Blasfemo contra as estruturas feudais
Que regem esta cidade,
Que já não mais existe.
Blasfemo contra os comensais políticos
Que cospem de suas pimelodidas bocas,
Somente asneiras, e nada mais,
E ficam embelecando, ambaindo os pobres
(hipócritas
Que se vendem por uma garrafa de pinga.
Blasfemo contra as filhinhas de papai
Cheias de “ais”,
Que só por que comem:
Lagostas, peru à Califórnia, strogonoff,
(coelho ao molho rosé,
Se acham demais
Mas se esquecem que ao digeri-la,
O processo é o mesmo da ralé
E por se tratar de alimento mais proteico
Talvez tenha odor mais acentuado,
Quando da excreção.
Blasfemo contra a mediocridade do diretor do clube,
Onde o feudalismo impera.
Seu tempo já passou!
Acorda, Rei Arthur contemporâneo!
Blasfemo contra o cético materialista
Que se vende a troco de nada.
Verdadeira vitamina da massificação!
Blasfemo contra os que têm ojeriza dos jovens,
Que por terem o ornato craniano crescido são
(marginalizados,
Mas se esquecem que por debaixo desses fios
(capilares,
(Que não são artificiais)
Existem pensamentos poluídos de paz e amor.
Blasfemo contra as nasas dessa falsa sociedade,
Que me causam náusea.
Alem da cautela, é claro!
Blasfemo contra esses grupos curralescos e
(esotéricos,
Onde reina uma enorme panela embuída na mais
(pura ignorância.
Não blasfemo contra as prostitutas que vivem (por aí,
(E todos sabem que elas o são)
Pois são frutos da própria sociedade.
Mas blasfemo contra essas mulheres,
Afrodisíacas por sinal,
Que tem seus machos e fazem as escondidas,
E se colocam impunes no direito de julgarem as
(mulheres da vida,
Sendo que são elas as reais prostitutas,
E sem saber julgam-se a si mesmas.
Blasfemo contra esses enigmáticos no
(campo do libido,
Que não atam nem desatam
E às vezes atacam de Abelardo
E às vezes de Heloísa,
Qual gládio sexual.
Blasfemo contra os mercenários estrangeiros,
Que aqui aportam para explorar o ignóbil
(monopólio das religiões,
Aproveitando assim dos menos cautelosos
(e mais crédulos.
Blasfemo e os considero todos abaixo das
(vulgívagas.
E blasfemo também contra mim,
Que só agora resolvi gritar.
Sei que de nada adiantará o meu grito
Pairará por certo no ar…
Mas tenho pelo menos o consolo de ter (gritado.
Março de 1975, do livro “POETA MODERNO”, por Bosco Martins