27 Jul 2019

“Um artista não está em casa na Europa a não ser que esteja em Paris”

Escreveu Friedrich Nietzsche em sua autobiografia de 1888. Para artistas no final do século 19, passar um tempo em Paris era como um ritual de passagem, um carimbo importante no repertório. Era um período de rápida modernização e urbanização na capital francesa, época caracterizada por um senso de prosperidade e otimismo. Uma das principais inovações foi a lâmpada elétrica e sua convivência, por um bom tempo, com o antigo: as lâmpadas a gás (elas permaneceram juntas até 1962). O cenário perfeito para que artistas respondessem estilisticamente, com trabalhos vanguardistas que captaram tanto a nostalgia quanto a ansiedade da modernização durante a Belle Époque. Mais que isso. Uma convivência entre o velho e o novo que transformariam as representações da cidade.

Uma nova e brilhante Torre Eiffel. Moulin Rouge… Foi uma era ‘moderna’ para uma classe média emergente que tinha recursos e tempo. Mas é claro que com a inovação também vem o desconhecido, e artistas pintaram a cidade recém-iluminada com algum ceticismo.

Em meados do século XVII, Luís XIV, o Rei Sol, aumentou a iluminação em toda Paris na tentativa de reduzir a taxa de criminalidade. Esforços em toda a cidade colocaram lanternas nas ruas principais e exigiram que os cidadãos acendessem velas em suas janelas para, literalmente, iluminar possíveis delitos tornando criminosos visíveis à polícia durante a noite. Esta implementação estruturada fez de Paris uma das primeiras capitais europeias a adotar a iluminação pública, o que contribuiu para o seu famoso apelido — a Cidade das Luzes.

Em 1870, Paris ostentava 20.766 postes de iluminação. As próprias lâmpadas, colocadas entre árvores em avenidas bem cuidadas, ao lado de bancos de parque, rapidamente se tornaram ícones parisienses; eles também estrelam inúmeras pinturas e fotografias da cidade. Charles Marville, apontado como fotógrafo oficial da cidade em 1862, teve um interesse particular nas lâmpadas de rua, capturando o que só pode ser descrito como retratos de postes de iluminação em toda Paris. Em seu livro Illuminated Paris 2019: Ensaios sobre arte e iluminação na Belle Époque (Amazon), Hollis Clayson observa as qualidades das fotografias de Marville: “As lâmpadas são como nós para atrair nossa curiosidade, mas distintas para estimular a capacidade individual em cada um.” As lâmpadas têm uma presença dominante nesta série, que Marville começou por volta de 1861, e parece marcar a nova era da iluminação. Nas fotos, os postes de luz se sobrepõem. Cada um adota uma personalidade particular em seu entorno…

Em 1877Gustave Caillebotte pintou Paris Street: Rainy Day (1877). Um dos elementos-chave do trabalho, que retrata um cruzamento parisiense movimentado no meio do dia, é uma lâmpada de rua. Com foco central, a estrutura alta e verde ancora a composição. Em uma resenha do trabalho para a Le Bien Public, um crítico perguntou: “Por que esse poste de rua desagradável, perpendicular à direita, no meio da foto?” No meio do dia, quando a cena da pintura acontece, uma lâmpada não serve para um propósito prático. Caillebotte parecia se perguntar se era apenas outro elemento arquitetônico das modernas ruas parisienses ou uma certa dissonância entre a luz natural do dia e o destaque inútil que divide a tela em duas?

É preciso dizer que a onipresença da iluminação a gás e a agitação em torno do futuro da eletricidade contribuíram para um novo tipo de vida social para os parisienses. “Nocturnalization”, termo cunhado em 2011 pelo historiador norte-americano Craig Koslofsky, se refere à “expansão da atividade social e econômica na noite e na subsequente difusão da iluminação.

1880. Édouard Manet, Edgar Degas, Henri de Toulouse-Lautrec e Pablo Picasso são apenas alguns artistas que procuraram inspiração nas luzes de Paris. Em Moulin Rouge, de Toulouse-Lautrec, Jane Avril — a célebre dançarina de cancan — fica de costas para o espectador. Seus cabelos ruivos brilhando. Uma artista popular chamada La Goulue, conhecida por beber drinks dos clientes, verifica o visual no espelho. A tela é dominada pelo rosto cortado de um dançarino: May Milton. “Eu pinto as coisas como elas são. Não comento”, disse Toulouse-Lautrec. No brilho áspero das luzes artificiais, o rosto de Milton é de um tom verde profundo e chocante. É considerada uma das representações artísticas de como a iluminação elétrica mudou a cor, a profundidade e a textura da cena de Paris.

Por falar em energia… uma organização baseada no Reino Unido e uma agência digital de design criaram uma série de cartazes estilo vintage. Um esforço para aumentar a conscientização sobre os perigos domésticos nas cozinhas. O projeto assume uma estética antiquada, remontando ao início do século 20, quando conselhos sobre etiqueta eram comuns.

