INFÂNCIA

Chove,
Busco em minhas reminiscências,
Recordações da infância.
(prostrado em minha cama de pinho, que já se faz
antiga)
Quando criança eu costumava correr pelos campos,
à procura da paz perdida em minha casa,
ou na rua de uma cidade qualquer.
E galgava os degraus da liberdade,
e meu coração simples ainda deificava
a pura deípara.
Um rolar pelas relvas de cabelos soltos,
depois de ter me aconchegado até o topo
(da montanha
a chuva, o vento, o sol, a terra comungava comigo mostrando-me ser apenas um
(um espécime ingênito
em minha progenitura telúrica.
Tudo me bastava.
Eu me sentia feliz, como o riacho que corre sem
(saber quando findar.
A chuva, o vento, o sol, a terra me bastavam.
Eram a liberdade.
Eu me sentia feliz, como o poente que finda para
(anunciar a chegada
da escuridão da noite e o esplendor de suas estrelas.
Agora não sinto mais a liberdade.
Não percebo a pureza das coisas mais simples.
Não bebo mais a solidão das noites.
Não respiro o ar puro dos currais da roça.
Não tomo banho no orvalho da madrugada.
O tudo, agora, já não me basta.

Junho de 1975, do livro “O POETA MODERNO”, por Bosco Martins

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *