Oferenda

O poema que oferto
tem perfume cor vermelha
refletindo no espelho

Bem sabes deste sangue
que é o ranger dos
dentes de rebeldia
voluntário brigadista
que te fez mel e abelha

O poema que ofereço
é porque te sei branco
límpido e translúcido
poeta e criança
e quero contigo lembrar
os teus desejos e sonhos

De esconde-esconde
na esquina de teu labirinto
ou de cirandinha no pântano
de sua solidão

Guerreiro que escreveu o verso
armado e imortal
como quem brincava
nas tardes de begônias
no mais alto
não do planalto central
mas nas guerrilhas dos Maquis
ou nos campos de Marsella

Aqui ou lá fora
lutavas por um povo
que mora em praça pública
e não exigia e não reclamava
se o ditador
lhe importunava o sono

É deste povo que não
toca corneta
mais toca tamborim
e já matou um gato
pra usar a pele
pra comer a carne
pra matar a fome
que querias unido
para nunca ser vencido

Bem sabias da montanha
de agruras do chão de teu País
das torturas, perseguições
nas esquinas de indigentes
que por muito se escondeu
por trás de um vento
de tempo muito sombrio

Mas te compreendemos amado
homem e sonhador
guerrilheiro e marciano
que lutou em prosa e verso
para que desfrutássemos
da liberdade
que veio próspera
nessas manhãs de sol
de brilhar menos infecundo

Assim sonhas
com tua amada Renee
catando conchinhas numa areia
de praia em Botafogo
ou outra qualquer
de nome já antigo ou liberdade
e esperança mesmo que tardia

Agora tua amada te leva nos sonhos
e inventa um cheiro
que pode ser salamandra
e te oferece um poema
um brinquedo uma arma.

Por Bosco Martins, a Apolônio de Carvalho

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