Jennifer Lopez completou 50 anos na quarta-feira (24 de julho) e seu noivo e ex-jogador da MLB, Alex Rodriguez, postou um vídeo de quase dois minutos em sua homenagem.

GUIA DE SEGURANÇA DIGITAL

Você já foi vítima de um ciberataque. Talvez não saiba, mas já foi. E pelo menos uma de suas senhas, provavelmente bem mais do que uma, já é publicamente conhecida. Vá agora ao Firefox Monitor, o site da Fundação Mozilla dedicado ao tema. Digite seu email e mande ver. É seguro e muito útil. Lá está a lista de todos os sites que foram atacados, de lá incontáveis senhas roubadas. Acontece diariamente. São senhas que circulam de mão em mão na parte obscura da web. Criminosos sabem que a maioria de nós não troca senhas toda hora, e que repetimos em dezenas de serviços a mesma senha. Contam com isso.

Foram hackers de meia tigela os que tomaram de assalto os Telegrams da República. Mas as autoridades envolvidas não precisariam de especialistas da NSA para terem se protegido. Algumas medidas simples — mesmo que chatinhas — teriam os protegido, assim como podem proteger qualquer um.

As únicas coisas que não destacaremos: tenha um antivírus no computador, não baixe ao celular apps obscuros, e permita que os softwares sejam sempre atualizados, automaticamente. Este é o beabá.

E o primeiro passo desta segurança não é rever as senhas. É conhecer um conceito: o de engenharia social. Trata-se da forma mais popular de ataque.

Engenharia social

Um dos hackers mais famosos de todos os tempos, Kevin Mitnick, não era um escovador de bits daqueles que, mergulhado em linhas de código, conseguia invadir qualquer computador. Seu talento era outro: convencer as pessoas a lhe darem suas senhas. É a isto, essa manipulação da boa fé alheia, que chamamos de engenharia social. Os criminosos contam com a ingenuidade digital das pessoas para aplicar seus golpes.

Uma das formas mais populares de engenharia social é o que chamamos ‘phishing’ — uma brincadeira com o termo em inglês para pescaria.

Phishing é a prática de enviar mensagens que tentam fazer a vítima clicar em um link acreditando ser de uma fonte confiável e se aproveitar para roubar dados ou instalar algum software malicioso. A maioria destas mensagens são facilmente identificáveis por toscas. Mas algumas são bem muito benfeitas. Quando o email chega, importante é prestar atenção aos detalhes. O link escrito no corpo do texto é o mesmo que está na barra de endereço de seu browser? O endereço é o mesmo daquele site. Às vezes são parecidos. A loja famosa, o banco badalado, mas seu endereço termina com sigla diferente ou desconhecida — .ga, .tk. Phishing não chega só por email, pode vir por WhatsApp, SMS, em redes sociais ou até mesmo em alguns anúncios que parecem inocentes.

No fundo, a regra é: desconfie. Grandes instituições não enviam email, não mandam mensagem, não dão telefone pedindo senha, número de documento, nada. Quem pensa duas vezes antes de digitar login, senha, data de nascimento, número de documento, ou cartão de crédito, nunca erra.

Proteger o celular é também importante. Tenha certeza de que ele está configurado para bloquear a tela automaticamente. Nunca o deixe desbloqueado solto em algum lugar. Da mesma forma, nunca deixe seu computador desbloqueado ao se afastar, mesmo que para um café.

O cuidado com as senhas

Senhas seguras não são palavras. São sequências aleatórias e longas de letras, algarismos e pontos. Senhas seguras nunca são repetidas. Cada serviço tem a sua. Exclusiva. E, evidentemente, não há santo no mundo capaz de decorar tudo isso. Portanto existe um tipo de app que deveria ser muito mais popular do que é: o gerenciador de senhas. Os mais populares, de acordo com a Cnet, são: Keeper1Password e Blur. Qualquer um deles é uma boa escolha.

Um bom gerenciador de senhas está sempre à disposição. Paga-se por ele uma anuidade — em geral algo entre US$ 30 e US$ 40 — e o aplicativo roda em Windows ou Mac, em iPhones ou Android.

Em essência, faz apenas duas coisas. Sugere senhas seguras e serve como bando de dados com todas as senhas para os serviços que você tem. Daquelas de uso recorrente, como o email, ou daquelas de uso eventual — o login do site da companhia de aviação. Não importa se no celular ou no navegador de internet, entrou uma caixa de login e a janela do gerenciador de senhas salta: quer preencher? Clique sim e ele preenche.

A utilidade é evidente. O usuário só precisa conhecer uma senha, a do gerenciador, que também pode ser ativado pela digital ou pelo reconhecimento do rosto, dependendo das ofertas de cada smartphone. O resto está sempre lá, à mão.

