido no pé e que o major Rubens Vaz estava caído no chão, sangrando. Não chegaria vivo ao Hospital Miguel Couto.

O responsável pelo atentado foi Gregório Fortunato, havia anos chefe de segurança de Getúlio. Tudo indica que o fizera por iniciativa própria. A crise política que já vinha dominando o governo, um bocado por conta do mau estado da economia, de repente virou tsunami. E a tentativa de matar o mais vocal desafeto do presidente fez levantar a suspeita de que o próprio Getúlio estaria por trás do crime. Mas quando uma investigação foi instaurada para mergulhar na vida de Gregório, em poucos dias se percebeu que ele vinha enriquecendo. Era uma fortuna modesta, mas real. Já tinha três lojas no Rio, capital federal, todas municiadas com produtos contrabandeados do exterior, e que entravam no Brasil sem alfândega pela influência do homem que protegia o presidente.

Descobriu-se também que Gregório havia comprado uma fazenda de Getúlio. Uma fazenda tão cara que nenhuma mágica, mesmo com as três lojas e seu salário, poderia justifica-la. E o recibo de venda, redigido a mão em papel timbrado da Presidência, trazia lá a assinatura Manoel Antônio Vargas.

“Isso não pode ser verdade”, disse Getúlio de acordo com Lira Neto, um de seus biógrafos (Amazon). “Isso não tem cabimento. Esse documento é falso.”

Maneco estava em lua de mel na França, o presidente seu pai mandou chama-lo. Quando apareceu à porta, vários dias depois, Getúlio sequer o cumprimentou. “Você vendeu a fazenda?” mandou de bate-pronto. O filho disse que sim. O presidente fechou a cara e nada mais falou, lembraria anos depois Tancredo Neves, que testemunhou a conversa.

Não só havia vendido como, por não ter dinheiro para pagar de pronto, Gregório ainda fizera um empréstimo de banco público. Como não tinha como justificar renda, tomou por avalista João Goulart, o ministro do Trabalho, herdeiro político do presidente. Maneco, amigo de Jango, providenciara todo o esquema para poder botar a mão no dinheiro que precisava com urgência.

Eram dívidas de jogo, uma adicção que carregaria toda a vida.

“Descobri que há um mar de lama embaixo do Catete”, comentou um Getúlio mergulhando na depressão com um dos poucos amigos dos tempos de ainda antes do poder, Oswaldo Aranha.

Assim foi que a expressão ‘mar de lama’ entrou para o vernáculo político brasileiro para tratar de corrupção e tráfico de influência no governo. Naquele caso, Getúlio Vargas entrou numa depressão da qual não sairia mais. Mas não deixou de dar a Maneco uma última missão. Na noite de 22 de agosto, o filho bateu à porta do jornalista Samuel Wainer, editor da Última Hora. “O patrão quer que tu publiques na edição de amanhã a seguinte manchete. ‘Só sairei morto do Catete’.” Segundo outro biógrafo de Vargas, Hélio Silva (Amazon), Wainer ouviu alarmado. Aquilo poderia arrefecer ainda mais os ânimos. “A publicação desta frase poderá ser a senha para o início da reação popular que todos esperamos”, explicou-lhe Maneco.

No dia 23, com esta manchete saiu a Última Hora. Não veio qualquer reação popular. Se Maneco, com aquele escândalo, empurrara o pai de vez para a depressão, o pai fez dele o mensageiro que, sem saber, comunicaria ao mundo de seus planos.

Às 5h do dia 24, quando não havia clareado ainda, o tiro no peito do presidente da República foi ouvido nos corredores do Catete. Tinha 72 anos.

Manoel Antônio Vargas foi prefeito de Porto Alegre entre 1958 e 60, período curto, e depois se meteu em uma das fazendas da família onde lá ficou para o resto da vida. Velho, era a cara do pai. Deixou uma carta dizendo se considerar um peso para a família quando cometeu suicídio, em 15 de janeiro de 1997. Tinha 80 anos.

Getúlio Vargas Neto, filho de Maneco, cometeu suicídio em 2017. Também sofria de depressão. Também era a cara do avô. Tinha 61 anos.

Vídeo: Um discurso de Getúlio Vargas.

Vídeo: O jornalista gaúcho Olides Canton fala sobre o Maneco Vargas que conheceu velho e o trauma que o marcara naquela noite em agosto.

O repórter Luís Antônio Giron escreveu, brevemente, sobre bipolaridade e a marca do suicídio na família Vargas.

Diretor de Redação da Folha morto no último ano, Otávio Frias Filho assinou, na Piauíum perfil de Carlos Lacerda.

Vídeo: Bastião da direita inteligente americana, William Buckley entrevistou Carlos Lacerda nos anos 1970, quando de defensor do Golpe de 1964 ele já havia migrado para a oposição. As perguntas são traiçoeiras.

Aliás… O prédio do Atentado da Tonelero ainda existe, com a mesma fachada. Veja no Google Street View.

Essa semana, os mais clicados foram:

1. Globo: Leopardo negro africano é fotografado pela primeira vez em mais de um século

2. EL País: O voto de Celso de Mello no julgamento sobre criminalização da LGBTfobia em cinco frases

3. Folha: Donata Meirelles pede demissão da Vogue

4. Yahoo: Evangélicos associam morte de Boechat à crítica a Malafaia

5. Youtube: Gordon Banks faz a maior defesa de todos os tempos

Fonte: @Meio

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