29 Jun 2019

Reconhecimento facial em pauta

Está na pauta do Congresso americano um dos debates mais importantes e pouco explorados da tecnologia: como regular reconhecimento facial. Como tudo no digital, é difícil criar regras para algo novo quando não é possível prever o que ocorrerá no uso diário.

Todos já temos alguma experiência com esta tecnologia. Os novos iPhones que destravam pelo rosto do usuário ou os sistemas de gerenciamento de fotos que identificam as pessoas da família e os amigos, por exemplo. Reconhecimento ao vivo é mais difícil, mas está muito próximo e já há experiências.

As vantagens são nítidas. Pegue as fotos de alguém desaparecido, jogue-as no sistema, e espere que as câmeras de seguranças nas cidades, estações de ônibus e trens, assim como aeroportos busquem quem se procura na multidão. Ou, em eventos com grandes multidões, é útil poder ter certeza de que não há um terrorista já presente no banco de suspeitos por ali.

Tampouco é difícil imaginar cenários ruins.

Uma ditadura pode usar as imagens de protestos públicos para identificar cada um dos presentes. Um marido ciumento com acesso ao sistema poderia seguir sua mulher pela cidade. Um policial com câmera em seu corpo pode chegar ao local de um crime e talvez prender um inocente, se o sistema informa-lo dos antecedentes criminais dos presentes. Será muito mais difícil deixar erros passados para trás.

E há outra natureza de erros que podem ocorrer.

Reconhecimento do rosto é baseado em aprendizado de máquina, uma forma de inteligência artificial. Empresas como Amazon, Microsoft ou Google utilizam grandes bancos de dados com muitas fotos para ir ensinando o software a distinguir um humano do outro. Aliás, os próprios aplicativos de gerência de fotografias já foram isso mesmo: bancos que todos entregamos voluntariamente para que fossem classificados, treinando a inteligência na máquina das gigantes do Vale.

Só que há um viés étnico. Porque os bancos utilizados têm muito mais rostos de gente com pele clara do que com pele escura, o software identifica brancos e asiáticos melhor do que negros ou indianos. Ou seja: os sistemas erram. E não é pouco. Jogue o rosto de um criminoso negro e um inocente pode terminar preso por erro do computador.

E, mesmo no caso de desaparecidos, há pessoas que podem legitimamente querer deixar suas vidas para trás. Para que não sejam encontradas. Seria um direito cassado.

Governos e grandes corporações que tenham, nas mãos, o poder de saber onde cada pessoa está em cada momento é um convite ao Grande Irmão. Só que a tecnologia existe e já começa a ser experimentada, sem que regras tenham sido estabelecidas. E, claro, parlamentares envolvidos no debate as compreendem muito mal.

Um dos problemas que dificultam o bitcoin se estabelecer como moeda transacional é a altíssima volatilidade de sua cotação. Depois de ter atingido um pico de mais de US$ 17 mil em dezembro de 2017, se desvalorizou para menos de US$ 3,5 mil, no ano passado. Foi a US$ 9 mil em meados de junho, quando o Facebook anunciou que pretende lançar sua própria criptomoeda, Libra. No começo desta semana atingiu US$ 14 mil, até descer para US$ 11 mil. A volatilidade impede que bitcoin seja usada como meio de pagamento. Afinal, como um vendedor vai definir o preço de um produto ou serviço em uma moeda que amanhã pode valer muito mais, ou muito menos? É por conta disso que o Facebook decidiu criar a Libra como uma stablecoin, cuja cotação vai estar lastreada em uma reserva monetária. Em outras moedas. A Atlantic dessa semana entra na discussão.

“Bitcoin foi promovida como uma moeda descentralizada. Nenhuma empresa, governo, ou qualquer tipo de organização a gerencia. Seu protocolo garante que uma certa quantidade de bitcoins vai ser produzida em um determinado intervalo de tempo. Em teoria, isso deveria garantir que o valor da bitcoin se mantivesse razoavelmente estável por conta do mecanismo de mineração. Como no mercado de ouro, quando os preços do metal sobem, os mineradores cavam mais profundamente em suas minas, aumentando a produção de ouro, que faz com que o preço caia, fazendo como que os mineradores diminuam suas atividades, levando os preços novamente a aumentarem. O protocolo da bitcoin criou uma versão digital desse processo, com uma importante diferença: bitcoins podem ser facilmente transferidas pela rede, diferente de barras de ouro. Isso faria com que bitcoins pudessem ser usadas como moeda por pessoas que não confiam na forma como governos gerenciam seu próprio dinheiro. Pessoas poderiam guardar seu dinheiro sem o temor de que um governo poderia se endividar de forma excessiva e decidir deixar a inflação reduzir sua dívida. Para libertários, filosoficamente contra o controle do dinheiro pelo governo, a bitcoin prometia uma solução tecnológica para esse efetivo monopólio estatal. Com a bitcoin vieram empresas intermediárias, que ofereciam carteiras para armazenar bitcoins, e outras, mineradoras, responsáveis por gerenciar as transações. Estas últimas se tornaram verdadeiras oligarquias que dominam o mundo bitcoin. Quando o protocolo precisa de alguma alteração, os oligarcas tomam todas as decisões e lucram com o resultado.