É excesso de zelo? Não, não é. E quem já tiver checado quais de suas senhas já estão circulando faz anos pelas mãos do submundo digital logo entende o porquê.

É chato? Só no início. Depois que o hábito é criado, só o alívio de nunca mais esquecer uma senha já compensa.

Último alerta: Uma forma muito usada para ganhar acesso à conta de alguém é através dos sistemas de recuperação de senha, em geral associados ao seu email ou telefone. É sempre importante garantir que email e telefone estejam seguros. Nunca confie em serviços que permitam recuperar senha apenas com um SMS ou correio de voz. (Foi justamente por aí que o hacker de Araraquara invadiu o Telegram de tantas autoridades.)

Autenticação em duas etapas

O procurador Deltan Dallangol não teria perdido todo seu Telegram se tivesse atualizado o recurso de autenticação por dois fatores no aplicativo. Na sigla em inglês, 2FA. Hoje, a maioria dos serviços oferece algo assim. O email, as redes sociais, os sistemas de mensagens. Se parece sofisticado, não é. Você já usa um sistema assim no cotidiano. É o token do banco. Sempre que, para fazer uma transferência, além da senha você digita aquele código de seis números que o chaveirinho pede, está utilizando a autenticação em dois fatores.

Ou seja: são necessárias duas camadas para acesso. A senha e um código que só você tem.

Existem algumas maneiras de produzir este código. Em alguns casos, a autenticação pode vir por SMS. Digitou a senha, o sistema manda para o celular o número. Em outros, é pedida a instalação de um aplicativo para este fim. Digita a senha, abre o app, ele gera o número como o chaveiro do banco, pronto. (Quando há opção, o app é mais seguro do que o SMS.)

É chato. Afinal, o trabalho aumenta. Senhas complexas hoje já são o básico. Duas etapas para autenticar é o luxo. A recomendação é: use para o que for delicado. Se alguém acessar seu Facebook, haverá ali algo que o constranja? Se sim, habilite. Se não, uma boa senha resolve.

Mas… Por onde começar?

É natural se sentir um pouco atordoado na hora de começar a colocar travas para melhorar a segurança digital. Um pouco de método ajuda. Depois de escolhidos e instalados sistemas de gerenciamento de senha e autenticação em duas etapas, nossa sugestão é cuidar primeiro dos serviços na rede que você usa para se autenticar. Aqueles que usa para login noutros cantos: Google, Facebook e Twitter. Por isso são os três primeiros em que se deve implementar senhas seguras e ligar opções de segurança de 2FA.

É boa prática de segurança logar com Google, Facebook ou Twitter em outros sites. O protocolo de autenticação usado por esse processo é seguro e você evita deixar uma senha que usará pouco e pode não ter estrutura suficiente para proteger. Por outro lado, sempre que for usar esse tipo de login, preste atenção nos dados que o site está solicitando. Sempre aparecem listados na janela de login. Desconfie de quem pede dados que não fazem sentido para o serviço em questão. Uma loja não precisa saber sua localização física.

Resolvidos estes, é hora de olhar os outros muitos cantos onde você criou cadastros no passado. Melhor preparar uma lista. Comece pelos sistemas usados no trabalho, daí pule para os principais sites de comércio eletrônico — Amazon, Submarino, Americanas, companhias aéreas — e outros apps que tenham seus dados de pagamento — Uber, App Store e Google Play, Paypal e Pagseguro. Serviços de assinatura digital como Netflix, Spotify e jornais.

Não é um processo simples e rápido, mas o importante é começar. Dá para reconfigurar os serviços principais logo e deixar os secundários à medida que for logando em cada um nos próximos dias, semanas e meses.

E o principal: novos cadastros, sempre seguindo o novo comportamento.

Pois é

O básico da segurança digital é assim simples.

Começa por criar aquela casca de desconfiança que todos temos na vida fora do digital. Ninguém cai no conto do vigário quando um vigarista aparece. O mundo virtual é igual ao real. Quem dribla os estelionatários digitais já resolve dois terços dos seus problemas. Softwares atualizados, antivírus novo, senhas seguras e, nos casos delicados, autenticação em duas etapas, mata as necessidades de quase todo usuário doméstico.

Parece o óbvio. Tem gente em Brasília que não sabe.

E NESTA SEMANA TUMULTUADA, OS MAIS CLICADOS FORAM:

1. Twitter: O perfil do hacker de Araraquara, que voltou à plataforma dias antes da primeira publicação do Intercept.

2. Instagram: Uma receita de um bowl de salmão.

3. Telegraph: Um cão anti-explosivos ferido, em um desfile militar na Colômbia.

4. Reuters: Quando animais interrompem o esporte.

5. NatGeo: Nos seus primórdios, a Via Láctea engoliu uma galáxia menor.

Fonte: @Meio

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