“O Facebook sabe que uma Libra controlada pelo Facebook não seria confiável. Por isso, deixou essa função para a Libra Association, sediada na Suíça. Essa organização deveria prevenir que uma oligarquia aos moldes da que controla a bitcoin emergisse para controlar a Libra. Mas não é claro que na prática a própria associação não vá se tornar ela própria uma oligarquia. As principais decisões políticas poderão ser tomadas por dois terços dos votos, cuja maioria dos membros são indicados por grandes empresas como Facebook, Paypal, Uber, Visa, Mastercard, Vodafone e uma série de grandes fundos de investimento de risco. Pessoas normais, que compram Libras para usar, não possuem voto. Os ativos da reserva monetária da Libra vão consistir de moedas e títulos de dívida de governos. Moedas não pagam juros, e títulos de governos pagam juros baixos. Mas se os membros da Libra Association quiserem aumentar o retorno de seus investimentos, podem mudar as regras de composição da reserva, e trocar parte deles por títulos que paguem juros mais altos porém com maior risco. Com uma diversificação apropriada é possível gerenciar um portfólio desses de forma razoavelmente segura. É assim que bancos operam, e eles fazem muito dinheiro, principalmente se forem grandes. E a Libra vai ser grande. Com 2,4 bilhões de usuários e o poder de fogo de seu algoritmo, as reservas de Libra vão crescer de forma acelerada. Moedas, assim como ferramentas de comunicação, possuem um fortíssimo efeito de rede, tornando-se mais valiosas quanto mais gente as usa.

“Na medida que a reserva de Libra se torne grande o suficiente, suas políticas vão começar a ter efeitos macroeconômicos ao redor do mundo. A escolha de comprar títulos de um governo em detrimento dos de outro gera consequências para os países. Se comprar ativos de risco, Libra pode afetar a base monetária global, como se fosse um banco central. O Facebook promete que a Libra Association não vai ter uma política monetária própria, mas sim herdar a política monetária dos países representados na cesta de moedas e títulos de sua reserva. Mas decidir não desenvolver uma política monetária própria hoje não significa que não vão desenvolver uma no futuro. Os documentos de fundação da Libra Association estão cheios de frases bonitas mas não apresentam muitos detalhes. A verdade é que, no futuro provável, a associação vai ganhar muito poder e o público em geral não terá nenhum controle sobre a moeda.”

Mas o Facebook não é o único a tentar ocupar esse espaço. Stephen Moore é um dos principais comentaristas econômicos da direita americana. No começo do ano, o presidente americano Donald Trump tentou indicá-lo para uma diretoria do Fed, banco central americano, mas foi forçado a desistir após surgirem uma série de acusações de misoginia nos últimos 25 anos. Moore se juntou, então, a um grupo de empreendedores para lançar uma outra stablecoinchamada Decentral. A principal diferença para a Libra é que em vez de ser lastreada em uma cesta de moedas, a Decentral vai ser lastreada apenas em dólares. Moore deu uma entrevista a Dan Primack no podcast Pro Rata, do Axios.

“O mercado de câmbio hoje é excessivamente dominado por governos, que por natureza são lentos e ineficientes. Por conta dessas ineficiências e pela falta de estabilidade dos governos, as moedas não se adaptaram ainda à era digital. Existe uma clara oportunidade para a iniciativa privada e é exatamente aí que entra o Decentral. Somos um banco decentralizado, o exato oposto de um banco central como o Fed. E nosso modelo é completamente diferente da bitcoin, um porque o lastro numa moeda retém seu valor. Essas moedas alternativas que flutuam demais acabam servindo apenas para especular. Vamos amarrar o valor da nossa moeda ao dólar. Acreditamos realmente que temos chance de crescer, e que poderemos ser mais eficientes do que a Libra, que é amarrada a uma cesta de moedas. Não sei porque eles não decidiram amarrar ela ao dólar, que é muito mais estável do que todas essas outras moedas. É nossa principal vantagem frente a nossos concorrentes.”

O IMPACTO DA POLÍTICA AMBIENTAL NA IMAGEM DO BRASIL

A política ambiental brasileira se desenvolveu de forma tardia quando comparada às demais políticas setoriais, e basicamente em resposta às exigências do movimento internacional ambientalista. Nos anos 1970, a visão do governo era de que a proteção ambiental não deveria sacrificar o desenvolvimento econômico do país. Foi só com o presidente José Sarney que uma redefinição começou, quando se iniciou a reestruturação dos órgãos públicos da área. No cenário internacional, também nesta década de 1980, a Convenção de Viena impôs uma nova ótica sobre o Meio Ambiente, preventiva.

Curiosidade: o país que primeiro percebeu a necessidade de uma política ambiental foram os Estados Unidos, ainda na década de 1960.

No exterior, assuntos relacionados a política ambiental do Brasil estão entre os que mais chamam a atenção. Recentemente, conta Miriam Leitão, investidores de um país europeu procuraram uma autoridade brasileira da área econômica. “A primeira pergunta não foi sobre a questão fiscal, mas sim sobre o meio ambiente. Queriam saber que garantias de respeito o Brasil daria às leis ambientais. Disseram que olham com extremo cuidado esse assunto, tanto que nunca investiram na Vale porque não sentiam confiança na governança da empresa nessa área e, hoje, sabem que acertaram. Contaram que os investidores de seus países querem saber exatamente que tipo de prática suas aplicações estão estimulando.” Nessa perspectiva ambiental, selecionamos alguns exemplos recentes.

Em setembro de 2017, o então presidente Michel Temer tentou abrir a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), na Floresta Amazônica, para a exploração das mineradoras. A reação de ambientalistas e da comunidade internacional foi tão grande que ele precisou voltar atrás e o governo revogou o decreto. Nas redes sociais, nomes como Gisele Bündchen, Mark Ruffalo e Leonardo DiCaprio também impulsionaram o movimento. A popularidade do ex-presidente Michel Temer, vale registrar, despencava. (Não só por isto.)

Na Cop 23, também em 2017, duas faces da agenda ambiental no Brasil foram exibidas. De um lado estava a redução no desmatamento da Amazônia em 16%, entre agosto de 2016 e julho de 2017, reforçada continuamente por representantes do governo federal como um exemplo do comprometimento do país com acordos internacionais. Do outro lado estavam o recrudescimento da violência no campo, as tentativas do Congresso em reduzir e enfraquecer a legislação de proteção ambiental, e a demarcação de terras indígenas no Brasil, todas apontadas por ambientalistas como uma ameaça às metas nacionais de redução de emissões. Mas o Brasil escapou da lupa internacional. Naquela conferência, os Estados Unidos, abandonaram o Acordo do Clima, e a imagem do Brasil terminou pouco abalada. O país não influenciou o debate internacional, mas ao menos melhorou seu discurso e, somado ao anúncio do então ministro Sarney Filho de que o desejava sediar a Conferência em 2019, havia um aceno positivo.

A Cop 25 não aconteceu aqui por desistência do então presidente eleito, Jair Bolsonaro.

Em novembro de 2018, o Guardian avaliou a nomeação de Ernesto Araújo para o Itamaraty, recuperando textos em que o atual ministro afirmava que as teorias sobre mudanças climáticas fazem parte de uma trama para sufocar as economias ocidentais e promover o crescimento da China. Seus escritos foram vistos como radicais, uma ameaça para o planeta ao negar a mudança do clima.

Pelas suas próprias características, e tanto o fato de abrigar a maior floresta como a maior biodiversidade do mundo, faz com que todos se preocupem com a política ambiental brasileira. É, inevitavelmente, o principal cartão de visitas do país. É como se apresenta o Brasil. O atual governo percebe como ameaça à soberania esta atenção e traz, de volta, a visão da década de 1970. A diferença é que o mundo é outro. Impactos comerciais serão inevitáveis.

FOI UMA SEMANA EM QUE FOTOS FIZERAM SUCESSO ENTRE OS MAIS CLICADOS POR NOSSOS LEITORES:

1. El País: Em um dia quente e ensolarado, um gorila reflete na sombra de um jardim zoológico de Praga, na República Checa.

2. Atlantic: Galeria de fotos ótimas e aleatórias selecionadas por Alan Taylor, editor da revista.

3. El País: Não seja cínico; o cinismo é causa e ao mesmo tempo efeito da saúde frágil.

4. Moma: Os produtos desenhados por Jonathan Ive que o MoMA, selecionou como obras de arte para seu acervo.

5. O Globo: Do juiz Marcelo Bretas para alguém de internet: “Não inveje. Malhe.”

Fonte: @Meio

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